Karla Maria, em Porto Velho
"Acorda América chegou a hora de levantar". Sob este grito, na tarde do segundo dia do 12° Intereclesial das CEBs, os participantes caminharam em memória dos mártires. O local do encontro é conhecido como o ponto de bate estaca, à 3km de uma das primeiras comunidades católicas de Porto Velho.
A caminhada dos mártires, organizada pelos setores regionais Norte I e II foi um momento de retomar a história de lutas dos mártires como Ir. Dorothy, Santo Dias, padre Ezequiel Ramin, dom Oscar Romero, padre Josimo, Chico Mendes, Ivair Higino, dom Helder Câmara, João Canuto, Ir. Maristela entre tantos outros.
Os delegados percorreram os três quilômetros de estrada de terra, passando por famílias ribeirinhas, pelo Cemitério Santo Antônio e pela mata. Tudo isso, em pouco tempo, poderá ser alagado pelo lago formado pela barragem da usina hidrelétrica de Santo Antonio.
Durante a caminhada, um caminhão com trabalhadores locais, observava os peregrinos das CEBs. Segundo um dos trabalhadores que não quis se identificar, eles estavam ali há duas semanas refazendo as calçadas, o jardim que lájea a rua e cemitério, só para acolher o 12° Intereclesial. As obras estão inacabadas, o que se vê são pedras por todos os lados.
Mas o caminho não era só de pedras, havia também cansaço e calor. O céu estava azul e ao horizonte podia-se observar o Rio Madeira já rodeado de máquinas, homens e mulheres num grande canteiro de obras. Ouve-se um estrondo e uma nuvem de poeira subiu ao céu: era mais uma explosão para remover as rochas na construção da usina que não para.
Sob a brisa do rio e o pôr-do-sol no Madeira, aconteceu o momento da "Reconciliação: entre Deus, a humanidade e o cosmo", o rito da água e a Proclamação das Bem Aventuranças. Um momento histórico na vida dos representantes das mais de 272 dioceses espalhadas por todo o Brasil, momento de testemunhar in loco o descaso do homem para com a natureza. "Eu fico triste com a ação dos nossos políticos, eles são os grandes responsáveis por estas decisões", afirmou José Maciel, delegado da diocese de São José dos Campos, do Regional Sul 1, ao se referir à construção da usina hidrelétrica de Santo Antonio,. "A gente percebe que além da devastação, esta obra vai empobrecer a comunidade local", arrematou.
Para a cearense Maria Aparecida de Alcântara, que veio de Capuí, o dia foi marcante. "Nós de todo o Brasil temos gritos semelhantes, podemos fazer um paralelo e refletir sobre as lutas aqui na Amazônia, a gente fala do pulmão da Amazônia e sabemos que a nossa parcela de culpa é grande. Com essa caminhada dos mártires nós fazemos o fechamento do dia lindo, a natureza favorece e faz deste momento, um momento muito especial", disse.
A chuva apareceu durante a Proclamação da Palavra, mas não abalou os peregrinos que se mantiveram firmes até o final da celebração penitencial.
Fonte: Revista Missões