Falta de liberdade religiosa, problema do século

Giampaolo Crepaldi *

Não temeria em afirmar que o principal problema da humanidade hoje é a falta de liberdade religiosa no mundo. Há alguns dias, ficamos impressionados com as notícias que chegavam do Egito onde, perto de Luxor, alguns muçulmanos armados abriram fogo contra a comunidade cristã copta que estava saindo da Igreja, onde havia sido celebrado o Natal copta, no dia 7 de janeiro. Alguns cristãos foram mortos.

A perseguição dos cristãos coptas por parte dos muçulmanos é lamentavelmente uma história antiga: calcula-se que nos últimos trinta anos, as vítimas foram ao menos quatro mil. Monsenhor Youhannes Zakaria, bispo copta católico de Luxor, no Alto Egito, lembrou que uma comunidade cristã foi atacada na Páscoa passada e, no tiroteio, três jovens cristãos perderam a vida. O bispo Kirollos, da diocese de Nag Hamadi, declarou que "está em curso uma guerra para eliminar os cristãos no Egito".

Nos últimos dias de 2009, três importantes relatórios foram publicados sobre questões relacionadas à liberdade religiosa (lamentavelmente este ano não pudemos ler o tradicional informe de Ajuda à Igreja que Sofre).

O primeiro desses relatórios foi preparado pela Agência Fides, que, como todos os anos, traçou um balanço dos missionários cristãos mortos em 2009; trinta sacerdotes, dois religiosos, dois seminaristas, três voluntários leigos. O valor é quase o dobro se comparado com o do ano anterior, e é o número mais elevado registrado nos últimos dez anos. Vinte e três desses agentes pastorais passaram pela América Latina, mais precisamente pelo Brasil, Colômbia, México, Cuba, El Salvador, Guatemala e Honduras.

O segundo relatório, intitulado "Limitação Global à Religião", foi publicado por Foro Pew sobre Religião e Vida Pública, de Washington. 32% dos Estados praticam um alto nível de intolerância religiosa. Estes 32% correspondem a 70% da população mundial. Isso significa que milhares de pessoas não gozam deste direito fundamental. Se a ele se adiciona a porcentagem dos países nos quais a tolerância existe mesmo que não de modo agudo, cifras enormes são alcançadas. O informe Pew diz também que as áreas de maior liberdade são aquelas onde há a presença de cristãos: Europa, América e África.

O terceiro relatório foi preparado pela Rede de Segurança Cristã. Segundo ele, nos Estados Unidos foi registrado um aumento da violência contra paróquias, Igrejas e organizações cristãs: 1.200 delitos em 2009. Não apenas na Malásia, onde na noite do dia 7 de janeiro foram atacadas três Igrejas protestantes e uma católica, mas também no Ocidente cristão, onde sofrem danos e até são perseguidos.

A comunidade internacional faz mal ao não enfrentar de modo adequado estes problemas que, entre outras coisas, têm uma enorme influência também sobre outras ações, como por exemplo a guerra, os atrasos no desenvolvimento, as lutas civis, a degradação do meio ambiente. Como escreveu o Papa na Caritas in Veritate, a falta de respeito ao direito à liberdade provoca inúmeros danos ao progresso.

Sinceramente, a grave situação da perseguição aos cristãos no mundo não pode passar despercebida. Desde o Iraque, onde a antiga comunidade cristã está se extinguindo, a Malásia, Índia, Paquistão, Egito. Os cristãos são enfraquecidos tanto pelo governo (como na China ou no Vietnã), como por grupos da sociedade civil (como na Índia ou em Bangladesh), ou nestes dois casos, como na Arábia Saudita. Analisando de forma realista, existe a questão de quem deve proteger os cristãos perseguidos. A Igreja faz o que pode com os próprios meios. Alguns realizam pedidos à comunidade internacional, mas esta é quase sempre composta por Estados que praticam a intolerância religiosa.

Alguns apelam à opinião pública internacional, porém esta é constituída por 70% de pessoas que vivem sob a falta de liberdade religiosa. Sem tirar nada da comunidade internacional, parece-me que os países ocidentais deveriam possuir um papel primário, aqueles que devem ao cristianismo sua própria civilização e cujos frutos incluímos também os direitos humanos e o Estado de direito. Estes deveriam ser os primeiros a moverem-se em comum acordo.

* Dom Giampaolo Crepaldi é arcebispo de Trieste. Este comentário foi publicado também na Newsletter do Observatório Internacional "Cardeal Van Thuan" sobre a Doutrina Social da Iglesia (nº 271, Verona, 11 de janeiro de 2010).

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