Homilia de Bento XVI no Monte das Oliveiras

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"Na Terra Santa há espaço para todos"

Queridos irmãos e irmãs no Senhor,

"Cristo ressuscitou, aleluia!" Com estas palavras, saúdo-vos com imensa afeição. Agradeço o patriarca Fouad Twal por suas palavras de boas-vindas em vosso nome, e antes de tudo eu expresso minha alegria por poder celebrar esta Eucaristia convosco, a Igreja em Jerusalém. Estamos unidos ao lado do Monte das Oliveiras, onde nosso Senhor orou e sofreu, onde ele chorou por amor a esta Cidade e pelo desejo de que devesse conhecer "o caminho para a paz" (Lc 19, 42), de onde retornou ao Pai, dando sua última benção terrena a seus discípulos e a nós. Hoje aceitemos esta benção. Ele a dá em uma forma especial a vocês, queridos irmãos e irmãs, que se colocam em uma linha inquebrável com aqueles primeiros discípulos que encontraram o Senhor Ressuscitado no partir do pão, aqueles que experimentaram a vinda do Espírito Santo no andar superior e aqueles que foram convertidos pela pregação de São Pedro e dos outros apóstolos. Minha saudação também vai para todos aqueles presentes, e em um modo especial àqueles fiéis da Terra Santa que por várias razões não puderam estar conosco hoje.

Como o sucessor de São Pedro, refiz seus passos para proclamar o Cristo Ressuscitado em seu meio, para confirmá-los na fé de seus pais e invocar sobre vocês a consolação que é dom do Paráclito. Aqui, diante de vocês, eu desejo conhecer as dificuldades, as frustrações, a dor e o sofrimento que tantos de vocês suportam por causa dos conflitos que afligiram estas terras, e as amargas experiências de deslocamento que tantas famílias experimentaram e possam ainda experimentar. Espero que minha presença aqui seja um sinal de que vocês não estão esquecidos, que sua perseverante presença e testemunho são de fato preciosos aos olhos de Deus e importantes para o futuro destas terras. Precisamente por causa de sua profunda raiz nesta terra, sua antiga e forte cultura cristã, e sua inabalável confiança nas promessas de Deus, vocês, cristãos da Terra Santa, são chamados a servir não apenas como farol de fé para a Igreja universal, mas também como um fermento de harmonia, sabedoria e equilíbrio na vida de uma sociedade que tradicionalmente foi, e continua sendo, pluralista, multiétnica e multi-religiosa.

Na segunda leitura de hoje, o Apóstolo Paulo diz aos Colossenses: "buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Col 3, 1). Suas palavras ressoam com particular força aqui, ao lado do Jardim do Getsêmani, onde Jesus aceitou o cálice de sofrimento em completa obediência à vontade do Pai, e onde, de acordo com a tradição, ele subiu para a direita do Pai para fazer perpétua intercessão por nós, os membros de seu Corpo. São Paulo, o grande arauto de esperança cristã, sabia o custo daquela esperança, seu preço de sofrimento e perseguição pelo amor de Deus, mas ele nunca se abalou em sua convicção de que a ressurreição de Cristo foi o início de uma nova criação. Como nos diz: "Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória" (Col 3, 4).

A exortação de Paulo, "buscar as coisas do alto", deve ecoar constantemente em nossos corações. Suas palavras nos apontam para a realização da visão da fé na Jerusalém celeste, onde, em fidelidade aos profetas antigos, Deus enxugará as lágrimas dos olhos e preparará um banquete de salvação para todos os povos (cf. Is 25, 6-8, Apo 21, 2-4).

Esta é a esperança, esta é a visão, que inspira todo que ama esta Jerusalém terrestre para vê-la como uma profecia e promessa da reconciliação e paz universal que Deus deseja para toda a família humana. Infelizmente, ao lado das muralhas desta mesma Cidade, também somos levados a considerar quão longe nosso mundo está da completa realização dessa profecia e promessa. Nesta Cidade Santa onde a vida venceu a morte, onde o Espírito foi derramado como primeiros frutos da nova criação, a esperança continua a combater o desespero, a frustração e o cinismo, enquanto a paz que é dom de Deus e chamado continua a ser ameaçada pelo egoísmo, o conflito, a divisão e as cinzas de erros passados. Por esta razão, a comunidade cristã nesta Cidade que testemunhou a ressurreição de Cristo e a vinda do Espírito Santo deve agarrar-se ainda mais a esperança oferecida no Evangelho, guardando a promessa da vitória definitiva de Cristo sobre o pecado e a morte, testemunhando o poder de perdoar, e mostrando a natureza profunda da Igreja como o sinal e sacramento de uma humanidade reconciliada, renovada e unificada em Cristo, o novo Adão.

