Carta do Povo Terena ao Presidente Lula

Povo Terena

Senhor Presidente

Nós do povo indígena Terena da Terra Indígena de Cachoeirinha, município de Miranda, MS, não conseguimos entender tanta demora em demarcar nossas terras tradicionais. Já esperamos há mais de 28 anos e até o momento nada foi feito.

Recentemente fomos expulsos violentamente da nossa própria terra, como se fossemos animais. Tudo sob a ordem do governo do Estado do Mato Grosso do Sul.

O processo da terra indígena Cachoeirinha está no Supremo Tribunal Federal, aguardando julgamento, não tendo nada que impeça o seu julgamento. Entendemos que a justiça está fazendo o jogo que o governo do Estado, políticos e interesses econômicos que querem somente atrapalhar e adiar o processo. Com essa demora, no dia 17 de maio de 2010 a comunidade foi violentamente expulsa de sua terra com a presença da polícia do Estado - CIGOE, que estava fortemente armada, usando balas de borracha, gazes de efeito moral e cães farejadores. A comunidade em nenhum momento reagia à covarde violência, pois entendia que estava no seu direito, não fazendo nada de errado. Apenas estava aguardando o julgamento do Supremo Tribunal Federal.

Nós queremos urgência na demarcação e devolução de nossas terras conforme determina a Constituição e legislação internacional a respeito.

Continuamos confinados em 2.600 hectares, em seis aldeias, com quase dez mil pessoas. Dessa forma ficaremos totalmente dependentes de programas sociais que apenas nos mantém vivos e se constituem numa humilhação. Só a restituição de nossas terras poderá novamente nos propiciar autonomia com a produção de alimentos para nossas comunidades e população da região.

Senhor presidente, nós não estamos pedindo, estamos exigindo que se cumpra a legislação brasileira, que garante nossas terras tradicionais.

Comunidade da Terra Indígena Cachoeirinha, 24 de agosto de 2010

Fonte: Terra Indígena Cachoeirinha, MS.

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