Por Marcelo Belchior
Imersos em um período de estremecimento das conversações para os acordos de paz, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram um novo cessar fogo. No último dia 20 de julho, a guerrilha recuou em um processo de ataque bilateral, que resultou na recente morte de soldados do Exército colombiano, mortes de civis, prejuízo para milhares de moradores de diversas regiões colombianas e violentos bombardeios sobre acampamentos das forças insurgentes, resultando na morte de dezenas de guerrilheiros. O anúncio dá uma trégua ao que é considerado o pior momento do processo de paz.
Nos cinco meses da trégua anterior, os números da guerra declinaram tanto quanto nos anos 1980, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Por sua vez, os últimos dois meses são até agora considerados pela entidade os mais sangrentos desde 2010. Em resposta a ataques anteriores, no último dia 22 de maio, as Farc haviam suspendido o cessar fogo unilateral indefinido que haviam decretado cinco meses atrás. O governo colombiano, por sua vez, também havia retomado os bombardeios, que tinham sido suspensos em março deste ano, como um gesto de reciprocidade, para avançar na desarticulação do conflito armado.
O cessar fogo decretado nesta semana deve se manter por um mês. A iniciativa por parte das Farc se deu após intervenção dos Governos de Cuba, Noruega, Chile e Venezuela, que fizeram um chamado para que fossem tomadas medidas que diminuíssem a intensidade do enfrentamento do conflito armado. Os governos desses países dizem acreditar que há condições para que haja um cesse bilateral definitivo.
Neste último ano, o processo de negociação de paz entre a guerrilha e o Estado passa por forte tensão, gerando dúvidas quanto à continuidade do diálogo, instalado há três anos, em Havana, capital de Cuba. Enquanto o governo colombiano responsabiliza as Farc por uma série de ações violentas, a insurgência persiste em que haja um acordo a partir do que versa o Direito Humanitário Internacional (DIH), que rege os conflitos internos dos países com um conjunto de leis que protege as pessoas em tempos de conflito armado.
NÚMEROS DO CONFLITO NOS DEPARTAMENTOS
- Antioquia
25 de abril e 31 de maio: guerrilheiros das FARC incineraram dois ônibus em Toledo e Ituando, caso que se repetiu em 17 de junho, entre Dabeiba e Mutatá.
23 de maio: bombardeio da Força Aérea Colombiana em Alto de la Cruz, Segovia, mata 10 guerrilheiros das Farc.
- Caquetá
10 de junho: guerrilheiros das Farc dinamitaram uma torre de energia que conecta os Departamentos de Huila e Caquetá, e deixaram sem luz 450 mil habitantes por quase dois dias, em 16 municípios.
22 de maio: combates entre Exército e as Farc, em San Vicente del Caguán, resultaram em uma morte.
- Cauca
10 de junho: em Patía, supostos guerrilheiros das Farc dinamitaram um trecho da via Panamericana, ação que se repetiu em 28 de maio.
05 de junho: Farc detonaram uma carga explosiva em um trecho da via Panamericana, em Piendamó.
- Chocó
21 de maio: Força Aérea bombardeia El Arroyo, matando quatro guerrilheiros.
- Guaviare
22 de junho: FARC dinamitaram torre de energia, deixando população pela segunda vez sem luz.
- Huila
06 de junho: guerrilha ativou explosão em uma fonte de água potável, em Algeciras, afetando pelo menos 13 mil pessoas.
- Meta
16 de junho: guerrilha queimou ônibus em San Juan de Arama.
02 de junho: Farc dinamitaram um trecho de estrada entre Meta e Guaviare.
- Nariño
21 de junho: Farc derramaram 410 mil galões de petróleo no aqueduto que abastece Tumaco, afetando cerca de 150 mil pessoas e causando o pior dano ambiental dos últimos 10 anos na região.
16 de junho: sete civis foram feridos em atentado das Farc contra a polícia.
11 de junho: atentado da guerrilha a oleoduto causou incêndio e contaminou rio.
08 de junho: explosão em oleoduto contaminou rio e deixou 7 mil habitantes sem água.
03 de junho: 125 famílias de López de Mucay se deslocaram, fugindo de ação das Farc.
02 de junho: guerrilha derrubou torres de energia e deixou 250 mil moradores sem luz.
29 de maio: ataque das Forças Militares colombianas às Farc matou um civil e feriu adolescente grávida.
- Norte de Santander
02 de junho: ataque das Farc contra a polícia matou um agente policial. Farc dinamitaram torres de energia no município El Carmen.
- Putumayo
11 de junho: casas de civis foram atingidas por ataque das Farc a uma estação policial.
08 de junho: ação das Farc de derramamento de petróleo.
- Valle del Cauca
31 de maio: Farc dinamitaram torre de energia e 400 mil habitantes ficaram sem luz por três dias.