Johannes Gierse *
O mundo todo se surpreende e se encanta com as palavras, e mais ainda com os gestos e atitudes do bispo de Roma: (1) as pessoas de outras religiões, de outras igrejas cristãs, talvez pelo testemunho de uma autoridade que sabe ser humilde, simples e sorridente; (2) a mídia, talvez pelo fato de poder divulgar aquilo que ela sempre precisa: novidades, sensações, manchetes; (3) os católicos, pelo que, há tempo, não viam mais na nossa Igreja (hierárquica) e agora enxergam com nitidez: um papa que é pai de todos, um representante de Jesus Cristo, pobre e peregrino, bem semelhante daquele que se tornou um segundo Cristo: Francisco de Assis.
Então, o mundo (católico) tem os olhos fixos nele e se encanta, gosta, admira, bate palmas, apoia, quer mais... E este é apenas o começo! Há muitas perguntas pairando no ar a respeito das mudanças - e a maneira de fazê-las - que papa Francisco pretende e precisa fazer. No entanto, a questão mais básica é essa: quando é que os católicos começarão a trocar o papa Francisco em miúdo? Quando e como as ovelhas começarão a seguir o seu pastor? Vejamos alguns exemplos! Quais outros você acrescentaria?
1. Muitos ficam animados quando ele deseja "uma Igreja pobre, para os pobres", e que "...temos que realizar os trabalhos da Igreja, mas com um coração de pobreza, não com o coração do investimento ou do empresário"; pois, isso é viver o Evangelho, isso é o jeito de Francisco de Assis (isso é o resgate implícito da Teologia e da Igreja da libertação, como alguns interpretam). E assim ele faz: chegando ao aeroporto do Rio de Janeiro ficamos pasmos quando o papa embarcou num carro pequeno. "Por que não? Se eu posso, vocês podem também!" ele quer nos dizer. - Significa que doravante os cardeais e bispos, os leigos de classe alta vão deixar seus carros de luxo (o modelo de última geração) trocando-o por um mais simples, popular!? E quantas outras mudanças radicais acontecerão!
2. Comovemos-nos quando o "Papa do povo" na Praça de São Pedro, nas ruas do Rio de Janeiro ou em Aparecida abraça e abençoa as criancinhas, as pessoas com deficiência. E ele não faz nada demais, pois Jesus disse: "Deixem as crianças vir a mim... porque o Reino de Deus pertence a elas!" (Lc 18, 16). - Isso significa que futuramente os padres e ministros acolherão e abençoarão as crianças e seus pais ao chegarem à Igreja; significa que os padres tratarão os seus fiéis com mais ternura tendo tempo, um sorriso, uma palavra que toca...
3. Suscita fortes emoções em nós ver o Santo Padre após um dia cansativo e apesar do frio e da chuva visitar e abençoar o Hospital São Francisco, centro de recuperação para dependentes químicos e legado social da JMJ. Aí ele ouve e abraça os leprosos deste milênio. Tocam-nos as palavras de Francisco ao citar as palavras de Jesus do Bom Samaritano, e concordamos no nosso íntimo dizendo: "Assim eu quero ser e fazer! Não digo mais ‘não é o meu problema', não olho mais para o outro lado!" - Trocar as palavras do papa em miúdos significa que uma pessoa, 100% engajada numa comunidade eclesial, que ao longo de 12 anos nunca visitou um projeto semelhante na sua própria cidade (o papa chama isso indiferença globalizada), agora vai fazer isso! Significa que pessoas que se autopromovem ou aproveitam do seu engajamento social, agora vão descobrir o valor do trabalho voluntário e da gratuidade!
4. Concordamos também com suas palavras baseadas na Doutrina Social e citadas do Documento de Aparecida (395) que dizem que "a Igreja, ‘advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu', deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem". - Isto significa que de hoje em diante, mais católicos se engajam nas obras de caridade, nas Pastorais Sociais, na Escola Fé e Política! Trocar isso em miúdos significa redistribuir o dízimo: não mais 90% para a dimensão religiosa, e apenas 8% para a dimensão missionária e 2% a social!
5. Achamos bem fraterno e ousado o gesto do Papa no final da missa em Aparecida (dia 24/07) - embora a mídia não tenha bem transmitido - quando ele cumprimentou representantes de outras religiões e igrejas com um abraço e ósculo da paz, querendo dar para todos nós um sinal de acolhida inter-religiosa e ecumênica. - Isto significa também que nas próximas oportunidades - vigília pelas vítimas da Aids, culto no dia internacional do combate à Aids (01/12), e tantas outras - católicos, evangélicos, espíritas etc. celebram juntos o Deus da vida, da esperança e do amor.
6. O coração da gente se alegra ao ouvir o papa Francisco falando nossa língua: "...quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer ‘bom dia', pedir um copo de água fresca, beber um ‘cafezinho', falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós...Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês". - Isto significa que as grandes carências missionárias nas periferias das metrópoles, na vasta Amazônia e nas paróquias mais pobres do Nordeste agora vão acabar, pois as dioceses que tiverem mais padres enviarão onde tem menos para baterem em cada porta, tomar cafezinho e falar como amigos de casa. Se o papa faz, por que não os padres e bispos?
7. Ficamos encantados com que naturalidade e cordialidade o papa arrasta milhões de jovens - não somente em dias de JMJ - tocando seus corações! - Isto quer dizer que as gerações adultas não devem criar barreiras diante dos jovens, mas sim, ir ao seu encontro e depositar confiança neles; especialmente em nossas comunidades eclesiais.
Francisco, o pastor (supremo) do rebanho, está dando seu testemunho de Cristo; cabe a nós, ovelhas, trocar em miúdos, aplicar, vivenciar o que ele diz e pratica! Ele repete-nos as palavras de Jesus: "Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz" (Jo 13, 15).
Mas, além dos gestos e das palavras do papa, mais "alguém" falou nos dias da JMJ: Como explicar que num país tropical, na cidade maravilhosa, no final de julho, bate uma das frentes mais frias no Sul/Sudeste do país, de forma que os romeiros sofrem com a chuva e o frio, e o Campo da Fé vira lamaçal? Se "a fé da juventude é mais forte do que a chuva e o frio", trocando em miúdos, isso significa: botar fé nos jovens que solucionarão as causas das mudanças climáticas: juventude = com sabor da fé = em missão = salva a vida no planeta!
* Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude 2013 frei Johannes Gierse, franciscano.
Fonte: Johannes Gierse / Revista Missões