Jaime C. Patias *
O mundo está marcado por grandes mudanças que afetam profundamente nossas vidas. Mais do que época de mudança, fala-se em mudança de época. Os grandes valores da humanidade estão sendo abafados pela dinâmica do mercado, caracterizada pela indiferença ou ausência de sensibilidade.
Diferentemente do ocorrido em outras épocas, as mudanças atingem as relações em nível planetário. Normalmente elas são caracterizadas como o fenômeno da globalização seguindo a lógica do sistema econômico neoliberal que prioriza a técnica, o lucro, a aparência, o entretenimento, o espetáculo. Graças aos avanços da ciência e da tecnologia, a história se acelerou e as próprias mudanças se tornam vertiginosas. As novas descobertas permitem intervir geneticamente na vida dos seres vivos, e criar uma rede de comunicações de alcance mundial, através da qual se pode interagir em tempo real, sem tomar conhecimento das distâncias geográficas.
Esta nova ordem global é complexa, tornando-se difícil fazer uma análise abrangente e propor um significado coerente para tudo o que existe. Contudo as suas consequências podem ser percebidas em todas as dimensões da vida social, afetando povos e culturas, a ecologia, a economia, a política, as ciências, a educação, a linguagem, o esporte, as artes e a religião. Com humildade e honestidade somos convidados a entender como este fenômeno afeta a vida de nossos povos, das famílias, das comunidades e da Igreja. Nem sempre entendemos o que está acontecendo ao nosso redor. Uma visão unilateral ou reducionista provoca com frequência frustrações, ansiedades e angústias. Por essa razão muitos estudiosos sustentam que a realidade traz inseparavelmente uma crise de sentido.
Contudo, nem tudo é negativo. Entre os aspectos positivos desta mudança cultural aparece o valor fundamental da pessoa, de sua consciência e experiência, a busca do sentido da vida aqui e além, na transcendência. É justamente no resgate do valor da pessoa humana que a tradição cristã adquire uma importância renovada, sobretudo, quando se reconhece a presença de Deus no ser humano. Depois das grandes guerras, do holocausto, com o aparecimento da sociedade de consumo, temos uma reação geral, por um lado um reavivar de certa espiritualidade por outro o crescimento de grupos extremistas e fundamentalistas. Isso tudo é uma reação ao secularismo, à crise da civilização moderna.
O maior perigo é que a indiferença se torne a linguagem comum mediante a qual não reagimos mais a nada. A grande tarefa do ser humano sensato, da educação e das religiões é a de recolocar o humanismo no centro do mundo. Não aquele humanismo aintirreligioso, mas um humanismo que tem seu cerne em Deus. Nele a pessoa se torna símbolo de Deus pela prática ética que é uma prática de humanização reconhecendo o humano no outro. Uma prática de cuidar das questões que de fato são relevantes: a sensibilidade, o humanismo, o sentido da justiça e do direito. Eis o desafio da nossa sociedade num mundo em transformação.
* Jaime Carlos Patias, imc, mestre em Comunicação e diretor da revista Missões.
Fonte: Revista Missões