A Copa do Mundo em terras africanas

Michael Mutinda *

Tocai a trombeta na lua nova, no tempo determinado, em nosso dia de festa solene!" (Salmo 81, 3). Estas são as palavras que me vêm à mente quando penso no Campeonato Mundial de Futebol que será realizado pela primeira vez na África. Esse sentimento é simbolizado pelo som das Vuvuzelas, a maneira exclusiva sul-africana de expressar alegria e festa. O continente terá finalmente os refletores focados em algo diferente, além da fome, catástrofes naturais ou guerras. Esta é uma oportunidade para destacar a importância do esporte nas culturas africanas, que exige paciência, perseverança, determinação, respeito, e outros valores tão necessários em todo mundo. A Igreja defende estes mesmos valores: justiça, paz, amor, diálogo com outras religiões e culturas... Uma atmosfera de otimismo e expectativa está contagiando diariamente a África do Sul, país sede da Copa.

Esperanças e preocupações

É claro que o país já sediou grandes eventos esportivos internacionais como a Copa do Mundo de Rúgbi (esporte parecido com o futebol americano), em 1995 e o Mundial de Críquete, em 2003. Porém, o futebol é considerado o esporte mais popular na África do Sul, e para alguns, é até mesmo uma religião ou um modo de vida.

Como era de se esperar, pelos investimentos, a Copa 2010 vai ter grande impacto na sociedade sul-africana. Existem também aspectos negativos, como a preocupação com a alta criminalidade, o transporte precário, o crescimento da prostituição e até do tráfico de animais e seres humanos. O país de Nelson Mandela é um dos que tem a maior desigualdade entre ricos e pobres no mundo, resquício dos anos tristes do apartheid, segregação racial que agora se faz visível numa segregação social. Os brancos representam 12% da população economicamente ativa, mas ocupam 73% dos postos de trabalho mais qualificados, enquanto que os negros, com 74% da população ativa, ocupam somente 14%. Esse desequilíbrio econômico na grande maioria da população tem incidência direta quando se pretende ter acesso aos jogos. No entanto, apesar de uma série de preocupações possíveis, a Copa do Mundo também apresenta uma série de possibilidades agradáveis. Para a economia do país, estima-se que o evento renderá cerca de 21,3 bilhões de rands, moeda local - aproximadamente 5,5 bilhões de reais, e criará trabalho para 159 mil pessoas. No setor de turismo, o benefício é ainda maior com cerca de três milhões de visitantes esperados para o torneio. O país ganhará em infraestrutura e outras melhorias.

A Igreja e a Copa

A Conferência dos Bispos Católicos na África do Sul lançou um site com informações sobre o torneio. É um local de referência sobre o que a Igreja Católica faz no país e também oferece informações sobre as igrejas e comunidades próximas aos estádios. Notícias e recursos serão regularmente publicados no endereço eletrônico. Haverá uma capela virtual onde os fãs poderão deixar suas intenções de oração para as equipes. Velas virtuais serão acesas mediante doação de até 10 Rands. O dinheiro será entregue ao projeto da Cáritas no país. De acordo com o responsável pela informática da Conferência, padre Chris Townsend, esta será uma forma divertida para os fãs participarem na vida da Igreja. Nas palavras do cardeal Wilfrid Napier, OFM - arcebispo de Durban, a Igreja Católica na África do Sul quer aproveitar a oportunidade da Copa "para destacar o importante papel que o esporte desempenha na nossa cultura africana". O maior desejo da Igreja neste Campeonato Mundial é que todos possam assimilar as palavras do papa Bento XVI, quando afirma: "que o jogo de futebol sempre seja mais um meio de ensinar os valores de honestidade, solidariedade e fraternidade, especialmente entre as gerações mais jovens".

* Michael Mutinda, imc, é seminarista e estudante de teologia no ITESP, SP.

Publicado na edição Nº04 - Maio 2010 - Revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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