Alfredo J. Gonçalves *
Em lugar de lamentar as folhas caídas no outono, é melhor esperar pelas flores da primavera. Equivale ao provérbio segundo o qual "não adianta chorar o leite derramado".
Do solo frio e úmido, as raízes da árvore extraem os ingredientes que irão compor a seiva que a alimenta e a faz produzir periodicamente folhas, flores e frutos.
O ser humano não possui raízes. De onde há de extrair a seiva que o nutre, levando-o igualmente a produzir bons frutos?
A verdade é que o ser humano também tem raízes, mas diferentes dos vegetais. Nestes, a seiva se compõe de elementos materiais. Naquele, ao contrário, desenvolve-se uma seiva imaterial que o mantém de pé.
De fato, enquanto as plantas retiram seu alimento da terra, os homens e mulheres o buscam no céu ou no próprio interior, no mais íntimo de suas entranhas.
Ali, naquilo que se convencionou chamar de alma ou espírito, o próprio Deus fez sua morada. Cada ser humano é templo vivo do Espírito Santo. Por isso é que, nessa busca incessante da seiva mística, desenvolve-se o processo de maturação da espiritualidade.
A semente que se transforma em árvore, crescendo para baixo em forma de raízes e para cima em forma de tronco, não pode recolher de uma só vez, como em um único trago, a substância que a alimenta e a faz frutificar. Tem de destilar dia-a-dia seus nutrientes.
Assim o ser humano. Ao aprofundar a busca de si mesmo através da intimidade com Deus, e ao aprofundar essa intimidade no caminho do autoconhecimento, não pode beber de uma só vez, de um único trago, a água viva que vem da relação entre Criador e criatura. Deve a cada dia voltar à fonte, num processo contínuo de vivificação, se quiser efetivamente dar seus frutos.
A cada ano, seguindo a lei oculta das estações, a árvore se renova: se despe e veste novamente sua roupagem. As flores cobrem o chão dos caminhos, os frutos lhe são tomados ou caem de maduros, as folhas secam e são varridas pelo vento. Deverá esperar a primavera!
Não é tão diferente com o ser humano. Se é verdade que jamais chegará a perder toda beleza das flores, todo sabor dos frutos e todo frescor das folhas, também é certo que, em sua breve travessia terrena, atravessará invernos frios e duros, profundas crises existenciais, desertos inférteis e inóspitos, momentos de solidão e orfandade.
Daí a necessidade de renovação. Necessidade de recriar a própria vida em dupla dimensão: de uma parte, desnudar-se das próprias vestes, de uma segurança aparente e enganosa, da auto-suficiência arrogante e cheia de si. "Tira as sandálias porque o solo que pisas é sagrado", diz o Senhor a Moisés no episódio da sarça ardente (Ex 3, 1-6).
De outra parte, revestir-se com "a armadura de Deus", lembra o apóstolo Paulo (Ef 6, 11). O que nos remete à imagem da videira e dos ramos (Jo 15, 1-8). O ramo não poderá produzir fruto se não permanecer unido à videira. "Sem mim, nada podereis fazer", conclui o Mestre.
A fria nudez e o fato de deixar-se revestir pela graça de Deus podem ser comparados, no reino vegetal, à passagem do outono e inverno à primavera e verão. Também os homens e mulheres experimentam no corpo e na alma suas estações.
Bogotá, Colômbia, 11 de julho de 2015.
* Alfredo J. Gonçalves, CS, é Conselheiro Geral e Vigário dos Missionários de São Carlos.