Combate à violência contra a mulher

Dom Orlando Brandes *

A humanidade tem feito avanços e progressos humanitários admiráveis, necessários e louváveis. Estamos vivendo uma mudança de época. As mulheres em sintonia com boa parte da sociedade alcançaram o direito ao voto, direito de participação na vida pública, política, cultural, o direito ao salário justo, à jornada de trabalho, à carteira assinada, à aposentadoria, enfim, estamos em tempos de emancipação da mulher, da igualdade de dignidade entre o homem e a mulher "osso de meus ossos, carne da minha carne" (Gn 2,23).

Homem e mulher estão chamados a viver em complementariedade, reciprocidade e igual dignidade. A opção pela mulher é uma questão de justiça. A sociedade tem para com a mulher a dívida de gratidão, de valorização, de justiça. Chegou a "hora da mulher". Seja exorcizada a discriminação, a inferioridade, a violência contra a mulher. As mulheres são a metade da humanidade e o "gênio feminino" (João Paulo II), brilha na educação, na catequese, na política, no mercado, na família, na escola, na Igreja, na evangelização.

Grande é a luta pela superação da mortalidade materna e o combate à violência contra a mulher. A questão da mulher é um "sinal dos tempos" (João XXIII). Assim falou Bento XVI na abertura da Conferencia de Aparecida: "uma mentalidade machista, ignora a novidade do cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e a responsabilidade da mulher com relação ao homem".

Mediante toda essa justa promoção da mulher e em pleno novo milênio, topamos com a deplorável e insustentável violência contra a mulher. É a vigência da lei da selva, da força, do poder, da dominação contra a dignidade da vida e da mulher. É um fracasso, uma vergonha, um retrocesso cultural, ético, espiritual. É necessário gritar contra o espancamento, o mau-trato, a humilhação, a violência contra a mulher, e fazer valer a lei, punindo e recuperando os culpados.

Entre nós o machismo vem de longe. Os pais privilegiam mais os meninos que as meninas. Alegram-se quando os meninos se comportam como machos, viris, prepotentes. São premiados com a liberdade, a permissividade, a onipotência. Por outro lado, a preparação para o casamento e a convivência familiar é superficial e insuficiente. O homem sempre quer levar vantagem em tudo. Está mais preocupado em ser reprodutor e senhor, do que pai, esposo e educador. Claro que já avançamos no combate ao machismo e temos pais participativos, educadores, provedores, protetores.

Desde 2006 temos a Lei Federal nº 11.340, "Lei Maria da Penha" para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Esta lei é fruto da luta dos movimentos de mulheres para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher. Temos também nesta mesma direção a "Delegacia da Mulher". Na Delegacia de Londrina, de janeiro a julho de 2009 houve 1.696 ocorrências de violência contra a mulher.

Em Londrina, várias entidades formaram o grupo "Nós do Poder Rosa" com o objetivo de combater a violência contra a mulher, apoiar a casa abrigo para mulheres e filhos em situação de risco (Casa Dália) e sustentar outras iniciativas em favor da mulher agredida, injustiçada, discriminada. Estas iniciativas populares merecem nosso apoio e divulgação.

Em nome da grande devoção que prestamos a Maria, mãe de Jesus e mãe da humanidade, somos convocados a combater a violência contra a mulher, superar o machismo e preparar bem os noivos para o casamento. Temos a Pastoral da Criança, do Menor, da Família e todas as Pastorais Sociais que fazem um admirável e concreto trabalho em favor da dignidade humana, especialmente, da mulher negra, índia, rural, operaria e agredida. Que as mulheres não tenham medo de denunciar as injustiças e agressões que sofrem. Por outro lado, conhecemos tantos testemunhos de esposas, mães e mulheres que souberam educar, perdoar e transformar a vida, a pessoa e a índole de seus esposos ou companheiros, com a luz da fé, o valor da educação e a força do amor.

* arcebispo de Londrina

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