Revista Aparecida
Escuta, segue e anuncia!
Entre os dias 1 e 4 de maio Aparecida recebe o II Congresso Missionário Nacional, organizado pelo COMINA (Conselho Missionário Nacional).
Com o lema "Igreja do Brasil: Escuta, segue e anuncia", o Congresso tem como objetivo despertar nossa natureza missionária e, guiados pelo Espírito Santo, nos colocar a serviço do Reino.
Nesta entrevista, Dom Sérgio Eduardo Castriani, presidente do COMINA, nos dá preciosas orientações para que verdadeiramente assumamos nossa vocação de missionários sendo discípulos de Cristo comprometidos como anúncio da Boa Nova.
RdA: O que é o Congresso Missionário?
Dom Sergio Castriani: O Congresso Missionário é o encontro daqueles e daquelas que nas paróquias, nas dioceses e nos regionais da CNBB, através das comissões missionárias paroquiais, diocesanas e regionais fazem a animação e a cooperação missionária acontecerem. Participam também missionários e missionárias que dão o seu testemunho pessoal, e as instituições missionárias, tais como as congregações religiosas, que têm este carisma ou que enviam os seus membros além fronteiras, a imprensa missionária e outros. O Congresso serve para celebrar esta dimensão essencial da natureza da nossa Igreja, para refletir sobre a atualidade da missão e seus desafios, para avaliar e traçar caminhos novos de animação e de cooperação missionária. Este segundo Congresso se realiza à luz da Conferência de Aparecida e em preparação ao 3º Congresso Missionário Americano e 8º Congresso Latino Americano - CAM 3 Comla 8 que se realizará em Quito, no Equador, no mês de agosto. Quando falamos em Missão neste Congresso, estamos pensando na missão "ad gentes", isto é, na missão entre aqueles que ainda não ouviram a Boa Nova de Jesus, e na missão "além fronteiras" que nos desafia como Igreja a ir à outra margem, ultrapassando fronteiras culturais, religiosas, econômicas e geográficas.
RdA: Quais os resultados de um Congresso como esse e como eles se aplicam no dia a dia?
Dom Sérgio: Os Congressos Missionários têm um primeiro resultado que é o fortalecimento da organização missionária da nossa Igreja, isto é, o fortalecimento das Instituições que fazem a animação missionária e promovem a cooperação entre as diversas Igrejas locais no anúncio do Evangelho. Depois dos Congressos nota-se um maior dinamismo, por exemplo, na Infância e na Juventude Missionária, na realização de Congressos regionais e locais, em uma maior generosidade nas coletas anuais, mas sobretudo no aumento de vocações missionárias. Muitas pessoas se oferecem e procuram uma forma de partir em missão. Também congregações religiosas, regionais da CNBB tomam conhecimento da realidade da missão e fazem projetos ou se integram em projetos já existentes.É difícil avaliar tudo o que acontece no dia a dia das comunidades, das paróquias, dos movimentos, mas é notável o crescimento da consciência missionária a partir dos Congressos. Não foi por acaso que Aparecida teve como uma de suas linhas mestras a Missão.
RdA: O objetivo geral do Congresso fala em assumir nossa "natureza missionária". O que é ou como se manifesta essa característica?
Dom Sérgio: A natureza missionária da Igreja se manifesta em primeiro lugar no cumprimento do mandamento do amor, que se realiza no serviço aos outros, em suas diversas dimensões de caridade, de justiça, de transformação em favor da vida, e do exercício da misericórdia. Em seguida somos missionários quando damos testemunho da transformação que a graça de Deus opera em nós pelos sacramentos e pela Palavra ouvida e meditada. Esta transformação é pessoal, mas também comunitária. A partir do serviço e do testemunho, anunciamos explicitamente Jesus Cristo, o nome diante do qual todo joelho deve se dobrar, porque sendo de condição divina encarnou-se e pela cruz redimiu o mundo. Tudo isto acontece num mundo plural onde o diálogo e o respeito pela liberdade de opções, sobretudo as religiosas, é condição da missão, pois a aceitação do mistério de Cristo só é autêntica quando se dá em plena liberdade. Os missionários que partem "ad gentes" e "além fronteiras", são sinais eloqüentes desta dimensão. Nossa colaboração com eles na oração e no apoio material manifesta o nosso compromisso com a ordem de Jesus: "Ide pelo mundo inteiro..." Não somos plenamente Igreja se não levarmos esta ordem a sério.
RdA: Ser missionário é compromisso apenas de religiosos e consagrados?
Dom Sérgio: De maneira alguma. O batismo nos faz cristãos, ungidos pelo Espírito, para anunciar a Boa Nova. A vida cristã é missionária ou não é cristã. Serviço, testemunho, anúncio e diálogo são características de toda vida cristã. Religiosos, consagrados e leigos missionários em geral estão em situações de fronteira, onde por razões práticas nem todos podemos estar. Eles são sinais que apontam para aquilo que todos devemos viver. Na vida do dia a dia vivemos continuamente situações missionárias nos encontrando com pessoas que precisam de nosso serviço, que esperam de nós um testemunho autêntico de vida de fé, que ainda não ouviram a Boa Nova de Jesus ou que ainda não tiveram um encontro pessoal com Ele, com homens e mulheres que não têm a fé que temos, mas que estão em busca da verdade tanto quanto nós.
RdA: De que forma os meios de comunicação podem estar a serviço da missão?
Dom Sérgio: Olhando o mundo com os olhos do Pai, isto é, com misericórdia, levando sempre em conta os pequenos, os marginalizados, os oprimidos, vivendo assim a dimensão de serviço. Falando a verdade, pois a verdade nos leva a Deus. Anunciando Jesus Cristo, seu Evangelho, sua Igreja de forma explícita, não como show da fé, mas como caminho e vida, que exigem a cruz de cada dia, a solidariedade com os irmãos, a conversão pessoal. Do ponto de vista de nossa Igreja mostrando a vida de nossos missionários, a situação em que vivem, as dificuldades da Igreja que sofre em tantas partes do mundo, as necessidades materiais da missão. Já seria um grande passo se os meios de comunicação católicos levassem a sério o mês de outubro como mês missionário, e o dia mundial das missões como ocasião de promover a consciência missionária dos católicos.
(Publicada na edição de maio da Revista de Aparecida).