O silêncio dos países árabes perante o desastre de Gaza

Agnès Rotivel

Depois das reviravoltas árabes, a população do oriente médio está mais preocupada com seus problemas locais do que com a causa palestina. Por isso que não se manifestam.

Durante alguns decênios, a "causa palestina" teve uma grande ressonância nos países árabes cujos cidadãos desciam às ruas para se manifestar. Hoje, em contrapartida, exceto Marrocos, onde houve algumas manifestações de apoio, o silêncio nas ruas árabes é muito pesado.

São outras as aspirações dos cidadãos de hoje

"Durante muitos anos, nas capitais dos países árabes, organizavam-se mobilizações em defesa da Palestina com consenso geral, quando não era permitido fazer mobilização sobre outras questões, explica o senhor Julien Salingue, pesquisador em ciências políticas, autor da pesquisa sobre a Palestina e questões que ultrapassam o horizonte do do acordo de Oslo. Mas, depois dos movimentos que começaram em 2011, as populações têm outras aspirações."

Os problemas internos que um bom número destes países vivem - o caos no Iraque e na Síria, a convicção da desestabilização na Jordânia e no Líbano - contribuem para este posicionamento de indiferença perante o conflito de Gaza.

Pressão para conseguir a marginalização do Hamas

Por outro lado, o silêncio dos dirigentes também não nos surpreende. A solidariedade deles com os palestinos aos poucos foi decrescendo. "Desde 1973 até ao levantamento que aconteceu na Tunísia em 2011 se vivia numa paz fria entre Israel e a Síria, uma verdadeira paz com o Egito e a Jordânia. Se as reivindicações palestinas tivessem emergido, teriam alterado o equilíbrio na região", acrescenta o pesquisador.

Em nossos dias, os dirigentes árabes têm todo o interesse que seja reduzida a influência da Irmandade Muçulmana, que se apresenta como uma ameaça contra os regimes e por isso contribui para a marginalização do Hamas, que provocou este conflito, e ninguém se opõe a Israel.

Uma virada de 180 graus no Egito

A política de Abdel Fattah Al Sissi, presidente do Egito, emblematicamente está neste posicionamento e nada fala contra a operação de Israel em Gaza. O Egito que foi mediador de paz entre os palestinos e Israel, deu uma virada de 180 graus, depois da deposição do presidente eleito, Mohamede Morsi, membro da Fraternidade Muçulmana e aliado do Hamas.

O governo egípcio, apoiado pelo exército, ameaçou fazer uma campanha para atacar o Hamas em todas as tentativas de ameaça ao Estado egípcio.

Colaboração entre os serviços de informação

Desde que Sissi se tornou presidente do Egito, o exército manteve fechada a fronteira de Gaza, isolando não apenas o Hamas mas toda a população.

Nem precisa falar sobre a colaboração do Egito com Israel nos serviços de informação. Quanto à comunicação oficial as empresas se encontram enclausuradas no sistema de poder propagam a desconfiança generalizada com o Hamas e os palestinos. O próprio Morsi já se tinha manifestado contra o Hamas dizendo que ele era um perigo para destabilizar o Egito.

A Liga Árabe publicou apenas uma declaração de princípio desde que começou o conflito em Gaza e seus representantes não mudaram de posição, da mesma forma que já se tinham posicionada na ofensiva de Israel em 2012.

É verdade também que quando no Egito o defensor da Liga era Morsi, ele interveio para pedir um cessar fogo promovido por Israel.

Nenhum dos países do Golfo levantou a voz para reclamar contra a política de Benyamin Netanyahou. Pelo contrário todos esfregam as mãos para que Israel ponha um fim às atitudes terroristas do Hamas.

Qatar está marginalizado

Nem o Qatar arrisca mais a se meter nos meandros da diplomacia do próximo oriente. "Viajando para Gaza em outubro de 2012, o xeique Hamad Ben Khalifa Al Thani, pai do atual emir, já tinha acenado ao isolamento do Hamas a quem ofereceu 400 milhões de dólares para recuperação de prédios demolidos. O filho dele pratica uma diplomacia menos ofensiva porque quer evitar o seu próprio isolamento no meio dos países do Golfo", afirma o analista Didier Billion, diretor adjunto do Instituto de relações internacionais e estratégicas (Iris).

Doha está marginalizada diplomaticamente pelos países vizinhos por causa de dar sustentação à Irmandade Muçulmana e a Gaza.

À custa do Qatar, a Turquia estava sempre pronta para fustigar Israel. Como de costume seu primeiro ministro, Erdogan, usou uma retórica muito pesada para acusar o Estado Judeu de ter "ultrapassado Hitler na barbárie", equivalente a "um genocídio" contra a população palestina.

"O relacionamento entre Turquia e Israel se degradou muito, mas nunca houve a ruptura de relações diplomáticas, nem de relações econômicas com o Estado de Israel", sublinha o senhor Didier Billion, acrescentando que Israel forneceu aviões não tripulados à Turquia.

O silêncio da União Europeia

No Ocidente, a posição de aliada tradicional de Israel faz com que toda intervenção americana sobre a questão palestina tem que se delicada para o ocupante da cadeira da Casa Branca. Obama fez um discurso para propor a paz e manifestou sua irritação perante a atitude de Benyamin Netanyahou, vendo na atuação de Israel uma forma de provocação.

Em cada visita de Kerry a Israel, tem sido anunciada nova ocupação para outra colônia judaica. E a União europeia há vinte anos que não toma um posicionamento político sobre essas questões. Ela toma uma atitude de compensação, dando dinheiro às autoridades palestinas para reconstruir o que Israel destruiu", acrescenta Salingue.

O Conselho Francês de Culto Muçulmano denuncia a caracterização do conflito como confessional.

O Conselho Francês do Culto Muçulmano, na quarta feira dia 30 de julho, denunciou que o conflito entre Israel e palestina é de "tipo confessional, acusando injustamente os muçulmanos da França de serem antissemitas sob pretexto de que eles se compadecem de modo falacioso do povo civil de Gaza". Ele apela para que todas as mesquitas rezem pelos mortos", lembrando as vítimas inocentes" arrastadas pelo conflito.

 

Fonte: Jornal La Croix

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