Comunicação para a comunhão

Demétrio Valentini*

Neste domingo a Igreja no Brasil celebra a Ascensão do Senhor. A data seria na quinta-feira. Mas para facilitar, a Igreja coloca a celebração no domingo subsequente. Não para diminuir sua importância, mas para ressaltá-la.

Vem se firmando uma tradição, ainda recente, de vincular a Ascensão com a comunicação. Para a Igreja, este domingo é o Dia Mundial das Comunicações.

Não é preciso muito artifício para justificar esta vinculação. Acontece que foi no dia da Ascensão que Jesus enviou sues apóstolos, para que fossem ao mundo inteiro anunciar a Boa Notícia que tinham vivido e testemunhado.

Dizemos de maneira tradicional que, naquele dia Jesus transformou seus discípulos em missionários. Poderíamos agora dizer, em termos de comunicação, que naquele dia Jesus transformou seus seguidores em repórteres da maior agência de notícias, que era o projeto divino de salvação, onde o Cristo tinha se envolvido por inteiro, e onde passava a engajar os que tinham estagiado com ele durante três anos.

A missão confiada aos apóstolos continua até hoje. Com uma importante diferença. Os repórteres atuais de Cristo, dispõem de muito mais recursos técnicos, que podem ser colocados ao serviço de suas reportagens, ampliando enormemente sua repercussão.

Dá para imaginar o que faria São Paulo se dispusesse de uma emissora de rádio, ou de um canal de televisão. Como se atreveu a falar no areópago de Atenas, com certeza iria se valer do microfone para ampliar sua mensagem.

Hoje assistimos a um frenético crescimento dos meios de comunicação, que, pelo visto, farão do celular a referência prática para capturar os destinatários. Neste rápido crescimento de possibilidades, permanece o grande desafio: como utilizar estes meios a serviço da verdadeira comunicação?

Os inícios do Concílio Vaticano II coincidiram com os inícios da conquista espacial. Naquela época nem se podia imaginar que a verdadeira conquista, não seria chegar à lua ou a outros planetas. Mas seria, isto sim, conquistar a terra e enredá-la com infindas mensagens instantâneas.

No seu discurso de abertura do Concílio, de maneira profética, João 23 já estava intuindo que, mesmo sem querer, o progresso iria provocar benefícios insuspeitados para a humanidade.

Disse ele: "No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das vezes para além do que eles esperam, se dirigem para o cumprimento de desígnios superiores e inesperados".

Foi o que aconteceu com a corrida espacial. No início da década de 60, o Presidente Kennedy lançou aos americanos o desafio de chegar na lua dentro daquela década. E chegaram, em 1969. Mas não imaginavam que a grande vantagem dos satélites lançados ao espaço seria revolucionar por completo os meios de comunicação, valendo-se dos satélites, que agora as parabólicas sintonizam sem problemas.

Lembro bem os limites da comunicação antes dos satélites. Em 1962, ano da abertura do Concílio, se realizava no Chile a copa do mundo. Nós estávamos em Roma. A grande façanha da televisão europeia era garantir que, 48 horas depois de terminado um jogo no Chile, as imagens da partida estariam sendo divulgadas na Europa!

A moderna tecnologia oferece tantas possibilidades. Como colocá-las a serviço da humanidade? Eis a questão!

*Demétrio Valentini é bispo de Jales e Presidente da Cáritas Brasileira até novembro de 2011.

Fonte: www.adital.com.br

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