Índios do sul: recado dado

Egon Dionisio Heck *

Os índios do chimarrão, do Rio Grande do sul e Santa Catarina, se bolearam pras bandas de Brasília com o coração quente e a mente afiada, pra dar uns talhos em quem necessário fosse, pois seus direitos, desrespeitados, deviam ser devidamente recuperados. Traziam uma baita raiva pelas recentes perdas de lideranças e crianças sob a imobilidade e o olhar displicente de quem da saúde deveria cuidar.

Não queriam continuar com o sentimento de estarem no ministério da morte, ao invés da saúde, pois até caixão para enterrar os mortos estava faltando. Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) era sinônimo de último ai, da desatenção à saúde de suas comunidades. Depois de muito barulho e fala forte, conseguiram se reunir com o Ministro da Saúde, duas vezes, o obter dele quatro páginas de compromissos devidamente assinados pelas autoridades e lideranças presentes. Pode não ser a salvação para o falido sistema de saúde, mas é um bom começo para construção de um sistema que funcione.

Mas a briga não era apenas aí. Ao Ministro da Justiça também quiseram deixar o recado claro - não fique com enrolação com as nossas terras. Demarcação já. Cobre, senhor ministro, da presidente Dilma a homologação das terras demarcadas. O ministro de Minas e Energia, não tem patavina a fazer nessa questão!

Também estiveram no Congresso. Ali foram tranqüilizados, de que a PEC 215 ficará dormindo. Porém já ressabiados com tanta enganação, por via das dúvidas, deram-se por satisfeitos, no momento. Mas com a advertência -se tentarem aprovar- vai ter muito entrevero, que nem briga de facão no escuro.

Na Funai quiseram ver tintim por tintim a situação de cada terra não demarcada e qual o tempo ainda vai levar para tudo estar resolvido.

Também estiveram com dois ministros do Supremo Tribunal Federal, para conversar sobre a situação de duas terras indígenas da região e que precisam ser julgadas para concluir os procedimentos de demarcação.

Bom barbaridade
Apesar de toda essa maratona ainda sobrou um tempinho para jogar um futebol. Foi para oxigenar as idéias e desenferrujar o corpo cansado pelas quase 40 horas de viagem.

Numa rápida avaliação, ressaltaram alguns aspectos importantes, vitórias suadas, ou ao menos compromissos que podem mais claramente ser cobrados. "Das várias vindas aqui para Brasília essa foi a que melhores resultados obtivemos", destacou das lideranças. Destacaram o compromisso de todos e que certamente o espírito daqueles guerreiros que já partiram, estiveram presentes nessa mobilização, dando força e sabedoria nas horas mais difíceis. Também foi lembrada a importância da presença de várias lideranças jovens, "pois nois não sabemos quanto tempo ainda vamos ficar", destacou o veterano Augusto, que já está na luta desde a década de setenta. Salientaram também o fato de estarem os três povos ali unidos na luta - Kaingang, Guarai Mbyá e Charrua. Além disso, estavam em sintonia com suas comunidades que também fizeram movimentos, assim como estavam unidos à luta dos povos indígenas de todo o país.

* Egon Dionísio Heck é assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Cimi 40 anos - www.egonheck.blogspot.com.br

Fonte: CIMI

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