Uma nova política é possível ?

Montserrat Martins *

Gostei da resposta do Oded Grajew ao Lasier Martins, que perguntou o que o Forum Social tinha produzido "de resultados" até hoje. Oded pacientemente discorreu sobre as ideias que, em contraposição a Davos, passaram a ser implantadas em vários países (incluindo o Brasil) que hoje tem situação mais sólida que aqueles que seguiram as ideias de Davos.

Ideias e ações inovadoras mudam destinos. As sociedades evoluem não pelas maiorias acomodadas, mas por práticas "emergentes", que podem vir a influenciar ou se tornar novas maiorias, no futuro. Direitos dos animais já é um assunto mais visível, por exemplo. E a acessibilidade ? Falta muito, há apenas um início de compreensão da importância do problema. Há pessoas que acham que as coisas nunca vão mudar. Imagine, então, o susto daqueles ditadores quando surgiu a "primavera árabe".

Demoex, Defesa da Orla, Desarma Brasil, você ouviu falar o que eles fazem? Do Massa Crítica você conhece as polêmicas, mas sabe como eles se definem ? O Vida Urgente é claro que você conhece, com suas iniciativas comoventes que se tornaram uma unanimidade e uma referência de iniciativa social não governamental. A Justiça Restaurativa (JR) é praticada nas esferas públicas, mas talvez você não saiba que já existe a JR comunitária. E o Anonymous ?

Iniciativas não governamentais em áreas tão diferentes, algumas polêmicas, outras ainda pouco conhecidas, antes de despertar interesse da mídia estão criando vínculos com a sociedade - por isso podem ser vistas como "emergentes", que estão cativando primeiro a própria sociedade.

É lugar comum que a política está "na lama", em descrédito, mas por acaso essas iniciativas não são também políticas ? Confundimos o conceito amplo com o seu momento eleitoral, pensamos apenas em política partidária, esquecendo a apartidária ou supra-partidária. Todos percebem a distância entre a classe política e os eleitores, então porque não valorizar essas práticas não partidárias ?

A menos que você acredite em "salvadores da pátria" ou em "Brado Retumbante", não adianta mudarmos de políticos sem transformar a própria sociedade. Neste momento, um grupo que está propondo essa discussão é o Nova Política (tou nessa), que lançou essa semana o seu coletivo gaúcho, no evento "Compartilhando Ideias e Ações", para o qual mais de uma dezena de participantes de movimentos sociais foram convidados a compartilhar suas experiências.

Além de ouvir movimentos sociais gaúchos, falaram líderes nacionais do Movimento Nova Política, Ricardo Young (SP), Aspásia Camargo (RJ) e Zé Fernando Aparecido de Oliveira (MG), culminando com Marina Silva. Ela falou em "descolamento da borda" para descrever os grupos e "indivíduos não governamentais" que não estão identificados com as práticas políticas dominantes, midiaticamente dirigidas.

Desses "núcleos vívos" da sociedade que não se sentem representados é que podem nascer mudanças de valores, condutas, ações políticas. As pessoas gostariam de estar desfrutando a vida, se pudessem, ao invés de se mobilizar por alguma causa. Quando se mobilizam é porque estão "na borda", ou em outras palavras, não fazem mais parte da "pizza". Do ponto de vista conservador, se pergunta "em que isso vai dar?". A verdadeira questão e´"em que a sociedade vai dar ?". Pergunte aos árabes.

* Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: www.ecodebate.com.br

Deixe uma resposta

4 × dois =