Missão, obra do Espírito

Maurício da Silva Jardim *

Com pés e coração em Moçambique, escrevo na abertura deste mês missionário. Alguns de vocês já me conhecem, mas a todos e todas gostaria de partilhar um pouco de minha experiência missionária. Confesso que também desejaria ouvir vossas experiências de missionariedade no mundo onde vivem A verdade é que todos(as) somos missionários(as) em nossa realidade. É nossa identidade cristã mais profunda.

Alguns dias atrás falei pelo MSN na Internet com um jovem de Porto Alegre, RS, que atuava no grupo de jovens de sua comunidade. Ele partilhou: "Padre, sabia que me converti? Agora encontrei Jesus numa Igreja evangélica. Deixei de fazer coisas erradas que outrora fazia e tal...". Penso que muitos de nós já ouvimos alguma história parecida. Cristãos católicos que após mudarem de Igreja, dizem ter encontrado Jesus. Nunca dei muita importância a estas histórias. Mas desta vez dei-me o direito de um questionamento missionário sobre o tipo de evangelização que realizamos: Qual a centralidade de nossa palavra e testemunho? Conseguimos com nossa formação apontar o caminho da fé autêntica e verdadeira na pessoa e no projeto de Jesus? Será que conseguimos expressar com opções e atitudes que amamos Deus com todo coração, com toda alma e com todo entendimento? (cfr. Mt 22,37).

Falar de missão e de missionários exige primeiro uma profunda experiência de Deus para amar as pessoas com o coração de Deus. Voltemos a fonte da Palavra de Deus e nos textos evangélicos redescubramos em Jesus a missão como obra do Espírito, dada pelo Pai. Um exemplo é o célebre discurso do pão da vida (Jo 6). Jesus ao ensinar na sinagoga de Cafarnaum surpreende e escandaliza o povo com palavras complicadas de entender: "Que palavras duras. Quem pode entender isso?", murmuravam entre si os judeus depois de ouvirem Jesus falar: "Eu sou o pão que desceu do céu. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crer em mim não terá mais sede. Mas já vo-lo disse; vós vistes-me e não credes...desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (Jo6,35ss). Jesus na missão recebida do Pai mostra-se um Homem guiado pelo Espírito. Sua palavra tem força e autoridade dada pelo Pai.

Não desprezo a força transformada da palavra, mas sinto que corremos o risco de palavras bonitas e vazias. A escola da racionalidade que passamos supervaloriza os belos e lógicos discursos. Nela aprendemos articular bem as palavras. A humanidade cansou-se de tantas palavras e grita por atitudes e exemplos a ser seguido. Documentos e textos que apelam para atitudes missionárias já conhecemos e estamos de acordo que este é o caminho do Espírito. O que ainda nos falta ?

A decisão missionária de três jovens leigos do Regional Sul 3 da CNBB, nos falam muito, mesmo que não usem muitas palavras. Aqui recebemos como boa notícia que a Tatiane de Porto Alegre, a Camila e Edenilson de Osório se colocaram a disposição para a causa missionária na África. Com eles o Espírito está abrindo novas janelas para nossas Igrejas locais respirarem novos ares e deixarem que o vento renovador nos contagie a todos. Além destes jovens pedimos ao dono da messe que também enviem presbíteros para esta causa missionária. Estou na diocese de Nampula, norte de Moçambique, que tem quarenta e duas paróquias, sendo que dezesseis não têm presença de padres. Sempre lembro em minhas orações para que outros tenham a graça de escutarem esta voz inquietadora e apaixonante do Espírito. Repito sempre que estou agradecido pela graça de estar aqui. Gostaria que outros tivessem esta oportunidade.

Continuemos nesta trilha missionária. Que a inquietação do Espírito nos acompanhe. Que cada um viva este espírito missionário no ambiente e no serviço que Deus nos colocou. Façamos a missão sem muito barulho e desejo de resultados ou sucessos. Não esqueçamos que o Reino dos céus é comparado ao grão do mostarda, a menor de todas as sementes.

* Padre Maurício da Silva Jardim, da arquidiocese de Porto Alegre, missionário do Projeto Igrejas Solidárias Regional Sul 3 da CNBB, em Moçambique.

 

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