Na Síria: chegou a hora da vitória da diplomacia?

Por Agnès Rotivel avec Benjamin Quénelle

Vladimir Poutin deseja envolver o ocidente numa coalizão contra o grupo radical do Estado Islâmico (EI).
Depois de quatro anos de conflito, a Síria já conta com 8 milhões de deslocados e 4 milhões de refugiados. As vítimas chegam a 240 mil e os refugiados percorrem muitos quilômetros em busca de segurança mínima.

"A Síria poderia ser resgatada dessa situação drástica em poucos meses", afirma o antigo presidente da França, Nicolas Sarkozy. "É necessário preparar uma força armada, apoiada pelos países vizinhos e em diálogo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin". Com essa proposta, Putin ficaria satisfeito porque ajudaria a solucionar as más interpretações".

Estado Islâmico é inimigo comum

Depois de 4 anos de Guerra sem solução, o ocidente está cansado e agora batem à sua porta milhares de refugiados que fogem do regime de Bachar e dos lugares onde o conflito favoreceu os rebeldes, apoiados pelos países europeus. Os governantes atuais da EU não sabem como interromper este fluxo de cidadãos nem como impedir a infiltração de membros do EI. Para aqueles que não dispõem de recursos, o objetivo não é ficar na Turquia ou no Líbano mas chegar a qualquer lugar dos países ocidentais.

No dia 16 de setembro, Putin se propôs a partir para um diálogo com os Estados Unidos, entre militares de ambas as potências para evitar que se desenvolva uma conflito direto entre o exército russo e o americano. Se for possível um entendimento entre os dois países, o conflito encontrará sua solução.

A intenção de Moscovo é chegar a uma reconciliação mundial para lutar e vencer juntos o movimento islâmico de tal modo que Putin possa ficar como o herói da vitória sobre o conflito na Síria", afirma o opositor sírio, Haytham Manna.

Putin um "promotor de paz"

Vladimir Putin está se projetando como um promotor de paz. Isto revela um paradoxo se olharmos para a sua diplomacia crítica a respeito do que ele chama "ingerência ocidental no Médio Oriente. Mas ele entende que existe uma urgência para solucionar o problema: Moscovo está preocupado com alguns dos seus tradicionais aliados, entre eles o presidente Bachar Al Assad, perante o EI porque no caso de derrubada do presidente do país, aí se concentrarão milhares de jihadistas provenientes da região do Cáucaso.
"Portanto, os interesses de Moscovo não se referem apenas à assistência aos cidadão de Damasco e seu regime, porque a Rússia prepara-se com as infraestruturas necessárias para fazer um ataque aéreo arrasador na Síria conta o EI ", afirma Igor Delanoë, pesquisador geopolítico e observador franco-russo em Moscovo. A pretensão de Moscovo é ousada e deve ter uma segunda intenção, a de resolver o conflito do Ucrânia por caminhos diplomáticos", afirmam os mesmos analistas.

Uma "propaganda bem articulada por Moscovo e Damasco"

Por enquanto essa propaganda deixa-nos uma mensagem bem clara: "A Rússia apresenta as propostas de modo a deixar entender que ela sozinha pode resolver o problema e assim empurrar os países ocidentais para que se coloquem de acordo com ela para adotar o mesmo processo na questão da Ucrânia", afirma o pesquisador, Pavel Felgenhauer, cientista militar em Moscovo. Mas ,por trás disso o que existe é o interesse russo em proteger o regime de Bachar al Assad", completa o especialista sobre a guerra na Síria e o professor escocês, Édimbourg.

"Atualmente a Rússia tem dois centros militares instalados na Síria para proteger o regime de Assad, e os Estados Unidos estão bem informados sobre isso. Os combatentes do Ei teriam que lutar muito para vencer esse poder. Os refugiados, por um lado são contra o regime e por outro sentem-se fortemente ameaçados pelos militares do EI. Silenciosamente, os Estados Unidos não pretendem derrubar de vez o EI porque têm outros interesses econômicos" é o que afirma Thomas Pierret.

Contudo há analistas que ainda acreditam na possibilidade de uma retomada de acordo diplomático como o professor Joseph Maïna. Mas então nos perguntamos porque acrescentar mais tragédia aos 4 anos que já geraram tanto sofrimento? De agosto de 2012 até maio de 2014, a ONU e a liga árabe tiveram um delegado para fazer essa mediação, senhor Lakhdar; houve reuniões em Genebra e nada se conseguiu para terminar com esse derramamento de sangue. Sobre isso Joseph Maina afirma que "ninguém quer perder a batalha e acham que a paz virá com um vencedor e um perdedor".

Teerã procura conciliação

Em contrapartida Teerã está muito aberta ao diálogo com todas as potências. "Parece que Teerã e Moscovo têm os mesmos objetivos, embora usando estratégias diferentes. Seu interesse consiste em manter o melhor possível todo o território sírio sem os EI, o acesso ao Mediterrâneo, preservando os chiitas do Iraque, os alauitas da Síria e os chiitas do Líbano que integram o Hezbollah" afirma Maina.

Os americanos, de braço dado com a Inglaterra, continuam interessados que sejam retomadas as negociações de Genebra quanto antes. A França está com alguma dificuldade em "colocar alguma água no seu vinho", também por interesse político. Agora, o delegado sírio para as negociações, afirma que "o que nos preocupa agora é vencer o EI".

Enfim o caminho de negociação será lento e complicado porque estamos perante o grande monstro de empasses de caráter militar, diplomático e humanitário. Mesmo vendo que o EI continua a ocupar cada vez mais posições, não se vê nenhum caminho para negociação. Os russos aparentemente se interessam pela diplomacia visitando outros países vizinhos, o mesmo que faz o diplomata de Damasco, mas nada de novo aparece.

Na verdade o interesse russo é manter a fachada do regime de Assad com nova decoração, mas sem atender às demandas dos sírios rebeldes que acreditavam na primavera árabe. Como desmontar um poder que se mantem irremovível há 40 anos sobre estruturas alauitas? O regime de Assad está muito enfraquecido desde que suas bases militares foram ocupadas e a base de apoio político social se enfraqueceu.

Agnès Rotivel avec Benjamin Quénelle (em Moscovo)

 

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