Centrar a nossa vida em Cristo: Entrevista com o Pe. Aquiléo Fiorentini, Superior Geral do Instituto Missões Consolata

Jaime C. Patias *

XII Capítulo Geral

"O tempo em que vivemos requer a capacidade de martírio, ou seja, ter a coragem de ir contra a corrente e saber ler a realidade com os olhos de Deus".

A estrada que liga as cidades de Três de Maio e Tucunduva, municípios da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, passa por São Brás, comunidade formada por descendentes de imigrantes. Famílias numerosas, trabalhadoras e muito religiosas, uma herança dos antepassados. Foi nesse contexto que, em 1952 nasceu Aquiléo Fiorentini, filho de Guilherme e Rosália, Superior Geral do Instituto Missões Consolata - IMC, congregação fundada em 1901 e que hoje conta com cerca de mil membros atuando em 21 países de quatro continentes. Aquiléo entrou no seminário em 1965 em Três de Maio prosseguindo seus estudos em Erexim, RS, e São Paulo. Cursou teologia em Roma, na Itália onde fez também o mestrado em missiologia e psicologia. Recém-ordenado, em 1982, trabalhou por quatro anos em Moçambique quando o país vivia tempos difíceis. Regressou ao Brasil para se dedicar à formação de seminaristas. Na Direção Geral por 12 anos (seis como Conselheiro e outros seis como Superior), padre Aquiléo conhece as diversas realidades onde atuam seus missionários. Em Roma, às vésperas de mais um Capítulo Geral a realizar-se nos meses de maio e junho, o padre falou à revista Missões.

Quais as suas expectativas para o XII Capítulo Geral da Congregação?
As expectativas são de que seja um renascer para uma vida nova, uma missão nova e um estilo novo. Isso significa viver o nosso carisma de um modo novo, como queria o Fundador, viver mais pobre, com espírito de doação e muito mais em comunhão, em família. Estes valores estão sendo tratados nos documentos capitulares e certamente ajudarão a nossa família a crescer em entusiasmo, número e na qualidade da Missão.

Diante de um mundo em constante mudança, em que o carisma dos missionários da Consolata poderia contribuir para enfrentar os desafios da evangelização?
Acredito que como "filhos do Bem-aventurado Allamano" (o Fundador) a primeira contribuição seria a esperança. Allamano aprendeu de seu tio, José Cafasso, que não devemos nos desesperar nunca diante dos desafios por mais difíceis que sejam. Outra contribuição que vem do carisma missionário é a coragem de ultrapassar as fronteiras, acolher e colaborar com o diferente. Certamente um Instituto como o nosso que tem como pedagogia a evangelização aliada à promoção humana, com a santidade de vida, pode comunicar valores motivando ações concretas na promoção humana. O nosso Fundador era uma pessoa muito centrada, concreta, que levava para a ação.

No seu trabalho de Superior Geral o senhor acompanha os missionários nas mais diferentes frentes de missão. Quais são as presenças mais significativas?
Creio que é a eficácia de uma ação de promoção humana, que deve corresponder às necessidades. Nisso vemos uma evolução. Onde antes a nossa presença era tida como essencial, hoje já não é tanto. Assim, podemos nos dedicar mais à animação missionária e vocacional e aos serviços qualificados na Igreja local ou na promoção da justiça e da paz. Mas existem situações onde a presença dos missionários é muito importante. Por exemplo, o trabalho realizado há mais de 40 anos com os Yanomami no Catrimani, Amazônia brasileira. Mesmo após 100 anos, a pedagogia missionária do Allamano, continua atualíssima na defesa e promoção daquele povo. Outro trabalho significativo é aquele realizado pelos missionários e missionárias com o povo Warao em Nabasanuka, no nordeste da Venezuela. Uma terceira presença importante diria que é a da Mongólia, na Ásia. O trabalho torna-se ainda mais significativo quando realizado em comunhão com as irmãs e os leigos missionários.

Como equilibrar a escassez vocacional e o envelhecimento dos sacerdotes e irmãos, diante da quantidade de obras?
Penso que devemos continuar com o projeto de reestruturação nas diversas Regiões diminuindo presenças e empenhos onde, segundo o nosso carisma, não somos tão necessários. Poderíamos deixar para outras forças certos trabalhos e nos concentrar no nosso específico, como a animação missionária. Precisamos também diminuir nossa presença nos países onde temos muitas frentes de trabalho. Este caminho não é fácil porque temos muitos missionários em idade avançada que podem dar uma contribuição significativa em certos empenhos compatíveis com as suas condições. Mas o trabalho de ajustamento deve continuar.

Quais seriam os valores mais importantes na Vida Consagrada?
O fundamental é centrar a nossa vida em Cristo. Depois ser capaz de viver a Missão sem protagonismo, portanto, com humildade. Além disso, ser concreto, conforme ensinava Allamano. O tempo em que vivemos requer ainda a capacidade de martírio, ou seja, ter a coragem de ir contra a corrente e saber ler a realidade com os olhos de Deus. Isso ajuda o missionário a fazer a síntese entre o mundo e a espiritualidade, numa atitude de escuta, outro dom importante. Dessa forma estaremos mais aptos a colaborar com as pessoas que precisam.

O IMC nasceu na Itália, mas hoje é internacional e pluricultural, com membros provenientes de 23 países e diversas culturas. Como aproveitar essa riqueza?
Vejo isso como uma riqueza imensa porque as problemáticas e questões presentes numa cultura podem ser vistas com olhos diferentes, onde cada um pode contribuir para dar soluções positivamente. Isso se torna uma força porque cada cultura pode dar o melhor de si para a criatividade na evangelização, seja no conteúdo, como na metodologia, no modo de fazer o nosso específico. Isso significa que, internamente um dos maiores valores é a acolhida do outro, e isso é positivo para a Congregação e para a sua contribuição na Igreja universal inserida num mundo plural. Nisso o particular pode contribuir com o todo para elevar o nível de bondade e santidade no mundo.

O que diria aos jovens que despertam para a vocação missionária?
Que a vida religiosa e missionária na Consolata vale a pena, porque é um dom enorme que o Senhor nos dá. Diria para se doarem totalmente com alegria, não pensando em si, mas naquilo que é específico na vida do religioso missionário, para que os outros tenham vida e vida em abundância. Então, não devem ter receio de doar a vida, vivendo na pobreza, na castidade e na obediência. É isso que torna a pessoa livre para se doar sem reservas.

* Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões. Publicada na revista Missões, N.03, Abril 2011. WWW.revistamissoes.org.br

Fonte: Revista Missões

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