Heitor Scalambrini Costa *
Energia sem dúvida é um dos temas mais relevantes neste século XXI. É da cadeia produtiva da energia hoje utilizada no mundo, que se produz a maior quantidade dos chamados gases de efeito estufa (GEE), que tem provocado o aumento médio da temperatura do planeta, e assim as mudanças climáticas e todas suas conseqüências.
Para efeitos didáticos se classifica a fonte energética em não renovável e renovável. As não renováveis são aquelas predominantes no mundo, correspondendo a mais de 2/3 do consumo mundial. Provêm dos combustíveis fósseis: petróleo/derivados, carvão mineral, gás natural. E também dos minérios radioativos. Por sua vez são esgotáveis, possuindo alto potencial poluente, e produzindo gases e resíduos altamente prejudiciais à saúde humana, de todos seres vivos, e do meio ambiente. Já as fontes renováveis, são inesgotáveis oriundas da própria natureza, do Sol, dos ventos, da biomassa (toda matéria orgânica), das águas dos rios, mares e oceanos; possuindo baixo potencial poluente.
Estes energéticos não renováveis, da revolução industrial até os dias atuais, tiveram um papel de destaque na chamada sociedade moderna. Receberam e recebem dos governos, apoios extraordinários no que concerne aos recursos financeiros e aos subsídios. No Brasil esta situação não é muito diferente, bastando verificar o montante de recursos alocados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para os combustíveis fósseis, em particular o petróleo e gás natural, em relação às fontes renováveis de energia.
Com a evolução da ciência e da tecnologia, o que sempre foi considerado bom, barato, aceitável e necessário para movimentar a economia mundial, começou a ser reavaliado, questionado e criticado. Mitos sobre as fontes energéticas não renováveis foram desvendados. O que alguns acreditavam ser a garantia do conforto nos lares, dos povos, a mobilidade, o lazer, a prosperidade, a tranqüilidade e a paz social, agora é sinônimo de destruição, guerra, desastres ambientais, doenças para as pessoas, e até risco para a própria sobrevivência da raça humana.
Daí a consciência cada vez maior da necessidade da transição para uma nova era, a era das fontes renováveis de energia.
Mas eis que surge a poderosa indústria petrolífera, e aquel@s interessados em prolongar mais a vida dos combustíveis fósseis sobre o planeta. A promessa agora é de oferecer uma energia barata e abundante, deixando de lado o investimento em energias menos sujas, renováveis. O negócio agora é o gás de xisto.
Esta "solução energética" profetizada pela industria petrolífera norte americana, e apoiada por uma parte importante da classe política e por setores da mídia, exalta a questão da segurança nacional, o nacionalismo, através da obtenção, através do gás de xisto, da auto-suficiência. Os EUA ainda compram mais da metade do petróleo que consomem, cerca de 56%, importando 22% do Canadá, 12% do México e 22% do Iraque.
Alardeiam para o povo americano e para o mundo a abundância das reservas existentes, dezenas e centenas de trilhões equivalentes de barris de petróleo. Propagandeiam uma "nova era de energia barata", e as vantagens econômicas advindas do uso deste energético. São divulgados custos da ordem de 55 a 65 dólares o barril equivalente de petróleo de 159 litros. Mais de 25 vezes os 6 dólares que custava a extração de um barril de petróleo no Mar do Norte. Todavia, não revelam o caráter predatório e as peripécias para extrair o gás da rocha betuminosa, e o alto poder poluente na extração, no transporte e no uso final.
Aquecimento global, mudança climática provocada pela influência do modo de vida (consumir e produzir) e seu modelo predador, não existem para esta parte tão influente da sociedade mundial. O que existe são simplesmente os interesses econômicos, os "negócios", a ânsia de consumidores, que acreditam assim garantir o conforto dos lares, dos povos, a mobilidade, o lazer, a prosperidade, a tranqüilidade e a paz social. Mesmo que para isso coloque em risco a vida do planeta e de todos seus habitantes.
Nestes tempos de crise energética batendo as portas do país, devemos ficar com a "pulga atrás das orelhas" diante das propostas mirabolantes, salvadoras da pátria, como de instalação de usinas nucleares, de termelétricas a carvão mineral.
* Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Fonte: Heitor Scalambrini Costa / Revista Missões