Marcela Belchior
Por ocasião das celebrações dos 35 anos de morte de Dom Óscar Romero, o Vaticano anunciou o próximo dia 23 de maio de 2015 como a data de beatificação do sacerdote salvadorenho, que será realizada em El Salvador. O anúncio foi feito pelo arcebispo italiano monsenhor Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família. A celebração será realizada pelo cardeal italiano Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos no Vaticano.
"Hoje, é tempo da alegria e da festa. É uma imensa alegria para a nossa Igreja salvadorenha saber que estamos às portas da beatificação do bispo que quis permanecer com seu povo, como bom pastor", publicou a Arquidiocese de San Salvador, capital salvadorenha. "A beatificação é um dom extraordinário para toda a Igreja, mas, de um modo especial, para todo o povo salvadorenho. Monsenhor Romero, a partir do céu, se converteu no pastor bom e beato que une todo o povo de El Salvador", acrescenta a instituição religiosa.
Monsenhor Oscar Romero foi assassinado durante a celebração de uma missa na cidade de San Salvador, em 24 de março de 1980, vítima de perseguição por sua defesa dos direitos humanos e solidariedade às vítimas de violência política em seu país. À época, El Salvador vivia um contexto de violenta guerra civil.
"Romero suportou muitas incompreensões dentro da mesma Igreja. Sua voz, suas reivindicações e denúncias não quiseram ser escutadas no Vaticano. Houve correntes ideológicas e má informação sobre o que ocorria em El Salvador. O simplismo conceitual e político reduziu tudo à polarização Leste-Oeste, entre o capitalismo e o comunismo, baseado na Doutrina da Segurança Nacional imperante.
Milhares de irmãos e irmãs vítimas da violência foram esquecidos", publicou Adolfo Pérez Esquivel, ativista argentino defensor dos direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz, em artigo publicado pela Agência Latino-Americana de Informação (Alai).
"Romero tentou que o Vaticano o escutasse e ajudasse, mas voltou angustiado ao seu país, com dor na alma", ressalta Esquivel. Para ele, agora, o Papa Francisco busca, com justiça, reparar o esquecimento do mártir e restabelecer a mensagem de Romero para os fieis de todo o mundo.
Celebrações em memória de Romero
Por ocasião da data dos 35 anos do assassinato de Monsenhor Romero, houve celebrações em Roma, Itália. No último domingo, 22, foi celebrada uma Missa Solene, presidida pelo postulante de Monsenhor Romero, o arcebispo Vincenzo Paglia, na paróquia de Santa Maria in Traspontina. Logo depois, os fieis realizaram uma procissão até a praça de San Pedro, no Vaticano, e participaram do Angelus, com o Papa Francisco. Nesta segunda-feira, 23, houve uma vigília ecumênica em memória do sacerdote salvadorenho na Basílica dos Santos Apóstolos, também na capital italiana, presidida pelo bispo auxiliar de Roma, Monsenhor Matteo Zuppi.
"[Dom Oscar Romero] Sempre teve uma grande relevância porque, desde 1981, algumas realidades traziam a memória de monsenhor Romero. Uma das piores cumplicidades que se pode fazer com o mal é o silêncio, é o esquecimento. Ao contrário, a memória é a maneira de fazer viver, defender quem, como monsenhor Romero, sacrificou sua vida pela justiça e pelo Evangelho", afirmou monsenhor Zuppi, em entrevista para a Rádio Vaticano.
Na última semana, a Igreja salvadorenha também celebrou o 35º aniversário de morte do sacerdote. No dia 23 deste mês, o cardeal Angelo Amato presidiu a missa na Praça do Divino Salvador do Mundo, em San Salvador. O cardeal José Luis Lacunza, natural da Espanha e naturalizado panamenho, também participou das comemorações, visitando a cripta que abriga o corpo de Romero. Na ocasião, também estiveram presentes o arcebispo José Luis Escobar e dois postulantes da causa, monsenhor Delgado e monsenhor Urrutia. Os sacerdotes também visitaram a Capela do Hospital Divina Providência, onde Dom Romero sofreu o atentado, em 1980.
Fonte: www.adital.com.br