O Grito da Selva ao Planalto. Índios de Rondônia em Brasília

Egon Heck *

Conforme verberaram os representantes dos índios Kayapó, em sua audiência com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, caso insistissem na aprovação da PEC 2015, semanalmente estariam em Brasília delegações indígenas das diversas regiões do país.

Nesta semana, estão fazendo ouvir o grito contra essa PEC e todas as iniciativas anti-indígenas tramitando no Congresso, no Poder Executivo e no Judiciário, os povos indígenas de Rondônia. São muitos os problemas e desafios contra os quais estão lutando. Porém, a "questão que envolve tudo é a terra, a demarcação e proteção", afirma Antenor Karitiana.

Durante essa semana terão audiências e contatos com diversos órgãos e instituições dos três poderes. Será o grito dos povos: Surui, Cinta Larga, Arara, Puruburá, Wajoro, Karitiana, Guarasugue, Oro Waram Xijein, Oro Mon, Oro Waram.

Conforme Antenor Karitiana, que está lutando pelos direitos de seu povo e dos povos indígenas desde o período da constituinte, na década de 80, "já lutamos muito. Enfrentamos inimigos perigosos. Fomos aos poucos construindo nosso movimento e organização. Vimos que o inimigo nosso está muitas vezes dentro do governo. Os que deviam proteger nossos direitos são os que tentam impedir a demarcação de nossas terras. Estão fazendo o jogo do fazendeiro. Hoje temos novas lutas contra as PECs, contra os projetos de REDD, captura de carbono, que vem ameaçando o território Surui, provocando conflitos internos. Mas nós vamos falar duro na defesa dos nossos direitos e denunciar o que ameaça nossos povos."

Karitiana ainda ressaltou a importância desse momento que está tendo uma grande participação dos jovens e das mulheres. "Olha aí esse é meu filho e aquele é filho de Eva Kanoé e Piau, lá de Sagarana". Os conheci quando ainda eram crianças, em 1972 quando com eles trabalhei algum tempo.

No inicio de abril vamos fazer uma grande Assembleia dos povos indígenas de Rondônia. Vamos fazer ouvir o nosso grito e cobrar do governo nossos direitos.

Dentre os principais problemas ressaltam a paralização do processo de demarcação das terras dos povos Cujubim, Miguelem, Wajoro, Puruborá, Cassupá, Karitiana, Kaxarari, além da desintrusão da Terra Indígena Rio Negro Ocaia.

É grave a situação de invasão dos territórios indígenas em Rondônia, por madeireiros, grandes empreendimentos, Pequenas Centrais Hidrelétricas.

Outro grande problema que enfrentam os "povos resistentes" (emergentes, ressurgidos) de Rondônia é a morosidade no reconhecimento étnico do povo Guarasugwe e Chiquitano e documentação dos povos : Cujubim, Miguelem, Warojo, Puruburá e Cassupá. Eles vem cobrar do governo, através do Ministério da Justiça e Funai, agilidade nesses processos e a garantia dos direitos coletivos, especialmente à terra.

Vítimas da borracha, dos garimpos dos madeireiros e da colonização

A partir da década de 60 e principalmente de 70 houve a invasão massiva dos territórios indígenas da região por projetos de colonização, pela expansão da frente agropecuária e dos garimpeiros. O grande estímulo a essas invasões se deu a partir da construção da rodovia BR 364, que cortou as terras de vários povos e forçou a rápida e irresponsável "pacificação" de vários povos. Basta lembrar a terrível chacina do povo Cinta Larga, do paralelo 11, a mortandade dos Pakaa Nova - Oro Wari, da região de Guajará a Mirim. Um relato da época menciona que no início da década de 60 a contatação precipitada com esse povo, fez com que de uma estimativa de 3 mil indígenas, após alguns anos estavam reduzidos a menos de 500 pessoas. (Folha do Acre 17/07/1963)

"Confirmando reportagens por nós divulgadas, a fome, a doença e aventureiros inescrupulosos estão dizimando os índios Pacaás Novos, que habitam as selvas de Rondônia. De um grupo de 400 selvícolas restam apenas 91 em estado precário. Essas foram informações prestadas à imprensa pele Dr. Noel Nutels (Alto Madeira, Porto Velho, 16-03-1962)

Poderíamos elencar inúmeros casos de violência e extermínio dos povos indígenas de Rondônia. Mas eles sobreviveram a todas as formas de violência, e hoje estão aí em Brasília, trazendo seu grito da selva e do massacre aos responsáveis pelo do Estado brasileiro.

Brasília, 23 de fevereiro de 2015.

* Egon Heck Cimi, Secretariado.

Fonte: Revista Missões

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