?ngela Maria Costa *
Incrível a vertiginosa velocidade com que o tempo passa. Novas tecnologias invadem nosso cotidiano, as informações se multiplicam diversificadas pelas mais variadas mídias, mas certas cabeças continuam resistentes a essas irreversíveis mudanças impostas ao nosso mundo. A gravidade nessa resistência dá-se porque não me refiro nesse espaço a pessoas comuns. Se fossem pessoas que não têm o poder de formar opinião, tudo bem! O prejuízo seria apenas delas e do círculo pequeno de suas famílias, amigos e seguidores.
Acontece que parte significativa das chamadas autoridades, que ocupam cargos públicos ou mandatos, e por isso, formam opiniões, abusam do direito que os cargos lhes conferem, insistindo em tratar as coisas públicas como se estivessem decidindo, no supermercado, o que vão comprar para suas casas! É desse tipo especial de gente que venho tratar nesse artigo.
Quero abordar a questão crucial da Educação Pública do nosso Estado. Primeiro: você conhece a autoridade responsável por esta pasta de governo? O que pensa? Seu currículo? O porquê vem ocupando um cargo como esse por três mandatos (11 anos) sob o comando do mesmo chefe? Porque será?!
Não, você, certamente não a conhece porque, assim como as demais autoridades deste governo, seu "papel" é o de ficar no anonimato. Ocupando esse lugar, o que se vê é a existência de um "capataz" que só cumpre ordens do "senhor de engenho" (que, por sua vez, NADA conhece a respeito de educação). Por isso, vou poupá-la, porque, na verdade, a pessoa designada para essa pasta, está, inversamente, cumprindo com as determinações do "chefe" e apenas ocupando um espaço público. Mas, para o "senhor de engenho", em uma das tantas concepções equivocada e simplista que propala, a escola foi feita para ENSINAR. Mas, o que ele entende por ensinar? A quantas anda a "sua" escola?
Sou professora de prática de ensino a mais de 20 anos de um curso que forma professores para atuarem na Educação Infantil e nos Primeiros Anos do Ensino Fundamental. Então, falo do que vivencio e conheço. Falo porque vejo. Nossas escolas estaduais estão vivendo, com o olhar no retrovisor, a década de 70. Vamos explicar melhor. Para este "senhor" dar (o dinheiro é dele?!) uniforme "superfaturado", mochila, caderno e lápis, e pagar (o dinheiro é dele?!) o professor o tanto que "ele" acha justo significa que, aqui, nós temos uma educação de qualidade.
Mas isso é uma mentira! Nossas crianças estão sendo massacradas psicologicamente desde os cinco anos de idade dentro de uma escola ultrapassada, violando os mais elementares princípios e direitos da infância! Estão sendo "alfabetizadas" por um método (fônico) que não tem nenhum significado para a vida prática deste pequeno cidadão. Paulo Freire deve estar se revirando no túmulo. Estamos fabricando, em série, os chamados "analfabetos funcionais". Pessoas que passarão o resto de suas vidas escravizadas, incapazes de pensar, de decidir, de participar e de mudar suas próprias vidas e de suas comunidades.
Eu vi os cadernos. Eu vi as tarefas que essas crianças têm que copiar do ultrapassado quadro-de-giz. Eu vi nos olhos opacos e assustados de cada criança e na face de cada professor o desengano, a desesperança e o sentimento de fracasso. Ambos carregam silenciosamente em seus ombros a culpa por não aprenderem e por não ensinarem.
Excluíram da escola todas as outras formas de expressão (as múltiplas linguagens). Nesse modelo de escola, as crianças não cantam, não brincam, não desenham... Ah! Os desenhos! Pelos poucos desenhos já dá pra identificar nessas crianças o extermínio na raiz, da criatividade inerente ao seu ser. Os pátios dessas escolas permanecem vazios, porque "escola não foi feita para brincar"! Os parques infantis são menosprezados e a maioria está desativada. Cadê a infância? Não, aqui em Mato Grosso do Sul A ESCOLA FOI FEITA PRA ENSINAR! Pergunto: Ensinar o quê? Para quê? Como?
E cadê a secretária, autoridade responsável pela educação pública do nosso Estado? Qual é a sua opinião como educadora?! Alguém a ouviu se pronunciar sobre as cartilhas retrógadas e de má qualidade adotadas em todas as "suas" escolas? Porque decidiram gastar com elas o valor de R$ 1,7 milhão? Sobre o superfaturamento dos uniformes? Não! Porque, em minha opinião, não existe Secretária de Educação. Existe uma pessoa que ocupa a posição, quem sabe, para assinar documentos perante o Ministério de Educação. Mas a raiz, a idéia e o fundamento da educação de MS parte do seu superior. De uma pessoa que não tem formação na área, que "acha" que entende. Mas, que, na verdade, entende tanto do assunto quanto eu entendo de medicina...
A cartilha com método fônico (atrasado), os uniformes superfaturados, o atraso nos pagamentos dos professores da Universidade Estadual revelam a quantas anda a educação por aqui. A educação em nosso estado começou a retroceder em qualidade a partir do primeiro mandato desta mesma secretária, na prefeitura de Campo Grande, em que nitidamente, as crianças da educação infantil começaram a ser escolarizadas precocemente. Sempre atuou e permanece atuando como ventríloqua de um senhor que pensa que manda, conhece e sabe de tudo. Lamentavelmente, somos testemunhas vivas dessa história triste, que sem dúvida deixará seqüelas na sociedade do futuro. Se "Mato Grosso do Sul é a gente que faz" o que esperar, então, do nosso futuro?
* Professora do curso de Pedagogia da UFMS - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Chefe do Departamento de Educação da UFMS. Coordenadora do Núcleo Regional da Aliança pela Infância