Arlindo Pereira Dias, SVD *
Nos dias 7 a 11 de maio de 2010 aconteceu em Roma, a assembleia plenária trienal da União Internacional das Superioras Gerais (UISG). O Brasil contou com 71 Superioras presentes, das quais 40 residem em Roma. A presença das Superioras Gerais no cenário eclesial tem se tornado sempre mais significativa. Além disso elas tem contribuído para o aprofundamento e reflexão do lugar da vida religiosa na Igreja e no mundo. Ao redor de 35 Gerais estiveram presentes na Assembleia. Durante a assembléia algumas das Irmãs falaram com entusiasmo da experiência de sororiedade e partilha que vivem na UISG.
A Assembleia na visão das brasileiras
A Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, Superiora Geral das Mensageiras do Amor Divino, que tem sua sede geral em Aparecida, sentiu-se tocada pela "riqueza dos continentes e a realidade das culturas presentes". Perguntada sobre as noites que desafiam a vida religiosa no Brasil ela apontou "a chaga da corrupção que reina no meio político" e as situações de violência no meio urbano, que invadem também os meios rurais. "È triste constatar que a expansão da droga faz com que o Brasil, um pais jovem perca tantos jovens", afirmou ela.
A Ir. Tereza Valler, Geral das Catequistas Franciscanas comenta que desta vez "a assembleia teve uma dinâmica diferenciada, com menos símbolos e menos movimentos, mas tivemos mais partilha, mais silencio e mais momentos de escuta, no sentido de captar aquilo que a Divina Sabedoria esta nos indicando nestes tempos de noite escura".
Para a paraense Ir. Jaci Dutra Pessoa que no ano passado foi reeleita para um segundo sexênio como superiora geral das Irmãs de Santa Dorotéia Frassinete a assembléia "reanimou a esperança nos corações". "É uma experiência forte de universalidade, de sentir a força da vida religiosa no mundo. Dilata muito os nossos horizontes", conclui a irmã.
Para a Irmã Terezinha Cechin, Geral das Irmãs do Sagrado Coração de Maria a assembléia foi "uma experiência de explosão do Espírito Santo... uma experiência maravilhosa de comunhão entre congregações, entre religiosas". Questionada sobre o que a vida religiosa no Brasil tem a oferecer à vida religiosa no mundo ele enfatiza que é "o seu compromisso com a inserção, de estar onde estão os mais sofridos, os esquecidos, nas fronteiras, nos desertos".
A Irmã Loiri Lazzaroto, Geral das Irmãs de Nossa Senhora de Lourdes, eleita para a Comissão Diretiva e que participou pela primeira vez diz que sentiu "uma energia diferente" e viu "muitos sinais de esperança". "Para mim foi como que um momento de renovar a esperança. Saio daqui hoje muito contente, sentindo uma profunda comunhão entre as irmãs". Embora estejamos "todas atravessando a mesma noite" existem "muitos sinais de que o Senhor está ai conduzindo a nossa missão e nos fazendo caminhar e avançar juntas", disse ela.
Desafios para a vida religiosa no mundo
"A America Latina é pioneira na questão de ter assumido a mística e a profecia. Isso teve repercussões na Ásia, África e Europa. Através do contato com esse Deus encarnado, quando nos deixamos trabalhar e amar por Ele, è Ele mesmo que prepara a profecia que vem de dentro, como resultado de uma mística encarnada, profunda e vivenciada. Um desafio é a gente retomar a vida religiosa como uma presença mística e profética no mundo conflitivo de hoje. Outro ponto freqüentemente enfatizado é a questão da humanização das estruturas, da humanização da vida religiosa, humanização da vida comunitária e a relativização das estruturas. O sistema neoliberal não inclui a humanização. A pessoa é uma coisa. Isso entrou em nossa subjetividade e nós estamos profundamente afetados por isso.
Há uma grande tomada de consciência disso, a gente se retomar e trabalhar justamente a contracorrente. Outro ponto è a questão de estarmos junto com o povo, de aprendermos com o povo, de deixar-nos evangelizar e aprender, com o povo e, sobretudo com o pobre, com os marginalizados, com os índios, com as fronteiras. Por fim, a questão da mulher, não no sentido de ser protagonista, mas no sentido de sermos consideradas iguais, com direitos, de sermos ouvidas, sobretudo em relação à Igreja Institucional". Irma Tereza Rasera, Superiora Geral das Irmãs Salvatorianas e Ex-presidente da UISG
"A vida religiosa deve entrar em um novo aprendizado no sentido de suspeitar daquilo que até hoje foi uma metodologia, um caminho tranqüilo, muito familiar e fazermos um deslocamento para aqueles espaços e situações que não nos são tão familiares, mas que parecem responder aos apelos e aos desafios da terra ferida dos povos empobrecidos. São os novos cenários que a humanidade nos apresenta. A questão das migrações, a questão da sustentabilidade do planeta, a sensibilidade em relação à dimensão da vida ameaçada, de que a terra está se rompendo, as águas estão poluídas. O consumismo esgotou as possibilidades da terra.
Tudo isso nos remete a um novo estilo de cotidiano e de vida e a termos uma sensibilidade diferente em relação à criação, às pessoas. São novos cenários que estão se apresentando diante do painel da vida religiosa. Houve vários deslocamentos na sociedade atual e nós como congregações ficamos situadas em um ambiente mais tranquilo, onde já há muito tempo estamos estabelecidas. A sociedade se mobilizou, os pobres, os desafios estão em outros pontos. Neste sentido nós deveríamos fazer um novo aprendizado: suspeitar dos caminhos percorridos até agora e nos abrir ao Espírito para um novo caminho, uma nova aprendizagem". Ir. Tereza Valler, Superiora Geral das Irmãs Catequistas Franciscanas.
Fonte: Revista Missões - Arlindo Pereira Dias, Roma