A pérola

Alfredo J. Gonçalves *

Era uma vez... Eu, você, ele, nós, todos... Vivíamos no mundo fantástico das novidades. Corríamos atrás delas com o mesmo afã do sedento que busca água fresca. Surfávamos na onda dos últimos lançamentos da moda. Cores e sabores, ruídos e imagens, luzes e sons nos embriagavam de prazer. Era só procurar nas lojas das ruas e shopping centers, profusamente iluminadas, e aí encontrávamos o que estávamos procurando.

Aliás, a publicidade e a propaganda, orientadas pelas técnicas mais sofisticadas do marketing, nos antecipavam o que deveríamos buscar. Não precisávamos quebrara a cabeça: o mercado se encarregava de descobrir novas necessidades, estimular nossos desejos e oferecer tudo isso revestido de embalagens sedutoras e irrecusáveis. Digamos de passagem que, via de regra, os invólucros custavam bem mais caro do que o conteúdo. Tanta era a preocupação de atrair novos clientes.

Porém, os objetos tinham curto prazo de validade. Não que estivessem estragados ou quebrados, mas é que a todo tempo surgiam novos modelos. Era preciso antecipar-se aos demais. Dominava a lei da moda e não podíamos ficar ultrapassados. O último carro, o último computador, o último celular, a última blusa, a última bolsa, o último relógio, o último sapato, a última calça ou vestido, o último modelo de apartamento... Em tudo, imperava a última novidade. Sorte que a "telinha" nos poupava o trabalho de escolher: despejava sobre nossas salas uma avalanche estridente de objetos com brilho novo, recém-saídos da fábrica.

Mas, da mesma forma que os objetos, também nossa satisfação tinha prazo curto de validade. A sede de algo inédito voltava com a força do desejo represado. Navegávamos pelas ruas, pelos centros comerciais e pela Internet como seres famintos atrás de novidades. Os enfeites, o design e o colorido das lojas nos fascinavam. Era preciso satisfazer as novas necessidades que nasciam em nós com a velocidade eletrizante da informática. Ofuscados por esse brilho, nos movíamos cegos e surdos.

Todo esse cenário seguia as regras de uma espécie de credo: produzir, comprar, consumir, ter, aparecer, descartar... E assim indefinidamente. A roda não podia parar. A produção gerava novas necessidades e estas, por sua vez, aceleravam o processo de produção. No coração desse círculo de ferro, os especialistas do mercado e do marketing se batiam como loucos para inventar, desenhar e divulgar o resultado de sua criatividade cada vez mais fecunda.

Valiam as mesmas regras para as relações pessoais, humanas. Também estas se viam atropeladas pelo ritmo alucinante da sociedade de consumo. Era preciso ser muito inovador e criativo para manter por largo prazo uma amizade, um namoro, um casamento. Descartavam-se laços primários como se descartavam objetos, como se troca de roupa. Coisas e pessoas sofriam da mesma provisoriedade. Predominava o "império do efêmero" (Gilles Lipovetsky).

Em lugar da relação eu-tu, do face-a-face, criavam-se relações de terceiro grau. O telefone, a Internet, o orkut, o twitter, a facilidade dos transportes e das comunicações permitiam fugir aos encontros olho-no-olho e estabelecer contatos à distância. Estes nos eximiam dos compromissos duradouros, eram facilmente descartáveis. O verbo namorar foi substituído pelo verbo ficar, onde novamente o compromisso não era a coisa mais necessária. Tudo se volatilizava, tudo era virtual, "tudo que era sólido se desmanchava no ar" (Marx-Engels).

Ao lado disso, crescia o culto do "eu" e do corpo. Aumentava paralelamente o número de academias e de drogas para emagrecer. Ganhavam terreno as celebridades televisivas, esportivas ou cinematográficas. O conceito de personalidade centrava-se sobre o próprio umbigo. Exacerbava-se o individualismo e o hedonismo. A tirania da beleza perseguia os corpos esqueléticos das meninas que participavam dos eventos fashion. Por todo lado, imperava a "tirania do prazer" (Jan-Claude Guillebaud).

Até que um dia... Um dia resolvi fechar os olhos e ouvidos a esse assédio da mídia e do mercado. Estava saturado do bombardeio diário de novidades que, longe de matar a sede, a aguçavam ainda mais. Cada vez eram necessários mais objetivos para preencher o vazio que os anteriores deixavam. E esse vazio só fazia aprofundar-se. Acabei caindo num poço sem fundo e sem remédio. Frustrações, tédio, desilusão e fastídio era minha única colheita.

Busquei o silêncio, a reflexão, a meditação. No monte de lixo de tantos desejos superficiais e supérfluos, tratei de desvendar o desejo mais profundo de meu ser. Que mais queriam meu coração e minha alma? Deparei-me com a necessidade de amar e ser amado, único caminho da felicidade. Entendi o que significa passar pela porta estreita do Evangelho. Compreendi que a porta larga, aparentemente livre e iluminada, leva à escravidão dos impulsos, paixões desejos imediatos. A porta estreita, ao contrário, embora às vezes obscura, abre perspectivas e luzes insuspeitáveis. Laboriosamente, encontrei-me com a sentença de Santo Agostinho: "O homem veio de Deus e não repousa em paz enquanto não voltar a descansar Nele". Aí estava meu maior desejo!

Sempre no silêncio da oração e da meditação, descobri ainda que esse desejo do totalmente Outro passa necessariamente pelo encontro com o outro humano. Que a busca do Transcendente passa pelo encontro com o diferente. Entendi que era impossível seguir a rota desse desejo mais profundo de forma solitária. A busca implicava, por um lado, combater a violência e a discórdia, as assimetrias e as desigualdades sociais, a miséria e a fome; e, por outro, construir novas relações de solidariedade, justiça e comunhão. Fazer dos estranhos e estrangeiros novos irmãos, deixando-se desafiar por suas interpelações.

Encontrada a pérola, pus-me fatigosamente a cultivá-la. Perco-a com freqüência, é preciso remover novamente o entulho, recomeçar tudo de novo. Ele se revela e se esconde. Mas pelo menos descobri senão a água viva, pelo menos o caminho da fonte.

* Alfredo J. Gonçalves, CS, assessor das Pastorais Sociais.

Fonte: Alfredo J. Gonçalves, CS

Deixe uma resposta

um × um =