Burundi: preso assassino das Irmãs xaverianas

Rádio Vaticana

A Polícia de Burundi prendeu um homem que teria confessado o assassinato das três Irmãs missionárias italianas, ocorrido na tarde e noite do último domingo (7). As vítimas tinham entre 75 e 83 anos de idade e estavam na casa de Kamenge, no Burundi, pequeno país africano dos Grandes Lagos.

Os investigadores anunciaram a prisão nesta terça-feira (9): "o suspeito está em nossas mãos e confessou". O homem, no momento da detenção, estaria de posse das chaves do Convento e do celular de uma das vítimas. Além disso, ele teria dito que agiu sozinho e em dois momentos: contou à Polícia de ter voltado ao local do crime durante a noite para matar a terceira vítima.

As três Irmãs italianas mortas em Burundi serão sepultadas no Cemitério de Panzi, próximo à cidade de Bukavu, região leste da República Democrática do Congo. No mesmo local, estão enterrados outros missionários que foram mortos e assassinados na mesma região.

As primeiras cerimônias fúnebres começam às 9h desta quarta-feira (10) em Bujumbura. No dia seguinte, quinta-feira (11), os corpos serão levados para Bukavu e Luvungi, respectivamente, onde as Irmãs trabalharam em missão. Também está prevista uma longa vigília noturna para lembrar a presença incansável de Irmã Olga Raschietti, Irmã Lucia Pulici e Irmã Bernardetta Boggian em favor das comunidades locais.

Papa Francisco, na sua mensagem de pesar, recordou o amor delas pela África. Pe. Claudio Marano, por sua vez, deu seu testemunho à Rádio Vaticano como missionário e responsável do Centro Juvenil de Kamenge, com mais de 20 anos em Burundi.

Pe. Claudio Marano - "Pode parecer estranho, mas merecemos o mesmo tratamento que merece o povo. Estamos tão inseridos, com os nossos irmãos de Burundi, que merecemos o mesmo tratamento que é reservado ao povo. Aqui é rotina o fato que pessoas desaparecem, gente que se encontra no lago, gente que não tem futuro, gente que é colocada na prisão porque disse uma palavra, gente que é obrigada a dizer coisas que não são depois verdadeiras, etc. E esse acontecimento nos coloca de novo a esse fato: ao fato que nós, estrangeiros, nós, irmãos, nós que estamos aqui, que vivemos aqui com eles, nós merecemos e estamos merecendo o mesmo tratamento que é reservado à população. São coisas que fazem pensar muito, fazem pensar ao povo de Burundi. Devemos absolutamente fazer paz, devemos chegar ao ponto que estejamos todos prontos, também, para dar o sangue para chegar à paz."

RV - Papa Francisco, na mensagem de pesar pelas três missionárias, dizia: "Que este sangue seja semente de fraternidade".

Pe. Claudio Marano - "Exatamente, essa é a mensagem que precisa ser dada. Eu moro com os jovens aqui no Centro de Kamenge e são milhares que vêm aqui todos os dias, e estão assustados pelo ocorrido. Mas, ao mesmo tempo, eu os vejo suficientemente serenos. Falo, frequentemente, do fato de doar a própria vida para melhorar o mundo. É preciso chegar a essa conclusão porque, se tivermos medo, se não falarmos, se não agirmos, etc., nunca conseguiremos resolver o problema. O dom dessas três irmãs é muito grande. Quem foi? São coisas que ainda precisam ser esclarecidas e não serão jamais esclarecidas, basta passarem cinco minutos pra voltar tudo ao normal. São três irmãs que viveram e deram a vida delas pela África. Três irmãs que eram idosas, que não faziam nada, no sentido que não tinham uma tarefa específica, mas tinham o serviço de ir ao encontro dos doentes, o serviço da caridade, o servir à paróquia, e davam tudo delas mesmas e estavam todos os dias por aqui fazendo alguma coisa. E foram assassinadas. Até para nós chegou a acontecer que os animadores foram assassinados por gente que era amiga deles, por loucos que, depois, quando chegava o momento de descobrir o mandante, ninguém nunca descobriu. Porque existem os mandantes, porque, durante a guerra, aqui se vai nos bairros para pagar uma pessoa ou outra para matar uma pessoa ou outra. É assim."

RV - E, somente a presença, só o testemunho faz escândalo e irrita muita gente?

Pe. Claudio Marano - "Exatamente. Porque testemunhar a paz, viver a fraternidade irrita. Em um país onde, hoje, por exemplo, quem è do governo não quer falar com a oposição, a oposição não quer falar com o governo e todos sofrem com isso. As prisões estão cheias, as pessoas escapam para o exterior; em um país assim, há pessoas que perdem as suas vidas, que dão as suas vidas, que estão lá, presentes, pra falar de paz. ‘Incomodam', de verdade. Nós, aqui, nos bairros da região norte, estamos muito visados, no sentido que estamos aqui, somos em 10, 12 brancos em meio a um bairro muito pobre, humilde e desfavorecido que, alguém, se pudesse nos pegar e atirar com o ‘kalashnikow', faria, com certeza".

Fonte: www.pt.radiovaticana.va

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