Diógenes e a Lâmpada

Alfredo J. Gonçalves, CS *

Diz a história (ou a lenda) que o filósofo cínico Diógenes passeava pelas ruas de Atenas, Grécia, em plena luz do dia, com uma lâmpada acesa nas mãos. A quem lhe interrogava sobre um comportamento tão estranho, respondia: "Procuro um homem!". Os filósofos, sábios, loucos e profetas costumam agir assim: com frequência falam mais com determinadas atitudes simbólicas do que com as palavras.

O Brasil ou a capital federal estão mais do que necessitados de uma figura como Diógenes. Desta vez para procurar não um homem, mas um ministro. Da mesma forma que não faltavam pretensos homens na histórica cidade Atenas, tampouco faltam candidatos a ministro no Planalto Central ou no território nacional. Que o digam os partidos ao disputarem com unhas e dentes tais fatias do poder.

O que falta é a condição ética para ser um homem, no caso de Atenas, e para ser um ministro, no caso de Brasília. A prática política desses funcionários privilegiados do governo, a levar em conta a avalanche de acusações que pesam sobre eles, deixa muito a desejar para a lisura e idoneidade do cargo que ocupam. O mais comum é que a riqueza ajude a conquistar o cargo e que este, por sua vez, aumente o patrimônio.

Talvez não seja à toa que a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, esteja disposta em forma de pedras de dominó. A queda dos ministros, com efeito, faz lembrar a expressão "efeito dominó". Uma a uma, desde Palocci até Lupi, seis pedras foram tombando, movidas pelos ventos da corrupção, das fraudes, do tráfico de influência, do enriquecimento ilícito, do nepotismo, do apadrinhamento, do corporativismo, além de outros vícios tão conhecidos e notórios na trajetória política brasileira. Longe de ser extirpado, o coronelismo oligárquico parece ganhar vida nova

E a faxina a que se propôs a Presidente Dilma parece longe do fim. Na verdade, não faltam mecanismos de inibição ou punição para tais comportamentos. O exemplo mais à mão a Lei da Ficha Limpa, que hoje corre sério risco de ser abortada antes mesmo de posta em vigência. Seu exato oposto é a Imunidade Parlamentar, prevista no artigo 53 da Constituição Federal de 1988. Sob suas asas protetoras se escondem deputados e senadores, muitas vezes na função de ministros, para agirem ao abrigo da lei, com toda a liberalidade, autonomia e independência. Ao invés de "funcionários da população" tornam-se verdadeiros "senhores" que não conhecem limites para a exploração dos cofres públicos. A pesada carga tributária se encarrega de cobrir os ralos.

Vale a pergunta: Será lícito que os legisladores de uma nação aprovem uma lei que os isenta de cumpri-la? São eles seres diferenciados, espécie de extraterrestres, acima dos cidadãos comuns? Estes pobres mortais, além de desconhecerem a imunidade parlamentar, são ainda mais vulneráveis pelo fato de, na maioria dos casos, não poderem arcar com os custos de um processo que costuma arrastar-se por anos ou décadas no labirinto do Poder Judiciário. O mesmo se aplica ao 14º e 15º salário, sem falar das formas diferenciadas de aumento dos rendimentos mensais e dos diversos "auxílios": moradia, viagens, combustível, etc.

Definitivamente, precisamos com urgência de um Diógenes em Brasília, de lâmpada acesa, à procura de um ministro!

* Alfredo J. Gonçalves, CS, é superior provincial dos missionários carlistas e assessor das pastorais sociais.

Fonte: www.provinciasaopaulo.com

Deixe uma resposta

3 × dois =