Sob os olhos de uma mulher

Cecília de Paiva *

Inexiste um ser humano que nunca esteve sob o olhar de uma mulher em sua vida. Em todos os lugares do mundo e em toda a história humana, é possível encontrar fortes olhares femininos, ora cheios de amor, de alegria ou de dor, ora vazios e opacos de solidão ou tristeza.

Às vezes, lendo a Bíblia, vemos a mulher menos privilegiada na história, coberta de véu e à sombra da costela do homem (cfr. I Cor 11, 1-15). Sim, as mulheres abaixavam a cabeça porque a tradição suprimia-lhes o ensino e a participação política na sociedade. Ainda assim, ressalta o olhar feminino em todas as situações.

O maior exemplo está nos olhos magníficos de Maria. Ao recordar Canaã, imagina-se como foi o olhar de Maria sob Jesus, um meninão ainda teimoso, obediente pelo amor e puro encanto de mãe. Depois vem o olhar de Cristo ao encontrar os olhos de dor na agonia da Cruz. Angustia e choca, mas nos envolve de amor. Um amor tão forte que se propagou ao longo dos séculos e ainda segue aquecendo corações.

Imaginemos esse olhar perpetuado ao longo da história. Que tal sentir sob si o olhar de uma das mulheres mais incríveis de nossa era, Madre Teresa de Calcutá? Eis uma vida que demonstrou sua crença no amor e na plena convicção da força de um sorriso.

Dela como exemplo, temos como sentir outros olhares ao nosso redor. Em nosso caminhar vários olhares estão tão perto de nós, porém passam despercebidos, são ignorados. Mães, irmãs e a parentada toda, vizinhas, colegas de estudo ou de trabalho e as grandes amizades que conquistamos ao longo da vida. As nossas correrias não são justificativas suficientes para ignorar seus olhares e compartilhar alegrias ou perceber qualquer pedido de socorro.

Nos disfarces da sobrevivência, convivemos com sentimentos de êxtase artificiais, depressões, doenças, esgotamentos, violências, sonhos desfeitos e desesperanças. Estamos em plena era da aparência, da mulher com silicone, corretivos faciais, batom e salto alto. Contudo, sempre há como sentir o olhar da alma, do coração, da transcendência divina.

Dessa forma não é complicado retornar ao olhar de Maria e sentir a pureza do amor de Deus em seu Filho. Jesus Cristo é a manifestação do puro amor de um Pai que sempre esteve muito próximo da sua criação. Homens e mulheres manifestam esse amor.

Em alguns momentos, vemos ou ouvimos falar de mulheres que continuam de cabeça abaixada, umas por medo de olhar o outro, outras por medo do que diz o seu próprio olhar. Mas em primeiro lugar, é crer que, em todos os momentos, Deus a amou e assegurou a perfeição de Sua criação. Uma criação que, entre evolução e tropeço, manifesta a divindade de um Deus que também aprende com os olhares de amor que existe em toda mulher.

Neste dia da mulher, encontre-se com esse olhar, mas tenha cuidado. Pode ser um olhar muito poderoso e refletir sua própria alma.

* Cecília de Paiva, jornalista e colaboradora da revista Missões.

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