Jaime Carlos Patias *
No dia 2 de novembro fazemos memória dos que nos precederam, os finados. Que sabemos nós sobre o mistério da vida e da morte? Os diversos sinais de vida e morte presentes na sociedade contemporânea podem nos ajudar a refletir sobre a nossa missão de peregrinos nesse mundo. Criados à imagem e semelhança de Deus, carregamos em nossa realidade de humanos, traços visíveis daquele que nos criou. Deus quis estar representado na pessoa humana que, por sua vez está profundamente vinculada a Ele. Ao mesmo tempo carregamos em nosso ser necessidades, desejos, limitações, tensões... e estamos sujeitos às realidades do mundo.Um dos segredos do dinamismo do sistema capitalista moderno é a acumulação de riquezas, de mercadorias, como o único ou melhor caminho para satisfazer o desejo de ser, poder e aparecer. Acontece, porém, que o pensamento econômico não trabalha com as necessidades, o que seria limitado, mas sim com o desejo, que não tem limites e por isso, nunca consegue ser saciado. Nesse sistema, a satisfação prometida é ilusória e imediata, destinada a preencher um vazio no ser humano (consumidor) que quanto mais consome, mais vazio se sente. Dessa forma, é preciso inventar continuamente novas ofertas num processo infinito e auto-regulador. Desaparece a noção de limite para as ações humanas e surge a idéia de que "querer é poder". Vivemos tão preocupados em ter casas, carros, fortunas, status, aparência...Vamos acumulando medo de perder, de envelhecer, de morrer... vem a insegurança, as angústias... Apesar de não estarmos completamente convencidos dos momentos de prazer que o dinheiro compra, acreditamos que possuindo alcançaremos a felicidade e viveremos neste mundo para sempre. Surge o mito da erradicação da morte.
Podemos dizer que a pessoa, imagem de seu Criador, vive numa encruzilhada entre dois verbos: o "ser" e o "ter". Mas é diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto. No final da nossa passagem por este mundo o verbo "ter" revela-se muito pobre: não nos é possível levar nada daquilo que acumulamos, consumimos ou parecemos ser ao usar este ou aquele produto de marca. Isso porque a nossa vida pertence a Deus, que no seu amor nos chamou à existência, e não ao mercado que quer dominar e nos possuir. O que conta mesmo é o verbo "ser": o que somos de fato e o que somos na transparência do nosso interior. Na morte seremos o que fizemos de nós mesmos durante nossa vida terrena. Levo o que sou, eis o que importa.
Para o mercado, a morte é dolorosa como um fim de festa. Daí todo o esforço da sua negação. Até falar da morte é proibido, virou tabu. Para o ser humano, a morte é um fim "plenitude" e um fim "meta alcançada". Devemos sempre iluminar o mistério da morte cristã com a luz de Cristo Ressuscitado. E para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua ressurreição. A morte, sendo o fim normal, recorda-nos que temos um tempo limitado para realizar a nossa vida. Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. "Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro" (Fi 1, 21). Na pessoa de Jesus ressuscitado, Deus se revela aquele que ressuscita os mortos. Da mesma forma como ressuscitou Jesus, Deus nos ressuscitará também.
* Jaime Carlos Patias imc, diretor da revista Missões e mestre em comunicação.