Conectar-se é preciso

Alfredo J. Gonçalves *

Conectar-se, viver conectado, navegar na Internet, enviar e receber mensagens eletrônicas, "baixar" músicas e jogos, livros ou imagens, realizar videoconferências, possuir um celular particular - entre tantos outras possibilidades - são expressões derivadas de um comportamento que hoje em dia faz parte do cotidiano. No contexto da economia globalizada e da sociedade moderna ou pós-moderna, a "categoria dos internautas" se estende a uma imensa multidão de habitantes do planeta. Tanto que os "desconectados", ao lado dos expatriados, refugiados, exilados, prófugos, apátridas desplazados... talvez estejam hoje entre os grupos mais excluídos. Parafraseando o poeta português Fernando Pessoa, conectar-se é preciso.

Existem distintas maneiras de conectar-se. Alguns o fazem de forma obsessiva, até mesmo doentia. Com demasiada frequência, migram (ou fogem) para o mundo virtual, e praticamente passam a ignorar a realidade e as pessoas que os cercam. Conectam-se com os quarto cantos do mundo, estabelecem contatos à distância e em todas as direções, mas, ao mesmo tempo, rompem pouco a pouco com os laços mais caros e próximos: ligação com os familiares e amigos, parentes e vizinhos. Com a mesma facilidade com que fazem, desfazem e refazem "amigos internautas", parecem distanciar-se dos "amigos de carne e osso", dos encontros cara a cara, olho no olho.

Compulsivamente, enviam e recebem mensagens a quem e de quem mal conhecem, em detrimento das relações interpessoais ou intercomunitárias, construídas às vezes debaixo do mesmo teto ou entre um grupo de conhecidos. Em seu cotidiano, um email ou um SMS adquirem mais importância que um "bom dia", um "boa tarde", um "como vai?", um "eu te amo". Ou então um simples olhar, um sorriso, um toque, um gesto, um abraço, um aperto de mão, um braço estendido, uma visita - coisas que custam tão pouco e fazem tanto bem, tanto a quem as oferece quanto a quem as recebe.

Nos tempos que correm, não será difícil tropeçar com a imagem de duas, três, quarto ou mais pessoas à mesa, num restaurante, por exemplo (ou mesmo em casa), cada qual entretendo-se isoladamente com o seu smart phone. Neste e em outros casos similares, consciente ou inconscientemente, o diálogo pode ser substituído pelo monólogo fechado, ensimesmado. Cada um curte o seu mundo à sua maneira! Entre as crianças e adolescentes, são os videogames que por vezes os isolam uns dos outros. No fim da linha, não raro acabam sendo absorvidos morbidamente pela magia frenética e sedutora do universo virtual. Impõe-se a necessidade de encontrar (ou criar) novidades.

Outros encontram-se no extremo oposto: tudo que vem da Internet cheira a coisa suspeita. Para estes, os laços virtuais costumam ser costurados de forma superficial e volátil, sendo, além disso, facilmente descartáveis. Por isso, mantêm-se deliberadamente à margem como se no labirinto virtual, complexo e desconhecido, pressentissem a mão invisível do demônio. Não deixam de acessar a Internet, é bem verdade, utilizando suas novidades de ponta. Mas sempre com um certo receio de contaminar-se ou de cair nas armadilhas de um Mercado cujas novidades parecem mais velozes que o próprio pensamento. De tudo isso resulta uma espécie de alergia aos botões, uma mal disfarçada tecnofobia. Diante dos meios mais avançados do campo virtual, desenvolvem um uso rígido, sóbrio, severo, inflexível, puritano - numa palavra, uma atitude igualmente mórbida.

Como diria o velho Aristóteles, "no meio está a virtude!" Ou seja, impossível nos tempos atuais viver sem qualquer conexão através da Internet e de outros meios de comunicação social. Todos os instrumentos tecnológicos produzidos especialmente a partir da Revolução Industrial em suas diversas fases, em maior ou menor grau, passaram pelo mesmo processo ambíguo de imediata aceitação por parte de uns e reticente rejeição por parte de outros (máquina a vapor, automóvel, trem, telefone, energia elétrica, rádio, televisão, computador, só para citar alguns).

Utilizar a tecnologia, porém, não significa ser escravo dela, como alerta o filósofo e psicoanalista italiano Umberto Galimberti na obra Psiche e techne. Instrumentos seguem sendo meios de uso, não fins em si mesmos. Os problemas começam quando, por um lado, fazemos deles verdadeiros ídolos e nos ajoelhamos diante de seu poder aparentemente mágico, fascínio que tende a ser ainda mais forte diante dos produtos de última geração do progresso tecnológico; ou quando, por outro lado, os descartamos a priori como se fossem "invenções do diabo". Nem um nem outro extremo! Aqui não é indiferente notar que fobia rima com idolatria.

Utilizados em sua justa medida, qualquer instrumento - desde a enxada e a foice, o arado ou o moinho, o fogão ou a geladeira - são produtos da inteligência humana. Representam extensões de nossos membros para ajudar a defendermo-nos ou a superar nossa notória fragilidade diante dos demais animais, os quais, diferentemente dos seres humanos, nascem praticamente de pé e adaptados ao meio ambiente. Em síntese, o acesso à Internet ou a qualquer tipo de tecnologia, jamais será incompatível com os contatos pessoais, a amizade, a sensibilidade e a solidariedade.

O ato mais ou menos isolado de navegar pelo universo virtual não pode substituir a difícil e complexa tarefa de construir e cultivar relações humanas. Todos nascemos, crescemos e amadurecemos como seres relacionais. Por outro lado, os dois caminhos não são necessariamente excludentes, alternativos. Permanece o desafio de torná-los integrados e complementares. Quer dizer, a própria Internet pode tornar-se um meio, entre outros, para aprofundar os contatos interpessoais e estes, por sua vez, pode tornar mais vívido e caloroso a acesso àquela. "Navegar" pode converter-se em uma forma de "curtir os amigos", sendo igualmente verdadeira a recíproca.

Los Angeles - CA (USA), 14 de agosto de 2014

* Alfredo J. Gonçalves, CS, é Vigário e Conselheiro Geral dos Missionários de São Carlos.

Fonte: Revista Missões

Deixe uma resposta

um × 2 =