Mariana Jungmann
A preocupação com a segurança cibernética foi um dos pontos levantados pelo presidente da China, Xi Jinping, na visita que fez hoje (16) ao Congresso Nacional. Para ele, a comunidade internacional precisa construir conjuntamente um sistema de governança da internet para garantir a soberania dos países nessa área.
"A comunidade internacional deve construir junta um espaço informático pacífico, seguro, aberto e cooperativo e criar um sistema de governança internacional da internet multilateral democrático e transparente, de acordo com os princípios de respeito e confiança recíprocos por meio de cooperação internacional eficaz", disse Xi Jinping em discurso no plenário da Câmara dos Deputados.
Sem citar diretamente os casos de espionagem eletrônica da agência de segurança norte-americana no Brasil e em outros países aliados aos Estados Unidos, Xi Jinping criticou o atual modelo de gestão do ambiente cibernético e a falta de segurança das nações nesse aspecto. "Por mais desenvolvidas que sejam, as tecnologias da internet não podem ser usadas para violar a soberania informática. Não há espaço para duplo critério na área informática, em que todos os países têm direito de defender sua própria segurança. Não é aceitável que um ou alguns países fiquem seguros e outros não, que nenhum país obtenha a chamada segurança absoluta à custa da segurança de outros", destacou.
Xi Jinping ressaltou a relevância que China e Brasil têm no mundo atual, que passa por grandes transformações e crises, especialmente na área econômica e na multipolarização. Para ele, os dois países devem insistir nos princípios da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e reforçar a colaboração nos mecanismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G20 (formado pelas 20 maiores economias mundiais e o Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
"Na qualidade de maiores países em desenvolvimento dos hemisférios Leste e Oeste, a China e o Brasil, ao concretizar seu próprio desenvolvimento, devem cumprir ativamente suas responsabilidades internacionais, envidar esforços para salvaguardar a Justiça internacional e promover o desenvolvimento da ordem internacional em uma direção mais justa e razoável", disse o presidente chinês.
Ele lembrou que a China tem sido a maior parceira comercial do Brasil por cinco anos consecutivos e que o Brasil é um importante destino do investimento chinês na América Latina. Na opinião de Xi Jinping,, isso se deve ao fato de "não haver modelo de desenvolvimento que sirva para todos os países" e de os dois países terem de continuar buscando caminhos apropriados para suas realidades.
Xi Jinping falou logo após uma breve reunião com os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente chinês disse que ouviu de Henrique Alves que é consenso enre os partidos políticos brasileiros que a cooperação com a China deve ser intensificada. "Da mesma maneira, em todos os setores da sociedade chinesa, vem crescendo o entusiasmo de adensar a cooperação com o Brasil. Espero que os parlamentares continuem contribuindo para a amizade entre China e Brasil."
Ao longo do discurso, buscando demonstrar simpatia e amizade pelos povos latino-americanos, o presidente chinês fez citações sobe o arquiteto Oscar Niemeyer, o escritor Paulo Coelho e o líder venezuelano Simon Bolívar, ressaltando a necessidade de união dos países em desenvolvimento para defender interesses comuns.Xi Jinping informou que participará amanhã (17) à tarde do Encontro de Líderes China-América Latina e Caribe e disse que pretende trocar visões com colegas da região sobre experiências de governança temas internacionais e regionais de interesse comum.
A visita de Xi Jinping ao Congresso Nacional brasileiro marcou a comemoração dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países. O presidente chinês visitou também uma exposição com fotos que marcaram esse período, no Salão Verde da Câmara.
Na chegada de Jinping, houve um incidente envolvendo um repórter chinês, que foi imobilizado por policiais legislativos ao tentar entrar no plenário da Câmara. Em inglês, o repórter disse que estava credenciado para acompanhar o evento e que foi agredido pelos policiais sem receber explicações. A Polícia Legislativa da Câmara alega que ele insistiu em entrar por local não permitido e que sua credencial indicava que ele deveria se direcionar para outra entrada.
Fonte: www.agenciabrasil.ebc.com.br