Geraldo Majella Agnelo *
No domingo passado éramos convidados à conversão. Sempre no seguimento de Jesus, a Quaresma hoje nos convida a transfigurar-nos em nossa vida. A transfiguração de Jesus revela sua natureza divina, quase escondida em Jesus durante sua vida terrena. Chama-nos a refletir sobre o destino de transfiguração a que são chamados os discípulos do Senhor. Nosso futuro em Deus se prepara com o empenho da vida.
O episódio da Transfiguração (Lucas 9,28-36) nos apresenta Jesus que deixa transparecer de seu interior, em modo sugestivo, o esplendor da sua divindade que habitualmente estava escondido sob a sua natureza humana.
Podemos ficar surpreendidos com o episódio da transfiguração: curioso, fora do normal.Podemos admitir certa utilidade do gesto: parece que os apóstolos naqueles dias estavam desanimados, necessitados de encorajamento da parte do Senhor. E assim aconteceu. Ajuda-nos o apóstolo Paulo (Filipenses 3,17-4,1): "O Senhor Jesus Cristo transfigurará o nosso mísero corpo, para conformá-lo ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si todas as coisas". A transfiguração, que foi manifestada em Jesus sobre o monte Tabor, revela um destino que será reservado também a nós.
Este destino antecipado por Jesus aos olhos de três apóstolos a nós também diz respeito. Transfigurados como Cristo e com ele é algo que engrandece a nossa esperança na vida eterna.
Mas Paulo nos falou em termos muito explícitos de outros homens, cristãos, que são mergulhados nas coisas da terra, gloriam-se daquilo de que deveriam envergonhar-se; têm como deus o próprio ventre. Deles falou com lágrimas nos olhos, porque se comportam como inimigos da cruz de Cristo. É evidente que para esses não é pensável a Transfiguração final em Cristo.
Se queremos a transfiguração para o nosso corpo, devemos começar a transfigurar o nosso coração à semelhança do coração de Deus. Devemos colocar em harmonia com o Senhor o nosso pensamento, o nosso espírito, a nossa vida. Assim com a ajuda da apóstolo Paulo descobrimos que o episódio evangélico da Transfiguração não nos é estranho, mas nos diz respeito pessoalmente.
Seremos renovados no Senhor, mas de nossa parte devemos tornar possível a transfiguração. Santo Agostinho nos recordou que aquele que nos criou sem nós, não nos salvará sem nós. Trata-se de trabalhar, ou melhor de nos trabalhar. Sabemos aquilo que somos, e entrevemos aquilo que podemos nos tornar. O Santo Cura d´Ars dizia: "Não todos os santos começaram bem, mas todos os santos terminaram bem". O tempo nos é dado para isso, para nos consentir de crescer, de amadurecer.
Amadurecer no Senhor não é fácil, mas é belo. Aprende-se a fazer a vontade de Deus. Procura-se querer bem aos próprios caros, dar-lhes as próprias coisas, o próprio tempo, o afeto, a própria habilidade no fazer. Aprende-se a dar gratuitamente, sem requerer para cada pequena coisa uma recompensa.
Amadurecer no Senhor não é fácil, existem etapas que podemos percorrer e das quais conseguimos nos sair bem. Primeiramente é preciso aprender a conhecer o Senhor. Paulo escrevendo aos cristãos de Filipos falou da "sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor". O Senhor merece um maior interesse. Ocorre colocar-se na sua escuta. Os modos são muitos. Existem livros, ao menos o Evangelho não pode faltar em nossa casa para abri-lo e ler o que Deus tem para nos dizer.
É preciso também imitar o Senhor. Não podemos imitá-lo cumprindo os seus milagres e prodígios. São Paulo sugere aos cristãos: "Tende em vós os mesmos sentimentos que foram de Cristo Jesus". Podemos provar. Jesus mesmo nos aconselha: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração". Então devemos olhar os outros com solidariedade e fazer o que pudermos para ajudá-los com a palavra e com o empenho.
Sobretudo podemos amadurecer no Senhor, vivendo em comunhão com o Senhor Jesus. Comunhão de vida. Comunhão na oração. A transfiguração de Jesus se realizou numa situação de oração, recorda o evangelho: "Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu ao monte para rezar".
* Geraldo Majella Agnelo, cardeal, arcebispo de Salbador - BA.