Luiz Bassegio e Paulo Illes*
Convocados pelo Espaço Sem Fronteiras e pela Secretaria Permanente da Mesa Técnica das Migrações da Bolívia reuniram-se em La Paz, nos dias 16 e 17 de junho, representantes de movimentos sociais e entidades que trabalham com migrantes, provenientes de 09 países. Intercambiar experiências sobre o tema da feminilização da migração, criar um grupo de trabalho para debater o tema de Migração e Gênero eram os objetivos do encontro.
Feminilização da migração
As mulheres eram em 1960, 46,6% dos imigrantes, três décadas depois elas já atingem mais de 50% do total de imigrantes, num total de 95 milhões de mulheres. Apesar disto, continuam invisibilizadas no mundo. Na maioria dos casos, aparecem como sendo objeto de estudo e pesquisa, são outras pessoas que falam por elas e no melhor dos casos, são consideradas como destinatárias de políticas assistenciais promovidas por organismos eclesiais, civis, governamentais e ONGs.
Apesar de atualmente, o papel da mulher estar mudando, porém, ao não serem superados os mecanismos que impedem seu igual acesso aos recursos, a tomada de decisões e os benefícios do desenvolvimento, a sua situação na sociedade pouco melhorou. Na região latinoamericana, o processo de ajuste estrutural implementado desde os anos 90, assim como a redução do emprego nas áreas mais atrasadas, obrigaram a milhões de mulheres a migrar internacionalmente, na maioria das vezes contra a sua vontade. Estudos indicam que há cerca de 6 milhões de mulheres trabalhando em situação análoga a escravidão no mundo.
Crise e Migrações
No encontro também debateu-se, no primeiro dia, a crise mundial e suas implicações com as pessoas imigrantes. Calcula-se que a crise está obrigando a 10 milhões de pessoas a retornarem a seus países, sendo que ao redor de 650 milhões de pessoas serão obrigadas a migrar nas próximas décadas devido a crise, sendo que destes, 250 milhões o serão por causa de fenômenos relativos às mudanças climáticas.
Nos debates, os participantes foram unânimes em afirmar que não se pode aceitar que se faça dos imigrantes os bodes expiatórios da crise; eles não são a causa da crise, são a solução. A crise que a paguem os que a provocaram, os banqueiros, os especuladores, as transnacionais e os governos neoliberais.
O debate esclareceu que não se trata de muitas crises, mas de uma crise fundamental, a do paradigma capitalista que provoca diversas outras consequências na economia, energia, no cultural, no social e ambiental. Na raiz está o sistema capitalista que do ponto de vista econômico é concentrador e excludente; socialmente injusto; culturalmente é destruidor das culturas e ambientalmente é depredador da natureza e dos bens comuns da humanidade.
Sobre o tema das remessas os debates indicaram que são familiares e não produtivas e são um elo de união entre os emigrantes e suas famílias na origem e servem para ajudar as famílias a superar dificuldades relativas às necessidades básicas libertá-las de dívidas. Por outro lado desenvolvimento deve ser tarefa dos governos e dos organismos multilaterais e não as remessas do sofrido trabalho dos emigrantes.
* Serviço Pastoral dos Migrantes e do Grito dos Excluídos Continental