Alfredo J. Gonçalves *
"Mais de 4.000 imigrantes foram resgatados nas últimas 24 horas no canal da Sicília, que separa o norte da África do sul da Itália. Entre eles, havia 17 mortos", informou neste sábado (30 de maio) a Guarda Costeira italiana.
Na sexta-feira (29 de maio), a Guarda Costeira comunicou que 3.330 pessoas já tinham sido resgatadas. Durante a noite de ontem, no entanto, ocorreram novas operações de resgate nas quais foram localizadas nove embarcações e 13 lanchas pneumáticas" (texto extraído do site da UOL).
Ainda conforme a mesma Guarda Costeira e fontes do Governo, cerca de outras 3.000 mil pessoas estão a caminho em direção ao sul da Itália, provenientes do norte da Itália, onde deverão desembarcar a partir deste domingo, 31 de maio.
Enquanto isso, depois de uma série de encontros e desencontros, a União Europeia (UE) apresenta quotas de imigrantes para alguns países, como Alemanha, França, Espanha. Outros, como a Inglaterra e a Dinamarca, por exemplo, simplesmente se recusaram recebê-los. Ao todo, 24 mil imigrantes devem deixar o território italiano, e 16 mil o território grego, para serem acolhidos por outros países. Após longos e tediosos debates, "a montanha pariu um rato".
De acordo com o presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (Vaticano), Cardeal Antônio Maria Veggiò, mais do que uma verdadeira e séria "política de imigração", a UE limita-se a dar "uma resposta imediata a um problema de momento", sem um olhar mais abrangente e de caráter estrutural.
Em síntese, nada de um projeto de longo prazo que procure envolver toda a Comunidade Europeia no drama diário daqueles que, às centenas e milhares, buscam socorro no velho continente. Prossegue o êxodo ou diáspora: expulsos, de um lado, pela pobreza, a miséria e a fome; e de outro, pelos conflitos e guerras que assolam vários países da África e do Oriente Médio, os imigrantes batem à porta. A resposta, porém, é magra e pífia, para não dizer nula.
Trata-se não apenas de uma "crise humanitária", como querem e pregam alguns, deslocando o problema para os países de destino, mas de uma "crise sistêmica e estrutural", onde os deslocamentos de massa representam o termômetro de uma falência: terremoto da economia globalizada que, agravando as assimetrias e desequilíbrios socioeconômicos, provoca o tsunami das migrações.
Roma, sábado, 30 de maio de 2015
* Alfredo J. Gonçalves, CS, é Conselheiro Geral e Vigário dos Missionários de São Carlos.
Fonte: Revista Missões