Ronaldo Lobo *
Viver o mês de setembro como mês bíblico, já é uma tradição de longo tempo na Igreja Católica. E quando pensamos nisso, parece que muda algo no ar, como se fosse uma certa magia que só a Palavra de Deus pode nos oferecer. Neste mês, as celebrações onde se dá importância à Palavra ficam com um toque extra! A Palavra de Deus, da qual tanto falamos, aparece mais, faz sua entrada solene, e a criatividade do povo sai solta por aí. As diversas procissões com a entrada da Palavra, nas comunidades do interior e da periferia das cidades, tornam-se mais criativas.
De onde nasceu a Bíblia
No início do cristianismo, nem os judeus, nem os cristãos usavam a denominação "Bíblia" quando falavam da Palavra de Deus. Os judeus chamavam-na "O Rolo" (O Rolo de Torá), e os cristãos, "Os Livros". A palavra Bíblia, embora seja latina, tem sua origem na língua egípcia, a qual significa polpa ou fibras da planta do papiro, em que foram escritos os primeiros textos, também chamados de pergaminhos. Tanto judeus, como cristãos, desde a Antiguidade, acreditavam que a Bíblia testemunha uma revelação de Deus ao seu povo. Tal revelação de Deus já acontecia, antes, dentro e além dos textos encontrados nas Sagradas Escrituras. A maior parte das tradições foram transmitidas oralmente e somente mais tarde foram colocadas por escrito.
Como pano de fundo desta reflexão, coloco em foco apenas algumas breves citações da Sagrada Escritura, tais como: "Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho" (Sl 119, 105). "A Palavra se fez carne" (Jo 1, 14). "Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e preparado para toda a boa obra" (2Tm 3, 16-17).
Mês bíblico
Para conscientizar os católicos, a Igreja tem se esforçado para dar um destaque à Palavra de Deus no mês de setembro. O mês bíblico, cada ano dá ênfase a um dos livros da Bíblia, do Antigo ou do Novo Testamento. Neste ano estuda-se o Evangelho de Marcos que é a fonte de vários subsídios que são colocados ao alcance dos fiéis. Cada editora produz seus materiais que, através de modelos diferentes, enriquecem o aprofundamento do tema do mês bíblico.
Não dá para esquecer o fato de que nós católicos somos os últimos da fila, quando o assunto é a leitura e o estudo da Bíblia. Porque temos ainda um longo caminho a percorrer, não podemos parar. Devemos semear a Palavra de Deus cada vez mais. Neste campo, até um pequeno gesto pode valer milhões! Vale a pena lembrar como algo positivo que a Bíblia tem ocupado um lugar cada vez maior nas estantes das nossas casas. É verdade que em muitas delas fica aberta, embora seja pouco lida. Devemos valorizar a Palavra de Deus não somente na nossa Igreja, mas também na intimidade das nossas casas.
Leitura da Palavra
O nosso conhecimento da Bíblia é escasso porque ainda não sentimos impulso suficiente para folhear frequentemente as páginas da Sagrada Escritura. Por um lado, temos dificuldade para achar um texto e por outro, porque ainda não nos libertamos da tradição que remetia o uso da Bíblia quase só para o clero.
Bíblias de modelos e tamanhos diferentes nas mais variadas editoras católicas não faltam. O mês do setembro é o tempo privilegiado para insistir bastante no sentido de promover novos leitores da Bíblia. Embora não seja fácil, também o setor da catequese se esforça para iniciar os catequizandos a gostar e usar bem a Bíblia.
Estudar a Palavra
Uma das coisas que devemos destacar é que o povo tem sede da Palavra de Deus. O crescimento de grupos de formação bíblica com a participação de muita gente é animador. Há lugares onde os leigos, apaixonados pela Palavra de Deus, procuram e até organizam cursos bíblicos pelo interesse próprio e para envolver outras pessoas para estudar a Palavra de Deus e rezar a partir dela.
Nem toda a Palavra de Deus é fácil de entender porque, embora os textos sejam inspirados, foram escritos séculos atrás e em línguas diferentes. Entre elas, o hebraico, o aramaico e o grego. Mais ainda, o povo de Deus foi submetido à servidão por culturas dominantes como egípcia, assíria, babilônica, persa, grega e romana. Porque as Sagradas Escrituras trazem tais influências de ponta a ponta, são necessárias introduções e chaves de leitura. E nem sempre a pregação dominical estimula os fiéis para a leitura pessoal da Palavra.
Por último, aquele que se apaixona pela Palavra de Deus e quer trilhar este caminho árduo, deve se esforçar na busca de um bom comentário e ter ao alcance um dicionário bíblico onde encontra explicado o significado de palavras-chave. Isso até pode parecer algo técnico, complicado, e coisa para os estudiosos. Acredito que não. É a hora de nossas paróquias, e da catequese onde tanto se fala da Bíblia, prepararem instrumentos que facilitem tal estudo.
Lectio divina
Não desanime perante a frase que segue. Os católicos também estão no fim da fila, quanto ao uso da Sagrada Escritura para as orações. Pode ser que a importância dada à religiosidade popular justamente acabe por prejudicar o uso da Bíblia na oração. Trata-se de algo muito sério que deve ser analisado e corrigido. Sobre este tema, os bispos têm falado muito da leitura orante da Bíblia, o que significa esforço e vontade de voltar às origens da Igreja e tirar do baú este tesouro! Sem dúvida, isto foi o melhor que aconteceu à Palavra de Deus. Os fiéis ficaram muito atentos a esta exortação e acolheram com muita alegria a indicação deste caminho. Mais uma vez, é necessário conhecer, aprimorar, preparar para fazer uma boa leitura orante da Bíblia. No campo da Palavra de Deus, nada é fácil, embora, tudo seja agradável ao Senhor.
Portanto, ler a Palavra, estudar a Palavra e orar a Palavra, é o que devemos destacar e aprimorar neste mês bíblico.
* Ronaldo Lobo, svd, é mestre em Bíblia. Atualmente, formador no Seminário Verbo Divino em Toledo, PR.
Fonte: Ronaldo Lobo / Revista Missões