Sem acordo real e sem saída

Stephen Leahy *

A mudança climática já está aqui. O demorado fim da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), que se prolongou até o dia 19, apresentou um resultado decepcionante. As futuras gerações podem encontrar um planeta radicalmente transformado, com grandes áreas cujas temperaturas estarão entre sete e 14 graus mais quentes e, portanto, inabitáveis.

Nesse mundo em chamas, a elevação do nível do mar entre um e dois metros até 2100 deixará centenas de milhões de pessoas sem casa, segundo os últimos dados científicos apresentados, em setembro, na Conferência Internacional da Ciência Climática Quatro Graus e Mais Além, realizada na Universidade de Oxford. Esta realidade científica é a que afeta, enquanto os resultados da conferência de Copenhague, que aconteceu de 7 a 18 deste mês, oferecem poucos avanços.

"Nossos líderes não captam a escala do problema nem a velocidade das mudanças. Não se dão conta de que devem agir agora", disse o especialista em clima Andrew Weaver, da canadense Universidade da Columbia Britânica e principal autor dos informes do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC). "Agora" significa que as emissões globais de dióxido de carbono deveriam chegar ao seu ponto máximo em cinco anos e em seguida começar a baixar para chegar a quase zero em 2050, segundo o informe "O diagnóstico de Copenhague 2009: Atualizando o mundo sobre a recente ciência climática". Divulgado uma semana antes de começar a COP-15, o informe reúne as últimas descobertas científicas dos principais pesquisadores da área, entre eles Weaver.

"Metas mais modestas e alcançáveis no curto prazo colocarão o planeta no caminho correto", é a afirmação habitual do primeiro-ministro canadense, Stephen Harper. Suas "modestas" metas são uma redução de 3% das emissões de gases-estufa entre 1990 e 2020. As metas dos Estados Unidos são um tanto melhores. Segundo a evidência científica, os mais brilhantes pesquisadores concluíram que o Canadá e outras nações industrializadas devem reduzir suas emissões entre 25% e 40% até 2020, em relação a 1990, para que haja alguma esperança de que a temperatura não aumente mais de dois graus.

"Dois graus será muito difícil de a sociedade moderna conseguir", alertou Pal Prestrud, pesquisador do Ártico e diretor do Center for International Climate and Environmental Research, com sede na Noruega. Mesmo que todas as emissões fossem eliminadas hoje, as temperaturas globais baixariam muito lentamente, em um período de mil anos. "Se esperarmos muito, será muito tarde", disse Prestrud ao TerraViva. Nenhum cientista acredita que estabilizar o clima em dois graus no máximo colocará o planeta "no caminho correto". O Ártico está derretendo com o atual aumento de 0,8 grau. O gelo do Polo Norte pode desaparecer no verão em apenas cinco ou dez anos.

O que acontece quando o extremo frio do planeta, que determina o sistema climático mundial, esquenta? Os padrões de chuvas e temperaturas na Europa e na América do Norte mudarão, afetando a agricultura, o reflorestamento e o fornecimento de água, diz o informe "Arctic Climate Feedbacks: Global Implications", publicado em setembro pelo WWF. Um Ártico mais quente emitirá grandes volumes de dióxido de carbono e metano, que hoje estão presos nos gelados solos do permafrost. Uma vez que o processo comece, será impossível deter o aquecimento.

Com dois graus a mais, a maioria dos corais morrerá por uma combinação de calor e acidificação das águas oceânicas. Os arrecifes coralinos são os criadouros de grande parte dos peixes, dos quais dependem centenas de milhões de pessoas. A elevação do nível do mar deslocará outros muitos milhões. Por fim, dois graus a mais é apenas uma média mundial. Isso significa que as temperaturas subirão entre um e cinco graus, dependendo das regiões. E também haverá pelo menos um metro de elevação do mar até 2100.

Os humanos gozaram de dez mil anos de estabilidade climática, quando a temperatura média variou em menos de um grau, afirma Robert Corell, diretor do Programa Mudança Global do Centro H. John Heinz III de Ciências, Economia e Meio Ambiente, com sede em Washington. As emissões globais nos últimos cinco anos estiveram acima do pior cenário apresentado pelo IPCC e no caminho de um aumento de cinco a seis graus das temperaturas até 2100, disse Corell ao TerraViva.

Os sistemas naturais de absorção de carbono, oceanos e florestas, estão reduzindo sua capacidade, o que significa que o efeito estufa aumentará mais rapidamente. Os compromissos de reduções apresentados em Copenhague significam um aumento de 3,8 graus, acrescentou. "O governo do Canadá não tem uma maldita ideia do que significa aumento de dois graus", afirmou o canadense Weaver.

"O que fazem os políticos é apenas perfumaria, suas propostas soam bem, mas são um engano, para eles próprios e para nós", afirmou o respeitado especialista James Hansen em um artigo publicado no dia 29 de novembro no Observer. "Nos colocaremos de pé e daremos uma bofetada na cara dos políticos do mundo para que vejam a realidade?", perguntou Hansen, diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa. "Será necessário que muitos de nós saiamos às ruas. Ou deixaremos que continuem brincando entre eles e conosco, traindo nossos filhos e nossos netos?".

* Stephen Leahy é correspondente da IPS. Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

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