Experiência Missionária na Arquidiocese de Porto Velho (RO)

Tiago Ávila Camargo *

Participei da 1ª Experiência Missionária da Arquidiocese de Porto Velho, em Rondônia, com outros 50 missionários seminaristas - entre eles meu irmão de caminhada e colega de turma, o Seminarista Luiz Eduardo Dias Lima, também do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, de Viamão -, mais oito padres, três religiosas, uma leiga e um bispo.

A experiência, que ocorreu de 28 de dezembro de 2012 a 21 de janeiro de 2013, foi realizada em três etapas: formação, visitação e avaliação/retiro.

A primeira etapa foi de formação para todos os missionários, considerando a dimensão da pastoral missionária na formação dos presbíteros, a apresentação de algumas características do local onde atuamos, e os preparativos para as atividades da missão. A segunda etapa foi de visitação tanto das famílias como das comunidades que nos aguardavam para celebrarmos a Palavra de Deus e a Eucaristia. Também nesta etapa realizamos encontros com crianças, jovens, casais, ministros extraordinários da Palavra e da Sagrada Comunhão, bem como a animação das comunidades em suas atividades cotidianas. A terceira etapa foi constituída por dois momentos: avaliação e retiro espiritual. O planejamento e o preparo em conjunto se mostraram fundamentais para uma boa realização das atividades de visitas, e a avaliação auxiliou no apontamento daquilo que foi essencial e indispensável para a Experiência Missionária, tanto na área urbana, quanto na área rural da região.

No decorrer destes vinte e seis dias de experiência missionária todos nós tivemos diferentes experiências de partilha entre nós mesmos (os missionários vindos de onze estados do país), que nos preparávamos para o encontro com a comunidade, e também com as famílias que desde o primeiro dia nos acolheram em suas casas e foram aos poucos nos inserindo naquela realidade. Ao iniciarmos as visitas às famílias, no tradicional método de bater de porta em porta, fomos surpreendidos por pessoas que nos acolheram gentilmente, abrindo não somente a porta de suas casas, mas também as portas de suas vidas: e nós entramos. Este exercício exigiu de cada um de nós abrirmos mão daquilo que nos impedia de avançar por esta porta única que nos estava aberta: assim fizemos e avançamos. E por incrível que pareça lá fora, muitas vezes, deixamos aquele "eu" que parecia tão indispensável e fomos ao encontro do "tu", que foi muito mais interessante, importante, necessitado e real. Foi quando encontramos o "tu" do outro que começamos a experienciar o encontro com o Cristo que estava presente no nosso irmão e na nossa irmã que ali nos acolhiam e conosco partilhavam as situações pelas quais estavam passando ou que já haviam passado. Muitas histórias incríveis, mas nem tudo são flores: também encontramos muitas feridas, muitas tristezas e sofrimentos de diferentes origens, e isso tudo também nos marcou. As partilhas eram recheadas de pessoas reais, de fatos reais, de sonhos e expectativas também reais. E entre uma conversa e outra, as pessoas partilhavam conosco aquilo que tinham para oferecer: um copo d'água, um copo de suco, uma xícara de café. As vezes, uma fruta tipicamente amazônica, um bolo de milho verde, um doce preparado pela dona da casa. Coisas simples, assim como aqueles que encontrávamos, mas que nos eram significativamente válidas: descobri que esta simplicidade é muito mais rica que muitos momentos rebuscados que já experimentei.

Ser discípulo missionário na realidade da Amazônia foi uma experiência que me satisfez profundamente. Fez-me crescer humana, espiritual e vocacionalmente. Ser com o outro, sendo aquele que Deus escolhe, chama e envia, numa realidade distinta da minha - afinal, essa diferença é facilmente percebida após atravessarmos o país de sul a norte - e distante daqueles que fazem parte do meu ciclo de convívio habitual. A missão acontece, mas nunca é por mérito próprio, mas sim por graça que só Deus concede a cada missionário que se coloca a disposição do impulso que é um verdadeiro envio. Muitas atitudes que vamos tomando no caminho ganham outro significado quando estamos em realidades como essa que vivenciei, favorecendo muito a reflexão e a renovação dos propósitos vocacionais que um dia fiz, de modo especial ao entrar no seminário. A experiência viabilizou este momento também em minha caminhada, e hoje consigo dar (novas) razões do meu chamado vocacional. Ao mesmo tempo foi uma realidade que me desafiou e da qual tiro novos pensamentos e projetos para minha vida e para minha formação.

A experiência missionária foi um verdadeiro encontro com o Cristo que se revela a nós na pessoa do outro, naquele que é pobre e sofredor, mas que é rico por saber dar tanto de si ao outro, à comunidade, ao que precisa mais. Naquele que deixa brotar a esperança, que nasce da fé em Nosso Senhor, de ter dias ainda melhores, condições de sobrevivência que garantam segurança, educação, saúde, lazer, bem estar para todos. Foi um encontro com os irmãos que buscam fazer a experiência do Senhor que está vivo, pois ressuscitou, e nos ama tanto que nos deu o seu Santo Espírito para nos orientar, iluminar e conduzir pelas estradas da vida, na justiça e na paz.

Deus seja louvado por todos os que estiveram envolvidos de alguma forma na realização desta 1ª Experiência Missionária da Arquidiocese de Porto Velho - assim como em outras propostas missionárias -, pois se trata de uma bela iniciativa que busca formar missionários leigos, religiosos, seminaristas e, de modo especial, missionários presbíteros disponíveis ao chamado e ao envio que vem do próprio "Cristo, que é a nossa paz" (cf. Ef 2,14), seja na nossa realidade do Sul do Brasil, na realidade da Amazônia, na realidade que ultrapassa fronteiras, seja na realidade que Ele desejar.

* Tiago Ávila Camargo é seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre (RS), e cursa o segundo ano de teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Fonte: Tiago Ávila Camargo / POM

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