Depende de nós...

Jaime C. Patias *

Com o fim do ano 2010, encerramos também a primeira década do Século XXI. Em tempos de globalização corremos o risco de sermos guiados por um único pensamento, ditado pela política neoliberal de mercado e consumo.

Ao invés de celebrar o nascimento de Jesus, o Natal tornou-se sinônimo de comércio. Por outro lado, percebemos ao nosso redor, uma grande diversidade que mostra o Reino de Deus presente na sociedade, multi-étnica, pluricultural, macro-ecumênica, inter-religiosa. No anúncio da mensagem cristã, o pluralismo nos desafia ao diálogo, nas suas múltiplas modalidades e meios, em comunidades organizadas em rede e em movimento para além das formas tradicionais da "paróquia".

Devemos dialogar com os mais variados interlocutores, desde os grupos éticos das sociedades originais até os "nativos digitais". A diversidade é um dom que se insere na dinâmica misteriosa dos desígnios de Deus que demonstra uma grande preocupação com o ser humano. Para colaborar na obra da Criação, nós também devemos demonstrar essa mesma atitude de amor e misericórdia. Viver o pluralismo que está nesse princípio significa reconhecer a diversidade como um valor, como uma riqueza que vem de Deus e que nós não conseguimos compreender na sua totalidade.

Mas, se vivemos num tempo favorável ao diálogo, por outro lado, percebemos um endurecimento das relações com o surgimento de fundamentalismos e extremismos motivados pelo medo do "diferente", do outro. Essa é a grande estranheza que sentimos na sociedade moderna. Não dá para festejar o Natal de Jesus em paz, enquanto prevalecer o preconceito e o desrespeito entre os seres humanos. Nessa linha de pensamento, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2011, o Papa Bento XVI, afirma que, "a liberdade religiosa é a liberdade das liberdades", caminho para a paz. Que dizer a respeito dos Direitos Humanos?

Muitas são as iniciativas da Igreja para evangelizar, a partir do encontro com Jesus Cristo. Estamos empenhados em buscar saídas para uma Igreja que quer ser discípula missionária: "abandonar as estruturas caducas; viver e promover uma espiritualidade de comunhão e participação; assumir atitude de permanente conversão pastoral; ir além de uma pastoral de mera conservação e não cair na armadilha de nos fecharmos em nós mesmo".

Durante o ano a revista Missões ofereceu um rico conteúdo para animar a Igreja no Brasil a ser mais comprometida com sua missão aqui e além fronteiras do mundo plural. Para isso, além dos organismos afins, contamos com o Projeto Nacional "O Brasil na Missão Continental", que poderia ser mais valorizado. As prioridades deveriam mirar a formação de lideranças para atuar nas mais variadas áreas da sociedade, ministérios orientados pelos dons e uma espiritualidade contagiante, agindo em estruturas eficazes. Precisamos uma Igreja com a cara de Jesus Cristo, animada pela força do Espírito, itinerante, encarnada e aberta aos anseios do mundo. Essa Igreja depende de nós.

* Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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