As eleições mexicanas

Elaine Tavares *

O México viveu nessa semana - 7 de junho - as eleições legislativas e para governador em nove estados. Foram dias de muita luta e de completo terror de estado, o que mostrou de maneira clara ao mundo que o governo mexicano está completamente falido diante de seu povo. Centenas de manifestações nas ruas gritaram "não" ao sistema eleitoral, que está completamente desacreditado. A mais forte força de oposição no país, a CNTE (Coordinadora Nacional de Trabajadores de la Educación), travou batalhas heroicas, como bem retrata Pedro Echeverría, na sua coluna no La Jornada. Os educadores buscam orientar e formar a opinião pública, não sobre em quem votar, pois já não há créditos para o legislativo, mas sim sobre a necessidade de uma mudança radical no sistema de governo mexicano. Não é sem razão que são os professores os mais odiados pelo governo Peña Nieto, e os mais massacrados.

Para os mexicanos já não há diferenças entre o PAN e o PRI, principais partidos da ordem. E, entre as 125 candidaturas independentes, poucos tem a confiança das gentes. Por isso foram massivos os protestos, tanto nas ruas como nas urnas, com as cédulas expressando não o voto, mas as frases de indignação. E, nas passeatas e atos públicos não foi pouca a violência do estado contra os que se levantaram em luta contra a farsa que respaldará mais de dois mil novos legisladores e governadores, no geral representantes das forças dominantes que oprimem e aprofundam a miséria da maioria.

O México é um país de 112 milhões de habitantes, dos quais 53,3 milhões estão submetidos a mais dura pobreza e é o terceiro país do mundo em mortes por conflitos armados, só sendo superado pela Síria (que está em guerra civil) e pelo avanço do estado Islâmico no oriente. Só em 2014 foram mais de 15 mil mortes em conflitos. O governo perdeu o controle - ou se aliou - ao narcotráfico e, juntos, são protagonistas de páginas consideradas bárbaras na história do México, como o recente massacre de 43 estudantes de uma escola rural. Esses jovens estão até hoje desaparecidos, bem como mais 22 mil pessoas.

No processo que antecedeu as eleições, a violência recrudesceu. Dezesseis candidatos acabaram mortos, bem como 10 funcionários públicos. Outros desistiram de concorrer, por medo de morrer. Nas ruas, as mobilizações foram fortemente reprimidas e estados como Guerrero e Oaxaca tiveram conflitos graves, com feridos e mortos. Urnas foram queimadas, ataques foram feitos em vários locais de votação. Uma maneira clara de dizer que as eleições são farsescas e que em nada ajudam a mudar a vida do país.

Em Oaxaca, os professores - que estão em greve desde o dia primeiro de junho - realizaram uma marcha gigantesca contra a militarização do estado, contra a reforma na educação e pela aparição com vida dos 43 de Ayotzinapa, buscando dialogar com a população sobre os temas que realmente importam, chamando para o boicote às urnas. Três mil soldados foram disponibilizados para a repressão. Mais de 120 professores acabaram presos.

No estado de Chiapas a movimentação popular também foi grande, muito material eleitoral foi queimado e onze pessoas terminaram presas. Em Tuxtla Gutiérrez, a capital do estado, professores estudantes tomaram as rádios locais chamando à população para o boicote.

Em Tlapa um jovem estudante morreu e outros quatro foram feridos gravemente durante as manifestações de rua. Em Acapulco, 13 pessoas foram mortas pela polícia.

Apesar de o país arder em rebelião e protestos, o presidente Peña Nieto declarou na imprensa que tudo correu dentro da normalidade. O que, de fato, deve ser verdade. Porque, para ele, a normalidade é isso mesmo. Povo na rua protestando e a polícia matando.

O partido do presidente, o PRI, acabou levando a maioria dos votos (30%) embora tenha perdido parte de sua força, mas divide a maioria com o PAN, a direita mexicana. O partido de esquerda, PRD, dividido e fraturado ficou com 11%, perdendo mais de 40 deputados. O Morena, criado por Lopez Obrador (ex-PRD), garantiu alguns nomes importantes e está sendo saudado como uma força, pequena, mas capaz de desequilibrar as coisas no campo institucional. Difícil saber.

Os poucos candidatos independentes - que concorreram pela primeira vez no sistema eleitoral mexicano - apesar do apoio popular, pouco podem fazer dentro do sistema político. Assim que a transformação da realidade mexicana só se dará mesmo a partir da rua. A contagem dos votos e a comemoração dos eleitos não porá fim aos conflitos que se acirram a cada dia no México. E o próprio presidente do Instituo Eleitoral já prognosticou: essas eleições serão as que trarão os maiores conflitos pós-pleito da história do México.

Dos 83 milhões de eleitores, 56% não compareceram aos centros de votação. Dos 44% que acorreram às urnas, mais de 5% anulou o voto. Isso significa que perto de 60% dos mexicanos não acreditam e tampouco aceitam esse jogo eleitoral. Os governantes estarão nos cargos com os olhos bem abertos, porque não há legitimidade. As ruas seguirão ardendo.

* Elaine Tavares é jornalista.

Fonte: Revista Missões

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