O sol no abismo sombrio

Geovane Saraiva *

No dia 13 de março de 2013 a esperança renasceu. O início do sol começou a chegar no local mais sombrio e tenebroso do abismo existencial e da iniquidade social, com a eleição do Papa Francisco. Suas próprias palavras: "Senhor, dai-nos a graça de chorarmos pela nossa indiferença, pela crueldade que existe no mundo e em nós". É a profecia do pastor dos empobrecidos, Dom Helder Câmara, que continua viva e indicando que Deus é invencível, na seguinte afirmação: "Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo".

Francisco não esconde que a sua missão passa pela cruz, quando afirmou: "Não podemos esquecer que o verdadeiro poder é o serviço e que o papa, para exercer o poder também deve entrar cada vez mais nesse serviço que tem o seu cume brilhante na Cruz". Ele, na qualidade de Sucessor de Pedro, é inigualável na clareza do mundo, que desde a antiguidade cultuou bezerro de ouro e nele encontrou uma nova imagem. A imagem do fetichismo do dinheiro e a ditadura de uma economia que não tem face, rosto e coração, deixando claro que hoje a pessoa humana não é nada. Hoje, quem manda é o dinheiro e deus é mercado. Agora, nesse grande teatro de grandes atores, temos o Santo Padre que nesses dois anos de sua eleição, vem contrariando tal realidade. Sua santidade, o papa Francisco, alimenta o sonho de um mundo fraterno e solidário, no qual as pessoas estejam no centro e sejam atores da sua própria história. Ele fala de uma Igreja comprometida e despojada, que cuida da criação, na seguinte assertiva: "Nós somos guardiões da Criação, do projeto de Deus inscrito na natureza. Guardiões do outro e do meio ambiente. A pessoa humana está em perigo: eis aqui a urgência da ecologia humana!".

O papa foi contundente no dia 05 de março de 2015, ao participar da Assembleia Geral da Academia Pontifícia para a vida, com o tema: "A assistência ao idoso e cuidados paliativos", recordando no seu discurso o quarto mandamento: honrar pai e mãe, no qual o Senhor nos faz duas promessas: "Para que se prolonguem os teus dias" e para que "sejas feliz". Ele ainda falou com veemência do tema da inclusão social: Abandonar o idoso é a maior doença. Alhures Francisco disse algo semelhante: "A Europa está cansada; devemos ajudá-la a rejuvenescer". Neste sentido, o Santo Padre sublinhou que cumprindo este mandamento, estamos valorizando a "fundamental relação pedagógica entre pais e filhos, idosos e jovens". Em Francisco temos a mais absoluta certeza que o amor de Deus é infinitamente maior, porque percebemos nas suas generosas iniciativas, transbordar por toda a terra a bondade do Senhor (cf. Sl, 32, 5).

Segundo Dom Helder, "Quando os problemas são absurdos, os desafios se tornam apaixonantes" e como Francisco, alimenta a incomensurável paixão nos estigmas de homens e mulheres nos nossos dias. São os abismos enormes e profundos do sofrimento, da exclusão social, da dependência química, da autossuficiência e carência de toda natureza, mas essas pessoas mesmo sem ter amor para dar, difundir e semear, são não só imprescindíveis aos olhos de Deus, mas queridas e amadas pelo mesmo Deus e Pai. Daí a necessidade de um convencimento sempre maior de que no alimento do "pão do céu" é que experimentamos a mística do compromisso, no afirmação de Santo Padre: "Quem se nutre com a fé de Cristo Pão vivo, é impulsionado a dar a vida pelos irmãos, a ir ao encontro de quem é marginalizado e desprezado".

"Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador e mais aberto a Deus. Ter um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs. No fundo, é ter um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro". Que sábias palavras de Francisco nos ensine a render graças ao bom Deus e, nos seus gestos e atitudes, aprender sempre mais a ter olhar de compreensão e misericórdia diante do enorme abismo em que se encontro o mundo, para que a humanidade possa descansar em paz, pela derrota de todos os males que contrariam a vontade de Deus.

* Geovane Saraiva é escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE - geovanesaraiva@gmail.com

Fonte: Revista Missões

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