Mensagem do 1º de Maio

Bruno Gamberini *

"Veja como vive a Classe Trabalhadora! Eles trabalham para quê?"

Acabamos de celebrar a Páscoa da Ressurreição de Jesus o Filho de Deus, o carpinteiro da Galileia. Fizemos memória da grande caminhada de libertação do povo de Deus, retomada na vida, na prática e na mensagem deste mesmo Jesus que, em seu tempo, assumiu a condição de trabalhador, sendo filho de um carpinteiro (Mc 6,1-6). Escolheu seus discípulos do meio da classe trabalhadora e, a partir deles anunciou a Boa Nova do Reino de Deus (Lc 4,16-30; Mt 11,2-6).

Como seguidoras e seguidores de Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro José, fazemos memória, neste 1º de maio, de todas as lutas da classe trabalhadora, celebrando os 125 anos dos acontecimentos em Chicago, que deram origem ao dia dos trabalhadores e trabalhadoras. Celebrar o 1º de maio, como memória das lutas, é condição para que a classe trabalhadora possa estar sempre atenta na defesa de seus direitos e buscando oferecer as linhas mestras e os alicerces de uma sociedade respeitadora da comunidade de vida: pessoas humanas e de todos os seres presentes na natureza.

Inicialmente, à luz do tema do 1º de maio - "Vejam como vive a classe trabalhadora! Eles trabalham para quê?" - queremos apontar alguns obstáculos presentes na vida dos trabalhadores e trabalhadoras que os impedem de ter uma vida digna.

Nas últimas décadas, houve mudanças profundas no mundo de trabalho, com um ritmo cada vez mais acelerado e jornadas longas, gerando intensificação do trabalho e, consequentemente, pouca convivência familiar e baixa sociabilidade. Os trabalhadores e trabalhadoras não têm tempo para sua organização nos bairros, nas fábricas, como também na política, prejudicando sua participação cidadã e dificultando a sua organização como classe e na defesa de seus direitos e deveres..

A reestruturação do mundo do trabalho tem trazido maior instabilidade e maior rotatividade, dificultando a permanência nos postos de trabalho, tendo no processo de terceirização e precarização do trabalho um agravante que acaba gerando péssimas condições de trabalho e de salário. As recentes lutas dos trabalhadores e trabalhadoras das grandes obras relacionadas com a construção das hidrelétricas, de modo especial em Jirau, no Rio Madeira, Rondônia, como também nas obras relacionadas com a construção dos complexos portuários de Pecém no Ceará e Suape em Pernambuco, demonstram o desrespeito com a classe trabalhadora no Brasil.

Em Campinas, como também em várias cidades da região metropolitana, há denúncias de trabalho escravo e péssimas condições de alojamento e alimentação para os que trabalham na construção civil. Também presenciamos um processo de privatização da saúde e da educação e demais serviços públicos, dificultando ainda mais o respeito aos direitos universais anunciados em nossa Constituição.

O salário mínimo, hoje de R$ 545,00, não atende as exigências da Constituição no seu Capítulo II, artigo 7º, devendo ser de R$ 2.149,76, de acordo com o DIEESE.

Sabemos também que os jovens são os mais prejudicados no atual sistema de organização do trabalho, pois sofrem o maior índice de desemprego e continuam com dificuldade de entrarem no mercado de trabalho, sobretudo no que se refere ao primeiro emprego.

Os trabalhadores e trabalhadoras enfrentam um sistema capitalista que destrói a natureza, como tem sido denunciado pela Campanha da Fraternidade de 2011: "Fraternidade e a vida no Planeta".

Diante deste quadro atual que aponta sérios obstáculos a uma vida digna para os que vivem do trabalho, queremos também indicar a contribuição que os trabalhadores e trabalhadoras podem dar na conquista de uma sociedade plenamente democrática do ponto de vista econômico, político, social e cultura e ecológico.

É importante que os trabalhadores e trabalhadoras fortaleçam sua organização de base, sobretudo reforçando os sindicatos e definindo o papel das centrais sindicais. Os enfrentamentos nos canteiros de obras das hidrelétricas, das refinarias, dos complexos portuários e da construção civil em geral, estão apontando para a necessidade de um novo patamar de organização dos trabalhadores. Esta perspectiva já estava presente na afirmação de João XXIII apontando a participação dos trabalhadores como um dos grandes fenômenos da nossa época, um verdadeiro sinal dos tempos: "Primeiro, a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras. Partindo da reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza econômico-social, avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, finalmente, se empenham na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de objetos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas em todos os setores da vida social, tanto no econômico-social como no da política e da cultura" (Pacem in Terris, 40 - 1963).

Para fugir à alienação do trabalho e viver a subjetividade do trabalho, através de sua organização como classe, os trabalhadores, como produtores da riqueza de uma nação, são chamados a contribuir para um novo modo de produção que respeite a comunidade de vida, buscando indicar pistas para a resposta das questões: "Para quem produzir? O que produzir? E como produzir?". Desta forma, também poderão influenciar na busca de energia sustentável, pois o acidente com a usina nuclear de Fukushima, no Japão, que repete, depois de 25 anos, o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, nos alerta para o investimento em energias limpas, como a energia solar e a energia eólica.

Como o Servo Sofredor, figura presente nas celebrações da Semana Santa, os trabalhadores e trabalhadoras tem oferecido sua vida em benefício do bem comum, mas muitas vezes, como o próprio Jesus de Nazaré, são perseguidos e prejudicados pelo atual sistema capitalista neoliberal. Sofrem no trabalho, mas produzem vida para toda a sociedade. Está no tempo de construir uma sociedade justa e fraterna, onde a partilha dos bens possa ser o grande sinal de que estamos antecipando a presença do Reino de Deus no mundo.

Animados por esta esperança é que nós cristãos e cristãs, como também todas as pessoas de boa vontade, continuamos a acreditar na caminhada dos homens e mulheres de boa vontade na busca de um outro mundo possível e urgente.

* Dom Bruno Gamberini, Arcebispo Metropolitano de Campinas.

Fonte: www.cnbbsul1.org.br

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