Maria Cecilia Domezi *
As CEBs (comunidades eclesiais de base) realizam seus encontros intereclesiais desde 1975. Como já disse Leonardo Boff, esses encontros podem ser reconhecidos como um verdadeiro sínodo da base da Igreja.
O caráter de "base" pode ser explicado por vários sentidos: porque essas comunidades vivas são constituídas majoritariamente por pessoas da base da sociedade, ou seja, pessoas economicamente pobres e exímias na cultura popular; porque são comunidades dinamizadas e lideradas por leigas e leigos, isto é, quem não faz parte do clero; porque são Igreja da base, quer dizer, são comunidades menores, que favorecem inter-relações e solidariedade entre as pessoas e são lugar de comunhão e participação.
Quando se realizava o 11º. Intereclesial, em Ipatinga, Minas Gerais, representantes de algumas dioceses do Brasil levaram seu convite para o próximo Intereclesial. Eram convites alegres, generosos e criativos. Mas, um deles contagiou desde o primeiro instante: era o que veio de Rondônia, da diocese de Porto Velho.
Diante desse convite que dizia "venham para a Amazônia!", o sentimento foi o de "um só coração e uma só alma". A escolha foi unânime. Assim, as CEBs de todo o Brasil passaram a cantar: "Do Leste II para o Noroeste/ vamos, ó gente, ao décimo segundo/ pegue a bíblia e a sua veste/ lá tem lugar para todo mundo!" A mobilização para um encontro gigantesco numa região da nossa Amazônia é um grande desafio. As CEBs são constituídas por pessoas trabalhadoras assalariadas, muitas delas no mercado informal, não poucos enfrentando subemprego e desemprego. Além disso, estas comunidades de fé e vida não têm dinheiro, porque sua aliança é com os mais pobres e excluídos, e não com grandes empresários e latifundiários.
No entanto, continuamos vendo que a receita dada por Jesus é eficiente: na partilha entre os pobres se faz a multiplicação dos pães. A solidariedade faz acontecer o milagre de uma grande mobilização.
O 12º. Intereclesial de CEBs já está acontecendo, num rico processo de preparação. Um momento forte será o grande encontro em Porto Velho, de 21 a 25 de julho de 2009. Na temática da Ecologia e da Missão, já se difunde o slogam: "Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia".
Sabemos das agressões e violências sofridas pelo nosso planeta Terra, como também da gravidade dos problemas por causa dos estragos. As CEBs querem, na parceria com outras organizações de boa vontade, lutar por um modo de vida sustentável e solidário. Querem compartilhar experiências de sustentabilidade.
Querem aprender dos trabalhadores e trabalhadoras da Amazônia. Querem ser "comunidades eclesiais ecológicas de base". Com um profetismo renovado, é hora de denunciar a ambição capitalista neoliberal, que torna a vida das maiorias cada vez mais insustentável. Para reinar a paz, que é fruto da justiça, têm que acabar os envenenamentos, os represamentos e as destruições desencadeados pelos que têm a febre do lucro. Tem que haver uma educação ecológica, com exercício de cuidar dos biomas e de todo o eco-sistema.
Não dá pra ser individualista. O individualismo é capaz de destruir nossa Casa- Comum. E, no mesmo profetismo renovado, é hora de anunciar as boas-novas das práticas ecologicamente corretas, mesmo aquelas que a TV nunca mostrou. Temos que continuar tecendo redes de solidariedade, globalizando a esperança. Que a força sagrada da Pacha Mama, nossa Mãe Terra, esteja no 12º. Intereclesial de CEBs!
* Maria Cecilia Domezi, historiadora e assessora das CEBs.
Fonte: Informativo CEBs Acontecendo, N. 65 - Março 2009