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Nossa Senhora de Guadalupe
Em 1519, o conquistador espanhol Hemán Cortez apoderou-se do México, onde reinava uma religião bárbara, em cujos templos eram imoladas vítimas humanas. Pouco a pouco, esses templos, testemunhas de tanta crueldade, foram dando lugar a igrejas cristãs, mas os missionários sentiam grande dificuldade em penetrar naqueles corações dominados pelo terror e inclinados à idolatria.
Até que num sábado, a 9 de Dezembro de 1531, um índio convertido, de cerca de 48 anos, pôs-se a caminho da missão franciscana, logo de manhã cedo, para assistir à missa em honra da Mãe de Deus. Atravessava uma colina, chamada Tepeyac, nos arredores da atual capital do México, quando lhe chegam aos ouvidos os sons de uma música maravilhosa. Uma voz chama-o carinhosamente, com doçura maternal, usando os diminutivos: - Juanito, Juan Dieguito!
Juan Diego (João Diogo, em português) dirigiu-se sem hesitar ao cimo da colina donde vinha aquela voz e deparou com uma jovem de radiosa beleza, aparentando quinze anos. Ao vê-Ia, sentiu-se possuído por tão grande felicidade que só conseguiu cair de joelhos e sorrir-lhe. No meio do seu enlevo, a jovem falou-lhe: - Juanito, meu querido filho, para onde vais?
- Senhora e filha minha - respondeu ele - vou a caminho da igreja, para estudar e aprender os divinos mistérios que os Padres nos ensinam.
- Fica a saber, filho querido - continuou a jovem - que eu sou a sempre VIrgem Mãe de Deus verdadeiro, no qual vivemos, Criador e Autor do Céu e da Terra. É meu desejo que se construa aqui um templo em minha honra, onde eu derramarei o meu amor, socorro e proteção. Eu sou a vossa Mãe dadivosa, Mãe amorosa para com os que Me amam, confiam em Mim e procuram o meu auxílio. Prestarei ouvidos aos seus lamentos e dar-lhes-ei consolo em todas as suas tristezas e sofrimentos.
João Diogo escutava, atento e maravilhado, aquela aparição inaudita. E a jovem continuou:- Para conseguir tudo o que o meu amor pede, vai agora à casa do Bispo e diz-lhe que eu te envio para manifestar o meu grande desejo de ter aqui um templo, edificado em meu nome. Diz-lhe exatamente o que viste e ouviste e que Eu lhe serei agradecida e o recompensarei. Mostrarei como vale a pena dar-se a este trabalho. Agora, filhinho, ouviste o meu desejo. Vai e faz o melhor que puderes.
Com o coração cheio de simplicidade e obediência, João Diogo pôs-se logo a caminho. Chegado ao Paço Episcopal, deu conta a Dom Frei João de Zumárraga do pedido da Senhora, contando tudo quanto tinha visto e ouvido.
O Bispo escutou-o com atenção e teve pena daquele pobre índio que lhe vinha com semelhante fantasia. Disse-lhe que ia pensar e mandou-o voltar dali a alguns dias.
João Diogo ficou triste e dirigiu-se outra vez à colina, pensando ter sido por culpa sua que o Bispo não tinha acreditado nele, pobre índio inculto que não soubera pôr suficiente força nas suas palavras. Pediria à Senhora que arranjasse outra pessoa que soubesse falar melhor. Perdido nos seus pensamentos, deu de repente com a luz maravilhosa que envolvia a jovem Senhora. Correu para ela, o coração alvoroçado de alegria por vê-Ia de novo, mas cheio de desgosto por não trazer a notícia esperada.
Deu-lhe conta de como tinha contado tudo ao Bispo e da descrença deste, pedindo-lhe que mandasse alguém mais capaz para ser acreditado.
- Filho muito querido - respondeu a Senhora -, deves compreender que há muitos servos de categoria a quem eu poderia confiar a minha mensagem; todavia, eu escolhi-te a ti para te encarregares desta tarefa. É por teu intermédio que o meu plano deve ser cumprido. Volta de novo ao Bispo amanhã, fala-lhe em meu nome e informa-o de que é meu desejo que se erga aqui um templo. Diz-lhe que sou eu, em pessoa, Santa Maria, sempre Virgem, Mãe de Deus, quem te envia.
João Diogo sentia renascer a coragem e, depois de agradecer as palavras temas da Mãe amorosa, prometeu-lhe voltar lá no dia seguinte e pôr todo o seu empenho em fazer com que o Bispo acreditasse.
