A vida matada e a mata

Egon Dionisio Heck *

"Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem essa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês...Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão (Valmir). Guaiviry já é terra Indígena". Nestes termos se expressou o nhanderu Nisio, baleado, agonizante. Foi isso que relataram aos membros do Conselho da Aty Guasu, que foi levar apoio ao grupo e se inteirar do bárbaro ataque. Conforme relato feito aos membros do Conselho, deram três tiros em Nisio - nas pernas, no peito e na cabeça. E que jogaram na carroceria da camionete, juntamente com o corpo de Nisio, mais três crianças que estavam chorando ao redor do corpo.

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Polícia federal, força nacional, especialistas foram ao local da execução brutal do nhanderu Nisio Gomes, no tekohá Guaiviary, no amanhecer do dia 18 de novembro. Sangue Guarani Kaiowá no chão. Rastos do corpo arrastado. Apenas constatações. Um pequeno resto da mata testemunhou mais um assassinato de seus seculares guardadores.

Matam e destroem a mata com a mesma desenvoltura e certeza de impunidade há anos, décadas, séculos. A revolta da Mãe Terra e de seus filhos primeiros chegará. Como diz a canção em homenagem a Marçal Tupã'i "Chegará o dia em que o alto preço dessa covardia será cobrada pelos Guarani".

Enquanto isso as lágrimas e o sangue continuam banhando esse chão em revolta, em gritos, em protesto. Os ouvidos do mundo não estão mudos. O clamor das vidas e da natureza sacrificada diariamente no altar do progresso, da acumulação do capital, do deus dinheiro, não permanecerão impunes!

Que o sangue de Nisio Gomes Kaiowá Guarani se junte ao coro dos guerreiros da vida para juntos nos unirmos no grito que ressoa mundo afora.

A diocese de Dourados, através de seu bispo dom Redovino, em manifesto declara:

"Ao mesmo tempo em que lamenta profundamente o novo ataque perpetrado contra os povos indígenas, a Igreja Católica presente na Diocese de Dourados renova seu pedido às autoridades civis, judiciárias e militares para que, de uma vez por todas, recorram a todos os meios para pôr fim uma situação que a todos nos envergonha e oprime, e pede perdão às vítimas de tamanha injustiça e violência, cometida, provavelmente, por pessoas que se dizem cristãs..."

Frente à mercantilização da vida e da natureza, os povos da resistência são portadores de alternativas. É por isso que o sistema da morte procura eliminá-los.

"A natureza, a Pachamama(Mãe Terra), a Vida: Não se vendem, Nem se endividam! Se defendem!
"Não podes comprar o vento,
Não podes comprar o sol.
Não podes comprar a chuva,
Não podes comprar o calor.
Não podes comprar as nuvens,
Não podes comprar cores.
Não podes comprar alegrias.
Não podes comprar minha vida
Vamos desenhando o caminho...
Vamos caminhando
Aqui se respira luta!
Aqui estamos de pé!
(Rua 13-Pasavoz)

Tekohá Guaiviry, Nisio Gomes Kaiowá Guarani, se junta ao batalhão dos que tombaram nessa luta nativa, milenar!

* Egon Heck, Povo Guarani Grande Povo, Cimi, 40 anos, equipe Dourados.

 

Fonte: Cimi MS

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