José Altevir da Silva *
"A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece" (RM 2).
É neste espírito de partilha e cooperação intereclesial, que está desenhado o rosto alegre e acolhedor da Igreja no Brasil. Uma Igreja animada pela fé para ir, e falar ao coração da humanidade, a grande família de Deus. Pois afinal, a missão se baseia na convicção de que o Evangelho de Jesus Cristo é válido para todos os povos, convicção que se manifesta através de um esforço constante para unir-se aos outros, realizando assim concretamente uma pertença universal. Embalada pela a missão de Jesus Cristo, a Igreja no Brasil, consciente de que não é "dona da missão", mas que à ela pertence, parte para as terras de Timor Leste.
Foi no ano de 2000, que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, juntamente com a Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil, assumem um Projeto de colaboração missionária com a Diocese de Baucau, em Timor Leste. Trata-se de uma missão inter-congregacional, chegando a contar até com a participação de oito diferentes congregações. Podemos dizer que a experiência da inter-congregacionalidade, pode ser um caminho, com o qual se abre novos horizontes de partilha de diferentes carismas como dom de Deus, a serviço dos pobres, excluídos, esquecidos por este mundo a fora.
Hoje o Projeto completa nove anos de existência, sendo que o mesmo foi pensado, elaborado e planejado para dez anos. Durante todos esses anos as missionárias que lá atuavam, eram acompanhadas, apoiadas pelas Conferências supracitadas, tendo o Conselho Missionário Nacional COMINA), como órgão responsável diretamente pela reflexão e encaminhamentos práticos. As missionárias em Timor Leste, sempre puderam contar com visitas oficiais, da CNBB e CRB. Neste ano de 2009, foi enviada uma equipe formada por Dom Pedro Brito Guimarães, bispo de São Rainundo Nonato e membro da Comissão Missionária, Pe. Daniel Lagni, Diretor das Pontifícias Obras Missionárias e Pe. José Altevir da Silva, CSSp, assessor da Dimensão Missionária e Secretário Executivo do COMINA. A visita que demorou quase vinte dias, tinha por objetivo fazer uma avaliação global do Projeto, feita em várias instâncias, tendo em vista a conclusão do mesmo, marcada para julho de 2010, época em que o Projeto completará seus dez anos de existência.
No momento fazem parte do Projeto, sete missionárias, de diferentes congregações: Ir. Marlene de Oliveira (Irmãs Josefinas), Ir. Maria Helena Barbosa (Irmãs do Preciosismo Sangue de Cristo), Irmã Zélia Neiss (Congregação da Divina Providência), Irmã Ana Fusinato (Irmãs Catequistas Franciscanas), Irmã Regina Celi (Irmãs Jesus Crucificado), Irmã Anna Christina (Irmã Franciscana do Sagrado Coração de Jesus) e Irmã Ivanilde Rodrigues (Irmãs Mercedárias Missionárias do Brasil). As sete missionárias estão morando em duas comunidades, em locais diferentes, uma em Laleia, outra em Laclubar, que fica na montanha, distante três horas e meia da primeira.
O trabalho das missionárias é bastante diversificado, pois tentam responder às necessidade da realidade em que se encontram, sendo sinal e presença de uma Igreja viva e atuante no meio do povo. Há quem atua na formação dos seminaristas, lecionando no Seminário, junto às crianças com deficiências físicas e mentais, na escola secundária, dando aula de português, na pastoral da criança, infância missionária e outras atividades.
O povo é muito pobre, sendo que oitenta por cento da população vive no campo, o analfabetismo é alto, cerca de cinqüenta e seis por cento, água potável e luz elétrica, o fornecimento é irregular, onde tem, luz funciona das 18 às 23h, a base de geradores. Comércio, o país importa quase tudo. Em geral, o país todo está em fase de reconstrução. Em conversa com pessoas conscientes, nós ouvíamos: se é difícil reconstruir o país, ainda mais refazer o interior das pessoas, marcadas pela violência dos conflitos ainda muito recentes.
Durante nossa visita tivemos oportunidade de além da avaliação propriamente dita, administramos palestras nas escolas, no seminário, para os padres e missionários brasileiros que lá se encontram. As temáticas giravam em torno do Ano Paulino, da Missão em países empobrecidos, da re-evangelização, da organização missionária da Igreja no Brasil e espiritualidade missionária.
Foram dias bastante cheios de atividades, mas valeu a pena, pois estávamos junto a um povo que mesmo sofrido, expressava fortemente busca por vida digna. E o que mais me chamou atenção, foram expressões de valores que numa sociedade mais marcada pela globalização, já não se percebe muito, o respeito e a educação para com as pessoas.
Concluindo, não me furto em dizer que Timor Leste tem belas paisagens, como é bela a alma daquele povo sedento por Deus. Mais de noventa por cento da população se diz católica, com uma presença crescente nos últimos anos de evangélicos.
Às missionárias dedico com todo carinho expressão de gratidão, parabenizando e agradecendo por si lançarem em missão.
* José Altevir da Silva, CSSp, Assessor Nacional da Comissão Missionária - CNBB