Domingo, dia 10, de manhã cedo, depois da missa, o bom índio voltou a casa do Bispo. Em lágrimas, relatou novamente a conversa que tivera e o pedido da Senhora.
Dom Frei de Zumárraga interrogou-o então minuciosamente. Quase que o acreditava. Mas não seria melhor pedir um sinal como prova da verdade?
- O teu recado interessa-me, respondeu, mas não podias trazer-me um sinal da Senhora, uma prova de que realmente Ela é a Mãe de Deus e deseja o templo na colina de Tepeyac?
O índio respondeu que iria pedir à Senhora um sinal.
João Diogo fala outra vez com a Senhora, a quem deu conta do pedido do Bispo. - Seja, meu filho. Vem novamente amanhã de manhã e então poderás obter o sinal
que o Bispo quer, e ele não voltará a duvidar.
Ao chegar a casa, João encontrou seu tio João Bemardino, com quem vivia, muito doente com febre. Temendo que a morte viesse, o tio pediu-lhe que fosse ao mosteiro chamar um padre para os últimos sacramentos.
O dedicado sobrinho apressou-se, mas ao passar pela colina lembrou-se da Senhora e desviou o caminho, para não a encontrar, pois achava que primeiro tinha que atender o pedido do tio moribundo.
Enquanto descia por outro lado, eis que a Senhora voltou a aparecer-lhe, perguntando: - Que te preocupa, meu filho querido? Onde vais?
- Depois de ter cumprido a minha obrigação, voltarei a Vós e farei o vosso recado. Perdoai-me, Senhora minha, e tende paciência comigo.
Enquanto falava, a Senhora contemplava-o com amor e compaixão e ele percebeu que ela sabia todos os seus problemas, sem que precisasse de falar.
- Escuta, meu filho, não temas, não fiques preocupado ou assustado; não tens que temer essa doença, nem qualquer outro dissabor ou aflição. NÃO ESTOU EU AQUI AO TEU LADO? Eu sou a Mãe dadivosa. Não te escolhi para mim e não te tomei ao meu cuidado? Não permitas que nada te aflija ou perturbe. Quanto à doença de teu tio, não é mortal. Acredita: agora mesmo ficará curado.
Ao ouvir estas palavras, o piedoso vidente voltou a renovar o seu oferecimento para levar o sinal ao Bispo. A Santíssima Virgem mandou-o ao lugar onde a tinha visto pela primeira vez, dizendo-lhe que lá encontraria uma grande variedade de flores. Que as colhesse e as trouxesse.
Subiu João Diogo ao alto da colina. No frio mês de Dezembro, naquela terra árida e rochosa, onde nem vegetação havia, tinham brotado abundantes rosas de cor e perfume maravilhosos. Nossa Senhora colocou-lhas na manta e mandou levá-las ao Bispo, que com este sinal se havia de convencer.
Os criados do Paço mostraram-se grosseiros e não o queriam deixar entrar. Esperou várias horas pacientemente. Por fim, lá o deixaram ir ter com o Prelado. O índio voltou a contar a conversa que tivera com a Senhora, deixou cair as pontas da manta, e o chão cobriu-se de rosas frescas, rosas de Toledo, em pleno Inverno.
Dom Frei João cai de joelhos, maravilhado não tanto pelas rosas, mas por outro prodígio mais espantoso. Na manta de João Diogo aparecia impressa com beleza surpreendente a mesma Senhora que o pobre índio tinha contemplado na colina de Tepeyac. Era o dia 12 de Dezembro de 1531.
O Bispo pegou respeitosamente na manta privilegiada, colocou-a no seu oratório particular e deu graças a Deus e à sua Mãe Imaculada.
Acorreram multidões de curiosos à residência episcopal para venerar a imagem impressa na manta de João Diogo. O prelado, para satisfazer a devoção dos espanhóis e índios, levou-a para a Sé catedral e colocou-a em cima do altar-mor, para que todos a pudessem venerar.
Em 1622 construíram a segunda capela, substituída em 1709 por uma basílica que ainda dura, mas que foi agora transformada em museu religioso, uma vez que em 12 de Outubro de 1976 foi inaugurada a nova, com capacidade para 10 mil pessoas.
Milagre contínuo. O grande milagre de Nossa Senhora de Guadalupe é a sua própria imagem. Os sábios, os técnicos, os pintores e especialistas, usando os meios modernos da Química, Física e dos raios X, não são capazes de explicar como é que se combinam na mesma pintura, sem vestígio de pincel, a aguarela, o óleo e o fresco.