Unidos ao lado dos muros desta cidade, sagrada aos seguidores de três grandes religiões, como não voltar nossos pensamentos à vocação universal de Jerusalém? Anunciada pelos profetas, esta vocação também emerge como um fato indiscutível, uma realidade irrevogável marcada na complexa história desta cidade e seu povo. Judeus, muçulmanos e cristãos chamam esta cidade de sua casa espiritual. Quanto precisa ser feito para fazê-la verdadeiramente uma "cidade de paz" para todos os povos, onde todos possam vir em peregrinação em busca de Deus, e ouvir sua voz, uma voz que fala de paz" (cf. Salmo 85, 8)!

Jerusalém, na verdade, sempre foi uma cidade em cujas ruas ecoam diferentes línguas, cujas pedras são pisadas por pessoas de toda raça e idioma, cujos muros são um símbolo do carinho providente de Deus para com toda a família humana. Como um micro-cosmo de nosso mundo globalizado, esta Cidade, se viver sua vocação universal, deve ser um lugar que ensina a universalidade, o respeito pelos outros, o diálogo e a compreensão mútua; um lugar onde o preconceito, a ignorância e o medo que os alimenta são superados pela honestidade, a integridade e a busca pela paz. Não deveria haver lugar entre estes muros para mesquinhez, discriminação, violência e injustiça. Crentes em um Deus de misericórdia - que se identificam como judeus, cristãos e muçulmanos - devem ser os primeiros a promover esta cultura de reconciliação e paz, por mais lento que possa ser o processo e grave o peso das lembranças passadas.

Aqui eu gostaria de falar diretamente da trágica realidade - que não pode deixar de ser um motivo de consenso para todos que amam esta Cidade e esta terra - da partida de tantos membros da comunidade cristã nos anos recentes. Enquanto compreensíveis razões levam muitos, especialmente os jovens, a migrar, esta decisão trás consigo um empobrecimento cultural e espiritual para a cidade. Hoje quero repetir o que disse em outras ocasiões: na Terra Santa há espaço para todos! Enquanto chamo as autoridades a respeitar, apoiar e valorizar a presença cristã aqui, também quero assegurar-lhes a solidariedade, o amor e o apoio de toda a Igreja e da Santa Sé.

Queridos amigos, no Evangelho que acabamos de ouvir, São Pedro e São João correm ao sepulcro vazio, e João, como ouvimos, "viu e acreditou" (Jo 20, 8). Aqui na Terra Santa, com os olhos da fé, vocês, junto com os peregrinos de todo o mundo que enchem suas igrejas e basílicas, são abençoados por "ver" os lugares santificados pela presença de Cristo, seu ministério terreno, sua paixão, morte e ressurreição, e o dom do Espírito Santo. Aqui, como o apóstolo São Tomé, vocês recebem a oportunidade de "tocar" as realidades históricas que sublinharam nossa confissão de fé no Filho de Deus. Minha oração por vocês hoje é para que continuem, dia após dia, a "ver e acreditar" nos sinais da providência de Deus e infalível misericórdia, e a "tocar" as fontes de graça nos sacramentos, e encarnar para os outros sua promessa de novos tempos, de liberdade nascida do perdão, da luz interior e da paz que podem trazer cura e esperança para até mesmo as realidades humanas mais obscuras.

Na Igreja do Santo Sepulcro, peregrinos em todo século veneraram a pedra que a tradição diz ter estado na entrada do túmulo na manhã da ressurreição de Cristo. Retornemos frequentemente àquele túmulo vazio. Lá reafirmemos nossa fé na vitória da vida, e oremos para que cada "pedra pesada" que se coloca ante a porta de nossos corações, bloqueando nossa entrega completa ao Senhor em fé, esperança e amor, seja abalada pelo poder da luz e vida que brilhou de Jerusalém para todo o mundo naquela manhã de Páscoa. Cristo ressuscitou, aleluia! Ele está verdadeiramente ressuscitado, aleluia!

[Tradução de Élison Santos

© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

Fonte: ZENIT

 

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