Comunicar - Comunicação

Jaime Spengler *

Francisco de Sales é o patrono das comunicações sociais. No dia em que celebramos sua memória, o Papa publica uma mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

O tema escolhido para a mensagem deste ano é: "Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor". Trata-se de um tema de grande relevância para a atualidade. Afinal, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a nos comunicar. É a partir do ambiente familiar que aprendemos a construir contatos com o mundo.

A comunicação é dimensão constitutiva do ser humano; ela é vital ao próprio ser humano, enquanto ser em relação. Essa observação é para nós importante, pois a comunicação não é simplesmente questão de aparelhos, máquinas, técnicas ou tecnologia. A comunicação é essencialmente questão de relações humanas; é encontro interpessoal!

Para demonstrar esse dado fundamental, a mensagem do Papa parte da cena bíblica que descreve a visita de Maria à sua prima Isabel. Destaca a exultação do encontro entre elas, inclusive de João Batista ainda no seio materno.

O encontro entre Maria e Isabel pressupõe acolhida, sorriso, abraço, cordialidade, receptividade, doação, sair de si, abertura, partilha, solidariedade. São atitudes profundamente humanas! São gestos e atitudes que comunicam. Assim, somos recordados de que comunicação tem a ver com proximidade, gestos, palavras, contato, olhares... Comunicamos quando também acolhemos o que está sendo comunicado: "podemos dar porque recebemos". Essa reciprocidade é o "paradigma de toda comunicação".

Comunicação não é simples transmissão de informações. Comunicação é essencialmente proximidade, contato corporal. É o que podemos verificar na relação materna: a mãe, através do cheiro, do contato, do olhar, da ternura, cultiva uma profunda relação com o fruto de suas entranhas. Esse cultivo determina inclusive todo o desenvolvimento psicológico da criança. O futuro da criança é também determinado pela qualidade das relações desenvolvidas no cotidiano entre ela e os pais!

Há também um outro nível de comunicação que acontece, por exemplo, na liturgia. A maior expressão de comunicação na celebração litúrgica é a comunidade reunida em nome do Crucificado-Ressuscitado - "Ele está no meio de nós"! - para celebrar o mistério da redenção humana. A comunidade de fé reunida para a liturgia é também anúncio do reino já presente, no aqui e agora.

Urge redescobrir aspectos fundamentais da comunicação latentes na celebração litúrgica. Não se trata aqui de destacar o que se diz e o quanto se diz, o instrumental usado, mas de resgatar a dimensão do encontro não só entre os membros da assembleia, mas sobretudo e fundamentalmente o encontro da assembleia com seu Senhor. Por isso, os gestos que compõem a ação litúrgica trazem a marca do Crucificado-Ressuscitado. O que vemos, ouvimos, dizemos, cheiramos, tocamos, abraçamos, comemos, o silêncio que fazemos, a intimidade que cultivamos através da prece, os passos dados para e no interior do templo, o retorno para nossos lares, tudo está marcado por dignidade particular.

Assim como o cuidado dispensado pela mãe ao filho não é algo mecânico, da mesma forma a boa comunicação da e na ação litúrgica não é resultado da aplicação de "técnicas" mais ou menos boas. Ela é expressão da experiência fundante do encontro com o Senhor, que faz novas todas as coisas e relacionamentos.

Em meio a críticas, desafios, limitações, mas também possibilidades que se apresentam, seja à instituição família, seja à ação litúrgica, "não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro" (Papa Francisco). Sejamos bons comunicadores!

* Jaime Spengler é arcebispo de Porto Alegre.

Fonte: Pascom Arquidiocese de Porto Alegre

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