Stephen Ngari
"Comer ao redor de uma mesa é a coisa mais existencial e vital que temos. Que tal começar o nosso ecumenismo nas coisas existenciais, como partilhar uma refeição?" A afirmação é do Pe. Bóris Agustín, durante Jornada Ecumênica realizada na manhã deste sábado, 7 de junho, no Campus Ipiranga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. Encontravam-se presentes representantes de várias denominações cristãs da capital e do interior do estado.
A Jornada concluiu a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que começou no domingo dia 1. O tema da Semana foi tirado da primeira carta de São Paulo aos coríntios, (1Cor 1, 11-17) ‘Acaso Cristo está dividido?'.
Padre Bóris Agustín Nef Ulloa, biblista e professor da PUC, desenvolveu o tema numa ótica pastoral.
Ulloa começou explicando o contexto socioeconômico no qual Paulo escreveu aos habitantes de Corinto, que à época era uma cidade grande, com mais que um milhão de habitantes. Estrategicamente situada, possuía dois portos na parte estreita da ilha, um no ocidente e outro no oriente. Escravos eram utilizados para transportar mercadoria entre os dois portos. Era uma atração, e nela encontravam-se pessoas de várias partes do mundo. A cidade se desenvolveu a partir do comércio. Socialmente, tinha características típicas das cidades grandes de hoje, estratificação e hierarquia, problemas com ética e moral. Mais da metade da população era composta de escravos. Com uma grande população, existiam muitas comunidades fundadas por vários apóstolos e gradativamente, elas se deixavam ser influenciadas pelas práticas da sociedade. A divisão social apareceu entre os cristãos.
O apóstolo escreve a Carta para desaprovar esse comportamento dos cristãos. A Igreja de Deus é uma realidade divina e sobrenatural. Portanto, é menosprezada quando é dividida segundo os apóstolos, seja Paulo, Apolo ou Pedro. Deus como pai nos reuniu. No texto, Paulo repreende os cristãos pela divisão durante a Santa Ceia. Ele faz duas perguntas retóricas, "Quereis menosprezar a Igreja de Deus? Quereis humilhar os que não têm nada?"
O mistério pascal de Jesus deve ser o ponto de união e não de desunião. Em Cristo, não há ricos nem pobres, livres nem escravos, homens ou mulheres. Somos todos um, em Cristo. Segundo Bóris, a divisão na Igreja de Deus acontece quando se despreza o que deve mantê-la unida; o mistério pascal de Cristo.
Para evitar ou superar as divisões, é necessário que os cristãos voltem às origens da fé e abandonem as manias e os pecados históricos. Ninguém foi constituído apóstolo para condenar, mas para testemunhar o amor caritativo de Deus. O amor não se impõe. O amor é uma proposta. O Pai nos propõe o Filho. E nós devemos aderir de forma livre, porque só assim teremos perseverança no seu seguimento.
A arrogância e soberba são venenos ao ecumenismo e diálogo inter-religioso. A humildade ajuda os cristãos a superar as divisões. O diálogo é uma exigência evangélica. É uma conversão. Ele ajuda os cristãos a se entenderem e a entender o mundo.
A Igreja de Deus não é dos puros, embora Paulo chamasse uma Igreja cheia de divisões a Igreja dos santos. Faze-o para reconhecer os dons que os cristãos possuem através do Espírito Santo que receberam e para criar neles o desejo de ser santos, de viver concretamente os dons e não se deixarem influenciar pelo mundo.
Sem Espírito Santo não há cristianismo. Ele cria, santifica, sustenta e completa a Igreja de Deus em tudo. Os dons do Espírito Santo revelam a gratuidade de Deus. São eles que santificam quando são recebidos e vivenciados. A meta da vida cristã é a santidade. Todos os cristãos são chamados a assumir um novo modo de ser e de viver, oferecer uma nova transformação.
Quando se vive esta disposição, concluiu o Pe. Bóris, os cristãos têm mais motivos para se reunir, não de se dividir. Eles encontrarão campos diversos; lutas sociais, justiça e paz que oferecem plataforma de unidade cristã.
Fonte: Revista Missões