O tecido, feito de cacto, não dura mais de 20 anos e este já dura há mais de 4 séculos e meio. Além disso, a pintura resistiu à umidade e ao salitre, muito abundantes naquela região, tendo danificado quadros e tecidos muito mais fortes. Durante 16 anos, a tela esteve totalmente desprotegida, tendo recebido milhões de beijos e sendo tocados, nas suas mãos e rosto, terços e objetos religiosos sem conta. Só mais tarde a protegeram com um vidro, que por vezes é retirado.
A imagem nunca foi retocada e até hoje os peritos de pintura e química não encontraram na tela nenhum sinal de corrupção - o que se toma inexplicável segundo as leis naturais.
Como se tudo isto fosse pouco, em 1971, quando alguns peritos limpavam o caixilho de ouro que a circunda, um frasco de ácido nítrico tombou, entornando-se todo em cima da pintura. Pois nem a força de um ácido tão corrosivo estragou ou manchou a imagem.
Nesta pintura, tudo quanto vem de Deus conserva-se e quanto é dos homens deteriora-se e desaparece.
Com a invenção e ampliação da fotografia, descobriu-se um prodígio ainda maior. Tal como a figura das pessoas com quem falamos se reflete nos nossos olhos, assim a figura de João Diogo e de duas outras pessoas se refletiu e ficou gravada nos olhos do quadro de Nossa Senhora. Os recentes exames feitos com todo o rigor científico pelos competentes oftalmologistas americanos chegaram à conclusão de que as três figuras estampadas nos olhos de Nossa Senhora não são pintura, mas imagens gravadas nos olhos duma pessoa viva. As três imagens são João Diogo, o intérprete e o Bispo.
Com razão podemos concluir com as palavras do Papa Bento XIV em 1754: "Nela tudo é milagroso: uma imagem estampada num tecido tão transparente que se pode ver através dele facilmente o povo e a nave da Igreja: uma imagem nada deteriorada, nem no seu supremo encanto, nem na nitidez das cores, pelas emanações da umidade do lago vizinho que já corroeram a prata, o ouro e o bronze... Deus não procedeu assim com nenhuma outra nação".
O significado. A maravilhosa Senhora impressa na manta de João Diogo trazia rica mensagem para os índios, a quem era tão difícil ensinar catequese porque se exprimiam em 22 línguas diversas e 50 dialetos.
A Senhora tão atraente, pura e amável, era tão diferente dos seus deuses e deusas! Colocada sobre o Sol e rodeada de raios, indicava que o seu poder era maior que o do Sol, que os índios adoravam.
A Lua debaixo dos pés provava-lhes que a sua deusa Lua nada era perante aquela Senhora. O traje azul-escuro tinha 46 estrelas de ouro, portanto era mais que as estrelas, por eles também adoradas. Mas tal Senhora não era Deus, pois estava com as mãos juntas e a cabeça inclinada perante um Ser invisível, superior. Trazia ao pescoço um cordão com uma cruz, a mesma cruz que os missionários lhes pregavam.
Estas quatro aparições e os prodígios que as acompanharam deram origem ao maior êxito missionário de toda a História da Igreja. Em sete anos converteram-se oito milhões de índios, mais de um milhão por ano. Houve dias em que se batizaram 15 mil.
Quinze mil é também a média de peregrinos que cada dia vai visitar e venerar Nossa Senhora. Cada ano são cinco milhões as pessoas que ali acorrem, tomando Guadalupe o segundo lugar religioso mais visitado do mundo, isto é, logo a seguir a Roma, ultrapassando mesmo Fátima e Lourdes.
O Papa Leão XIII, por meio dum seu Legado, coroou Nossa Senhora de Guadalupe a 12 de Outubro de 1875; a 12 de Outubro de 1945, o Papa Pio XII declarou-a Padroeira de toda a América, e Paulo VI concedeu-lhe a rosa de ouro em 1968.
A 27 de Janeiro de 1979, na sua Viagem Apostólica ao México, o Papa João Paulo II visitou este Santuário, consagrando a Nossa Senhora de Guadalupe toda a América Latina, da qual Ela é Padroeira. Eis algumas palavras dessa oração de Consagração:
«Os primeiros missionários chegados à América, provenientes de terras de eminente tradição mariana, juntamente com os rudimentos da fé cristã, foram ensinando o amor a Ti, Mãe de Jesus e de todos os homens. E desde que o índio João Diogo falou da doce Senhora de Tepeyac, Tu, Mãe de Guadalupe, entras de modo determinante na vida cristã do povo do México... Salve, Mãe do México! Mãe da América Latina!