Retrocesso na mesa de negociação. Povos indígenas no Mato Grosso do Sul

Egon Heck

Em sua quinta reunião, a mesa de negociação tão decantada pelo Ministro da Justiça, transformou-se numa mesa de decepção e retrocesso.

Os representantes do governo do Estado do Mato Grosso do Sul, foram logo deixando claro a mudança de posição com relação à Terra Indígena de Buriti. "Não existe mais terra a ser comprada com os Títulos da Dívida Agrária. Portanto nada feito com relação aos 16 mil hectares que seriam comprados pelo governo federal e pagos pelo governo estadual".

O geógrafo Umbelino de Oliveira, em estudo sobre a situação fundiária no Mato Grosso do Sul, constata, a partir dos dados do INCRA, a existência de 5 milhões de hectares de terras devolutas no Estado. Cadê essa terra?
"Isso mostra claramente que não existe interesse por parte do estado em resolver o problema." Uma das presentes, que não é membro da Comissão, teria logo acrescentando "temos que ir para o plano B". Ou seja, o único caso que parecia estar resolvido, retrocedeu e na próxima reunião, daqui há 15 dias, a assessoria jurídica terá que apresentar outra alternativa. Outros prazos e propostas postergarão indefinidamente qualquer solução efetiva. "Tudo voltou à estaca zero" afirmaram as lideranças participantes

Como há 513 anos

A maior surpresa da reunião foi a presença de três pessoas de uma mesma família trazendo consigo três lideranças Kaiowá Guarani. Ficou evidente que a velha estratégia de dividir o povo, para provocar conflitos internos, estratégia dos invasores há mais de cinco séculos, continua sendo utilizada.

O grupo responsável pelo levantamento de terras que poderiam ajudar a encontrar saídas juridicamente cabíveis, integrado pelo INCRA e governo do MS, simplesmente comunicou que não fez o levantamento pois não existem terras disponíveis no Estado.

Diante da manifesta falta de boa vontade do governo estadual, resta aos povos indígenas, suas comunidades e organizações encontrarem os melhores caminhos para terem seus direitos respeitados e as violências físicas, culturais e psicológicas erradicadas.

"Foi muito frustrante. Cada vez que vou numa reunião dessas saio com dor de cabeça", desabafou um dos indígenas participantes.

A dor em chamas

Enquanto isso o sofrimento, a violência e destruição continuam no chão manchado de sangue indígena, no Mato Grosso do Sul.

Mais uma vez a cacique Damiana e seu povo à beira da estrada, se veem envoltos na dor da terra negada e agora novamente seus barracos queimados pela insana ganância da cana. A usina São Fernando arrenda as terras que envolvem o acampamento, para o plantio de cana. Mesmo as chamas não apagam a esperança da guerreira e sua gente, de um dia voltarem novamente para seu tekohá-terra tradicional.
Esse provavelmente é o acampamento que mais tem sofrido em termos de mortes por atropelamento, queima de casas, expulsão por várias vezes nesses mais de quinze anos na beira da estrada.

O diretor da Survival, Stephen Corry, disse hoje, ‘Os povos indígenas do Brasil são constantemente sacrificados em nome da ganância, suas vidas perdidas na busca do crescimento econômico a qualquer custo humano. Os Guarani têm o direito de voltar às suas terras, mas em vez disso, são forçados a sofrer uma vida de imundície na beira da estrada.' (Cimi-27/08/13)

Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi Brasília 29 de agosto de 2013

Fonte: Egon Heck / Revista Missões

Deixe uma resposta

1 × três =