Rosa Clara Franzoi *
Vocação é um tema que, no mês de agosto, todos os anos nos é proposto para reflexão. É uma das muitas palavras bíblicas cujo sentido tem mudado e também se desvalorizado com o passar do tempo. No uso corriqueiro, ele até se confunde com profissão. É muito comum ouvir: "ser médico é a minha vocação". Neste caso, ela tem a ver com o que se faz. E existe também o chamado ‘treinamento vocacional', que significa treinar a pessoa para um ramo específico.
Na Bíblia, porém, "vocação" tem uma conotação muito mais ampla, mais nobre. Seu sentido não é no aspecto humano (o que fazemos), mas no sentido divino (para o que Deus nos chama a ser e a fazer). É por isso que dizemos que vocação é chamado. Já no Antigo Testamento, Deus ia chamando pessoas - os patriarcas, os profetas - e lhes dava uma missão a ser executada de acordo com as necessidades do povo: Abraão, Moisés, Samuel... No Novo Testamento, Jesus chamou Maria, João Batista, os apóstolos e ainda continua chamando hoje e a cada um lhe confere um serviço, uma missão. Também os chama a serem seus porta-vozes nas diferentes situações da humanidade. Não é maravilhoso que Deus tenha essa preocupação conosco, de maneira que nos dirija um chamado pessoal? Portanto, o nosso Deus é um Deus que chama (Gl 5, 8; 1Pd 1, 15); e nós somos os que Ele vai chamando de acordo com a sua vontade (Rm 8, 28; Hb 9, 15). Precisamos, porém, distinguir o chamado que é dirigido a todos - global, universal - e outro, que é dirigido a cada pessoa - individual, específico.
Uma vocação específica
O chamado universal de Deus, que é para todos, não é para fazer algo, mas é para ser alguém. Embora ele nos chame para diferentes serviços, antes de mais nada, ele nos chama para algo muito específico: sermos seus discípulos, vivermos uma vida nova segundo os seus ensinamentos, na sociedade, no mundo. Este chamado universal, dirigido a todos e ao qual devemos dar nossa resposta é o chamado à vida, à santidade, à liberdade, à paz, à justiça, à solidariedade, à fraternidade, ao serviço... Em resumo, é um chamado a vivermos uma vida digna dessa vocação (Ef 4, 1).
E dentro dessa vocação universal, são feitos chamados individuais para tarefas específicas. Embora haja ainda hoje alguém que ao ouvir a palavra vocação pense logo em "padre e freira", é preciso ter claro que existem outras vocações específicas: ao diaconato permanente e ao matrimônio, e a vocação aos ministérios não ordenados. Isto porque a Igreja é toda ministerial. Deus distribui muito bem as tarefas para que haja harmonia entre as pessoas, as coisas da terra e as coisas espirituais. Enquanto alguns se ocupam em dar continuidade à espécie humana (à família e tudo o que diz respeito à vida e organização do universo), há outros que lembram às pessoas que não somos apenas matéria, mas também espírito; e sendo assim, é preciso que nos ocupemos também da formação espiritual (padres, pastores, diáconos, freiras, missionários, catequistas, ministros etc.). Somos filhos e filhas de um Deus que nos ama. Ele quer que nos realizemos numa dessas vocações e que sejamos felizes, lembrando que toda vocação é sempre em benefício dos outros, ou seja, é serviço.
* Rosa Clara Franzoi, Missionária da Consolata, é animadora missionária.
Fonte: Rosa Clara Franzoi / Revista Missões