José Geraldo Vidigal de Carvalho
Grandes as tribulações que suportou Maria. A ela a Liturgia aplica as palavras de Jeremias: "A quem te compararei, ou a quem te assemelharei, ó filha de Jerusalém? A quem te igualarei, ó virgem, filha de Sião? É grande como o mar a tua tribulação; quem poderá curar-te"?
A intensidade das dores desta Senhora foi na proporção mesma de sua imensa dileção para com seu divino Filho. Este era o Deus encarnado em seu seio materno, bem infinito a quem ela duplamente amava.
É este Ser ao qual estava singularmente unida que ela contemplou entregue às maiores dores físicas e morais que a uma criatura foi dado experimentar.
Assim, com razão, ela é chamada Rainha dos Mártires. Seus padecimentos foram todos morais e seu verdugo implacável o seu terníssimo coração materno. Maria foi mártir não por paixão, mas por compaixão; não pela espada de um carrasco, mas pela pujante angústia interior, tão grande que, se não fora a graça divina, ela teria sido fulminada em cada transe doloroso pelo qual passou.
As dores morais são muito mais cruéis do que as corporais.
A história registra a capacidade incrível que as pessoas têm para, anos e anos, conviver com terríveis padecimentos físicos. A dor moral, porém, quando aguda, ou leva à loucura ou causa fulminante morte.
Uma vez que Deus quis associar Maria à obra salvadora, Ele lhe deu o suporte divino de sua força sobrenatural para que ela não desfalecesse.
A devoção à Mãe das Dores, Rainha dos Mártires, sobre ser um culto de gratidão, significa estar matriculado na escola de uma Mestra admirável, que ensina preciosas lições que formam o cristão e lhe retemperam o ânimo.
A resignação com que ela suportou, por amor a seus filhos espirituais, tamanhos sofrimentos, é realmente digna de imitação.
Ela patenteia que a tribulação e a dor são caminho real por onde as almas piedosas sobem ao cume da perfeição e entram nas regiões beatificantes da mais profunda comunhão com Deus.
Honrar Nossa Senhora das Dores implica num imediato e radical aborrecimento do maior de todos os males que é o pecado, morte da alma e causa dos dissabores que ela experimentou.
A exemplo de Maria cumpre cooperar na obra da salvação empreendida por Cristo, levando os corações empedernidos a aceitarem as graças que jorraram das cinco chagas sagradas do Redentor.
Venerar a Rainha dos Mártires é receber especial fortaleza, energia celestial para os embates da existência até à vitória final.
O muito que ela sofreu insufla, por outra, confiança na sua dileção materna. Não apenas ela compreende as decepções humanas, como ainda, lá do céu, continua sua tarefa de co-redentora dos filhos que ainda atravessam o exílio terreno.
Declara o Pe. Faber: "Crescer na devoção a Maria é penhor seguro de progredir em toda a espécie das boas obras. Não há tempo melhor empregado, nem meio mais infalível de se assegurar a bem-aveturança. Mas a devoção, em resumo, não nasce tanto da veneração como do amor, por mais que esteja unido a este. Nada, contudo, mais adequado para excitar nosso amor à Santíssima Virgem como suas dores".
Assim, refletir sobre elas é ver crescer a dileção para como esta Mãe sofredora e aspirar um dia estar com ela por toda a eternidade, a fim de render-lhe um pleito perene por tudo quanto padeceu pela regeneração dos homens. Na Jerusalém celeste ela é a Senhora da Glória, a espera daqueles que ela ajudou tanto a regenerar.
Como, porém, per crucem ad lucem -- é pela cruz que se chega à luz sempiterna, cultuar a Senhora das Dores significa estar sempre junto à cruz redentora, jamais deixando a cruz que a cada um Deus reservou nesta peregrinação, cujo fim é uma ventura perene, merecida pelos sofrimentos de Jesus e pela compaixão de Maria.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho