Um olhar sobre a história da Igreja do Brasil

Mário de Carli e Maria Salete

Na Festa da Natividade de Nossa Senhora, dia 8 de setembro, padre Manoel Godoy, diretor executivo do ISTA (Instituto Santo Tomás de Aquino) de Belo Horizonte, MG, apresentou o tema: "Projetos e Métodos para uma Nova Evangelização. Memória, seguimento e perspectivas".

O teólogo teceu considerações sobre a Missão a partir da Encíclica Redemptoris Missio n. 33. A Missão como anúncio de Jesus Cristo aos que ainda não o conhecem.

Se olharmos para os projetos de evangelização da Igreja persistem elementos da "implantação da Igreja", um projetar-se de si mesma diante do mundo. Porém o sonho da Nova Evangelização ainda continua e suas raízes estão no Evangelho, sobretudo na vida dos cristãos.

Muito embora, hoje, a Igreja Católica quer se fazer ouvir a qualquer custo, vive o dilema de um tempo onde sua palavra ainda não consegue unificar o caminhar dos cristãos que ela se propõe. Em virtude disso, há uma nova onda clerical em que se prioriza a estética, a imagem, o show e a aparência em detrimento da ação evangelizadora. Porém, um dos grandes saltos qualitativos da Igreja depois do Concilio Vaticano II em 1974 foi o documento pós-conciliar, Evangelli Nunciandi "Evangelização para todos os Povos" que teve melhor recepção pelo conjunto do povo de Deus.

Sobre a gênese da Pastoral no Brasil
Padre Manoel Godoy lembrou que no final do século XIX aconteceu a separação entre Igreja e Estado, a República marca profundamente o nosso ser Igreja no Brasil, e o episcopado começa a ver o Brasil de uma maneira nova para articular suas pastorais. Tivemos pessoas ilustres com sua linguagem nos processos evangelizadores, como dom Macedo Costa - bispo de Belém do Pará - que olhava todo o nosso país e já sonha com uma pastoral de conjunto - uma ação conjunta da Igreja - na qual expunha à cúria romana a necessidade de um concílio plenário brasileiro. Não obtendo êxito impulsionou a criação de novas dioceses.

Padre Manoel Godoy recordou dois momentos importantes na vida da Igreja, orientado pelo Cardeal Leme: em 31 de maio de 1930 a visita de Nossa Senhora Aparecida ao Rio de Janeiro com a presença de 1 milhão de pessoas; e no dia 12 de outubro de 1931, a inauguração da estátua do Cristo Redentor.

O Governo Vargas tremeu de medo ao ver a influência que o Cardeal Leme exercia sobre o povo brasileiro. Com a sua influência junto à Constituinte, ele conseguiu a isenção de impostos, o ensino religioso e a filantropia. Grande foi nesta época a influência do Cardeal Leme na convocação dos congressos eucarísticos, e aproveitar destes eventos, para reunir os Bispos para pensar num método novo de evangelizar. Sem pensar muito estava nascendo uma nova visão sobre o episcopado brasileiro.

Surgia naturalmente o método ver, julgar e agir que, mais tarde, deu grande impulso à evangelização no Brasil. Surgiram assim algumas pistas para a ação católica em âmbito nacional. Notavam constantemente que a fragilidade doutrinal era uma constante, justamente com a escassez de clero. Estes dois elementos conjugados se constituem o binômio de preocupação desde a década de 30.

Os resultados se fizeram ver rapidamente: a Ação Católica surge em 1935 e dez anos mais tarde, tem seu papel fundamental na evangelização até os dias de hoje. Em 1950 sob a influência do método belga surgem novos movimentos: JAC, JEC, JOC, JUC e que deu um impulso novo na ação católica no Brasil. Cada grupo tinha o seu assistente espiritual e realizaram muitas iniciativas, graças à aliança entre o Papa, dom Hélder Câmara e o Núncio Apostólico.

Em 1939, liderado por dom Leme realizou-se o I Concílio Brasileiro tão sonhado por dom Macedo. Neste evento foi lançado uma carta pastoral sobre a atuação dos Leigos na sociedade brasileira. Nela constam nomes famosos como os de Jackson Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, que escreveu o Romance "Lições de Abismo". Em 1946 surge a primeira universidade católica e em 1952 surgem a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e o Movimento do Mundo Melhor com o padre Lombardi tendo o aval do Papa Pio XII. Em 1954 os Religiosos fundam a Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB, em 1960 surge o Movimento de Educação de Base.

Essa foi uma das melhores épocas da Igreja do Brasil, seja pelos movimentos e obras nascentes, seja pelas vozes que se ouviam dos melhores teólogos. Assim se antevia uma Igreja que tinha o que apresentar mais tarde no Concílio Vaticano II.
Plano de Emergência
Em 1962, no Rio Grande do Norte houve uma grande seca. Como resposta para socorrer aos necessitados surgiu a Coleta Missão da Fraternidade na cidade de Nísia Floresta. Esta iniciativa foi o embrião da Campanha da Fraternidade que se estendeu para todo o Brasil. No dia 25 de setembro de 1962 nascia o primeiro Plano de Pastoral do Brasil, chamado "Plano de Emergência" (1962-1965).

Enquanto isso, a voz do Papa João XXIII, se fazia ouvir sinalizando quatro perigos para a doutrina dos cristãos no continente: o Naturalismo, o Protestantismo, o Espiritismo e o Marxismo. Junto a estas considerações do Papa o episcopado nacional agrega a essas preocupações: o individualismo no apostolado, a falta de clero para evangelizar e, sobretudo, como seriam os convênios entre Governo e Igreja.

O Plano de Emergência teve 4 objetivos como metas centrais:
a) A renovação paroquial e buscar princípios básicos e requisitos para a renovação paroquial; b) Recuperação do ministério sacerdotal; c) Renovação do Educandário Católico; d) Introdução a uma Pastoral de conjunto onde é analisada a descoberta da ruptura entre Igreja e o mundo.

Em meio a estes eventos surge em 1963 o Concílio Vaticano II e o Plano de Emergência fica para mais tarde, não havendo um clima favorável para o seu bom desempenho. O Concílio Vaticano II publicou 16 Documentos, dos quais 6 se tornaram os que mais tiveram expressão na realidade brasileira: Dei Verbum, Lumen Gentium, Ad Gentes, Sacrosanctum Concilium, Gaudium et Spes, Unitatis Redintegratio. Todas elas criaram meios e linhas para a Igreja do Brasil se poder organizar pastoralmente.

Plano Pastoral de Conjunto (1966-1970)
A Igreja do Brasil procurou trabalhar todos estes seis Documentos do Vaticano II, e a partir deles, surgiram muitas iniciativas pastorais em todo o país. Forneceu não somente uma estrutura para CNBB trabalhar melhor, mas a Igreja teve que aprender a dialogar com todas as tendências do mundo e forças da sociedade.

A partir das Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora, a Igreja no Brasil tem procurado trabalhar as exigências: o Serviço, o Diálogo, o Anúncio e o Testemunho de Comunhão, na perspectiva da pessoa, da comunidade e da sociedade. Atualmente existem dez Comissões Episcopais.

Hoje, com o Documento de Aparecida, a Missão Continental acontece com pequenas iniciativas ou então não irá muito longe. É da base que virão as pequenas ações para dar impulso a uma dimensão latino-americana.

 

Fonte: Revista Missões

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